Homem
comum, tentando mudar alguma coisa em sua vida de dias tão iguais, decide
raspar o bigode. Com isso pretendia, além de mudar algo em si mesmo,
surpreender as pessoas. No entanto, o único surpreso foi ele mesmo: ninguém
percebeu a mudança. Pior, todos afirmaram veementemente que ele não usava
bigode há anos. Seria fingimento? Brincadeira de mau gosto? Sonho? Delírio?
A
história começa com Marc, o
protagonista, perguntando à esposa, Agnes,
o que ela acharia se ele raspasse o bigode. Ela responde que seria uma boa
ideia e então vai ao mercado. Quando retorna, Marc evita olhá-la diretamente,
antecipando sua reação de surpresa, deliciando-se com os bons momentos que
teria ao explicar aos amigos os motivos da mudança. Entretanto, Agnes não nota
nada de diferente. Sabendo de seu espírito brincalhão e conhecendo sua grande
capacidade de sustentar uma mentira, ele não fala nada, pois estava certo de que,
no jantar, os amigos não deixariam de perceber. Ao chegar à casa dos amigos,
mais uma vez ninguém menciona a ausência de seu bigode. Teriam eles combinado a
farsa?
Descobri
esse livro por acaso, depois de ler comentários sobre o filme. Achei
interessante e fui atrás de ambos. O livro é narrado em terceira pessoa, apesar
de o tempo todo vermos as coisas pela ótica de Marc. Conhecemos seus
pensamentos, partilhamos de suas dúvidas, sofremos das mesmas angústias. Ao
raspar o bigode, Marc abre mão não apenas de tufos de pelo, mas de sua
identidade. O que seria apenas um ato corriqueiro se transforma em uma história
carregada de tensão psicológica, na qual vemos Marc duvidar da sanidade da
esposa, questionar a própria lucidez e imaginar um complô persecutório. Mesmo
depois de finda a última página, não há certeza sobre o que aconteceu.
Quanto
ao filme (que sabe-se lá porque cargas d’água resolveram chamar de “Amor Suspeito”), é superfiel ao livro e
nem poderia ser de outra forma, já que o autor é também roteirista e diretor da
adaptação cinematográfica. As poucas mudanças foram feitas por necessidade e,
de certa forma, melhoraram ainda mais a trama. A contraposição entre a intensa
música clássica da trilha sonora e o silêncio completo de algumas cenas é um
ponto forte do longa. O final é diferente, mas, neste caso, não importa, já
que, como no livro, ao subirem os créditos de encerramento, as interrogações
permanecem. E você se pega tentando juntar as peças, pensando se perdeu alguma coisa...
Enfim...
livro e filme são muito bons. Recomendo fortemente, mas passe longe se imaginar desfechos, elaborar teorias e discutir hipóteses não é sua praia. Vá fundo se gostou dos delírios de "A Metamorfose" e "Crime e Castigo".
3 comentários:
Oi, Michelle :) Eu fiquei sabendo do livro em outro blog, mas ainda não achei pra ler. Tem um tema bem distinto.
Porém, não sabia que havia um filme e gostei de conehcê-lo.
Bjs ;)
Oi, Mi! Que história curiosa...! Não conhecia este livro/filme, mas imagino que deve ser daqueles que te deixam com a pulga atrás da orelha muito depois de ter terminado.
bj
Ana,
A edição mais recente do livro é de 2002. São poucas páginas, mas elas te arrastam para dentro da história. Vale muito a pena!
Júlia,
Isso mesmo! Há várias interpretações. É daqueles para passar horas discutindo com os amigos.
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