1923. Evangeline chega à antiga cidade asiática de Kashgar com sua irmã Lizzie e a missionária-chefe Millicent em uma ação evangelizadora.
Enquanto Millicent tenta conseguir novos fiéis e Lizzie registra tudo com sua
câmera fotográfica, Evangeline faz anotações que pretende transformar em um
guia para ciclistas.
Dias atuais, Londres. Frieda abre a porta de seu apartamento
e dá de cara com um homem desenhando pássaros na parede do corredor. No dia
seguinte, ele se foi. Pouco tempo depois, Frieda recebe notificação para
esvaziar o apartamento de uma parente falecida que ela nem sabia que existia.
Como
essas histórias se entrelaçam? Só lendo o livro para saber...
“Vejo
coisas. Vejo quartos com meninas adormecidas junto às suas máquinas de costura
e um galpão imundo que chama de hospital, com duas camas de metal e lençóis
sujos. Ruas bem diferentes daquelas de estilo chinês; são cheias de muçulmanos,
carretas puxadas por burros, carne de carneiro e pão, um universo muito
distante de Pequim. Vejo comerciantes, homens do mercado, e ouço várias
línguas: altaico, uzbeque, cazaque, quirguiz, turcomano, chinês, russo e
árabe.”
O
trecho acima dá uma ideia do que esperar do livro: uma grande mistura de povos,
ideias e religiões. Kashgar é uma
cidade chinesa localizada na antiga Rota
da Seda e faz fronteira com a Rússia e com a capital do Paquistão. É uma
zona política importante em que há muitos conflitos.
Não
quero falar muito da história (mesmo porque seria impossível). A intenção aqui
é apenas passar minhas impressões de leitura. O que posso dizer é que o trio de
missionárias se envolve em um sério incidente diplomático logo no início da
viagem, o que coloca em risco não apenas a missão, mas também a vida das
mulheres e de quem as ajudasse.
Já
na parte da história que se passa nos dias atuais, Frieda se esforça para descobrir
quem era a dona do apartamento herdado enquanto tenta dar um rumo à sua vida e
procura uma forma de ajudar Tayeb, o
imigrante ilegal que desenha pássaros. Como se isso não fosse trabalhoso o suficiente,
um dos itens herdados por Frieda é uma coruja!
O
que me atraiu nesse livro foi justamente a mistura étnica e religiosa, a
possibilidade de conhecer um pouco mais lugares exóticos e muito distantes dos
quais não sei praticamente nada. A ideia de ver esses lugares pela perspectiva
de uma personagem que explora o mundo montada em uma bicicleta me pareceu
interessante.
E é
por isso que me decepcionei um pouco com a parte do livro sobre a missão
evangelizadora. A narrativa acaba sendo mais focada nas questões
políticas/diplomáticas e nas divergências entre as 3 mulheres. A exploração dos
lugares acaba ficando em segundo plano, já que na maior parte do tempo elas estão confinadas em algum lugar enquanto aguardam o julgamento e/ou
ajuda da missão para poderem sair da região.
Já a
parte da história que se passa na Inglaterra se mostrou bem mais empolgante,
com muitos mistérios envolvendo o passado da protagonista e os propósitos de
Tayeb, além de situações divertidas criadas pela interação com a coruja.
O que pude perceber foi que o sentimento comum aos personagens de ambas as histórias é o de solidão e de
não-pertencimento ao lugar onde estão. Mesmo na Londres contemporânea, as
pessoas continuam isoladas e relutantes em aceitar tudo o que é diferente e
querem expulsar os "invasores" que têm hábitos, línguas e ideais
distintos. Na época das missionárias, a coisa era ainda pior, pois, além de estarem
em uma terra estranha, na qual a comunicação era complicada, elas tinham que
enfrentar preconceitos por serem mulheres viajando sozinhas - um verdadeiro
insulto aos costumes locais.
“Guia de uma ciclista em Kashgar” é um
livro difícil de classificar e um pouco diferente do que eu esperava, mas ainda
assim foi prazeroso acompanhar a história de personagens tão distintos. É um
livro que dita o ritmo de leitura, que para mim foi bem lento. As pistas que
ligam uma história à outra são espalhadas ao longo da trama e durante a leitura
fui elaborando várias teorias enquanto tentava montar o quebra-cabeça. No
entanto, só nas 50 páginas finais é que ficou clara para mim a relação entre os
personagens.
Preciso
falar que achei lindíssima a capa com a ciclista atravessando cidades sobre uma
pena de pavão e que gostei muito dos mapas do "Inferno" e do "Paraíso"
colocados nas capas internas. Os mapas são apenas citados na história, mas foi bacana terem colocado no livro para consulta.
(Clique para ampliar) |
Imagino
que seria uma boa história a ser adaptada para o cinema.
Este livro foi lido como parte da parceira com a Intrínseca.
2 comentários:
Ao começar a ler sua resenha, o que me pareceu mais intrigante foi a própria cidade, da qual nunca tinha ouvido falar. E mesmo você dizendo que essa parte é pouco explorada, me pareceu um livro bem curioso.
Mesmo a cidade sendo menos explorada do que eu gostaria, continua sendo interessante. É um livro bom para variar o estilo de leitura ;)
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