O LIVRO: COSMÓPOLIS
Eric
Packer é um multimilionário de 28 anos que mora em um triplex de 48 cômodos em
Nova York. Representante da jovem geração que criou empresas e fez fortuna com
apenas 1 computador e uma mente visionária, ele passa seus dias dividido entre
reuniões com sua equipe e seus caprichos hedonistas. Certo dia, Eric decide
cortar o cabelo em um barbeiro que fica a algumas quadras, mas era um dia de
caos em NY e Eric leva o dia todo para percorrer uma distância de 10
quarteirões. Nesse curto período de tempo e no limitado espaço de sua limusime,
a vida de Eric será transformada completamente.
Eric
é um personagem interessante e repugnante. Um daqueles meninos mimados com
dinheiro de mais e regras de menos. Os milhões que ele foi capaz de ganhar em
poucos anos o tornaram egocêntrico e arrogante. Ele está sempre entediado,
procurando algo novo que chame sua atenção e o arranque da monotonia de sua
vida. Para ele, seus funcionários são tão insignificantes que não merecem nem
ser olhados na cara. Mesmo aqueles que não trabalham para ele não são dignos
de seu interesse. Nem mesmo sua esposa, que conhecemos brevemente, entre uma
negociação e outra, entre um encontro casual e outro. Para Eric, é apenas mais
um negócio, uma questão de cifras.
Toda
a história se passa em apenas um dia e dentro do carro de Eric. O automóvel
enorme e personalizado é uma extensão do escritório do personagem. É nesse
ambiente fechado e claustrofóbico que Eric realiza as reuniões de negócio com
sua equipe. Cada especialista vai sendo pego pelo caminho, entra, dá seu
parecer e sai, para dar lugar a um novo membro daqui a alguns metros. É também
dentro do carro que Eric tem seus encontros sexuais e faz seu check-up de saúde
diário. Tudo muito prático e surreal. Por que então uma pessoa que tem todas essas
facilidades à mão se sujeitaria a atravessar a cidade para cortar o cabelo?
Como
descobrimos em determinado momento, o barbeiro não é uma pessoa qualquer. É o
elo de ligação de Eric com seu passado, com o que resta de sua humanidade.
Durante o trajeto de um dia, a aura de magnânimo se desfaz, ao mesmo tempo em
que perde seu dinheiro, afeta a economia e arrasta para o buraco milhares de
pessoas. Eric enfrentará sua decadência e miséria ao reencontrar o passado e enfrentar
um homem misterioso.
“Cosmópolis”
é um retrato alegórico e em cores berrantes da nossa realidade. Reflete, de
modo bruto e ampliado, a ferocidade das relações nos grandes centros urbanos e
a frieza do código de conduta social, a violência com que os poucos
endinheirados empurram os desafortunados para fora do alcance de sua visão, a
tecnologia servindo como ferramenta de aumento do abismo social, os levantes
isolados contra o sistema opressor, a cultura do imediatismo, do maior e mais
caro.
“Queria
o carro porque ele era não apenas excessivamente grande como também
agressivamente, ofensivamente grande, grande como uma metástase, um objeto
tremendo, mutante, que atropelava todo e qualquer argumento que se levantasse
contra ele”.
Uma crítica contundente à nossa sociedade capitalista atual. Recomendo!
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O FILME: COSMÓPOLIS
À
primeira vista, a trama pode não parecer tão bizarra quanto as histórias
geralmente filmadas por Cronenberg, mas conforme vamos acompanhando seu
desenrolar, percebemos tristemente que sim, a realidade (ou a visão de um
futuro próximo) pode ser assustadoramente triste e estranha.
Eric e seu indefectível carrinho |
O
filme capta bem o clima pesado e claustrofóbico do livro. Com certeza deve ter sido um desafio rodar quase todo o filme
em um espaço tão confinado. O lado bom é que toda a atenção é voltada para o
texto. O que os personagens dizem é muito importante. Aliás, quando Eric (Robert
Pattinson) conversa com alguém dentro do carro, quase nunca vemos duas
pessoas na tela. É mostrado um personagem por vez. Isso funciona bem, já que
parece que cada um está fazendo seu próprio monólogo, o que faz todo sentido,
pois os personagens são mesmo centrados em seu próprio raciocínio, reforçando a
ideia do individualismo e isolamento.
Tentando fazer contato com a esposa |
Como
no livro, fica claro que os especialistas que trabalham com Eric morrem de medo
de decepcioná-lo, evitam dizer o que realmente pensam para não fazer papel de
ridículo, para não perder o respeito do todo-poderoso. Uma das poucas pessoas
que ousa falar a verdade a Eric e mostrar a ele o quanto está sendo ridículo é
sua amante que trabalha na galeria de arte (vivida por Juliette Binoche).
E recebendo uma das amantes |
Os
encontros de Eric com sua esposa, Elise
(Sarah Gadon), evidenciam o
quanto eles são diferentes: enquanto ela é uma herdeira de família tradicional,
culta e tímida, ele é o típico novo rico, que adora se exibir e comprar coisas
só pelo valor das aquisições. Não há dúvidas de que a união foi um negócio
arranjado entre Eric e os pais de Elise e que ela está totalmente perdida e
infeliz em seu papel. Mesmo assim, ela tenta se aproximar de Eric, conhecê-lo.
No entanto, ele só quer levá-la para cama, fazer dela mais um número em sua
lista de mulheres que estão sempre disponíveis para satisfazer seu desejo
sexual infinito. Quando ele tenta estabelecer uma conversa e fazer um elogio,
percebe-se logo que não leva jeito para a coisa. Para ele, mulheres = sexo.
Apenas.
Finalmente cortando o cabelo! |
Gostei
de acompanhar na tela a transformação de Eric e o desmoronamento de sua vida e
de seus valores, apesar do ritmo lento e às vezes entediante do filme. Nesse sentido, a leitura foi bem mais dinâmica. E adorei
o encontro final com o homem ameaçador misterioso. Paul Giamatti dá show
mais uma vez e se destaca, mesmo que seu personagem fique em cena tão pouco
tempo. E é então que percebemos que até no fracasso Eric tem que ser o melhor.
Realmente incrível.
E fazendo drama junto ao homem misterioso |
Para
fãs de Cronenberg e pessoas que não se incomodam com filmes lentos.
Veredicto: Leia o livro e veja o
filme.
Confira o trailer!
Adorei a temática da história, confesso que não conhecia nem livro e nem filme, mas ando impressionada com a quantidade de adaptações de livros para o cinema, eu pergunto se sempre foi assim?
ResponderExcluirAnotada a dica!
abraços
Michelle, na época em que saiu o filme fiquei muito curiosa pra ler esse livro, mas foi passando o tempo e deixei pra lá. Agora você reacendeu essa vontade. Acho que pensar nessas questões atuais é sempre bom, e o mundo está mudando tão rápido que quando você começa a pensar ele já mudou.
ResponderExcluirTenho esperanças nesse menino sabe, não sei, algo me diz que ele vai seguir uma trajetória semelhante ao DiCaprio. Oremos! hahahaha
Beijo!
Sempre que eu entro aqui eu me deparo com alguns dos meus filmes preferidos.
ResponderExcluirAno passado fui ver "Cosmópolis" no cinema e saí completamente besta e apaixonada. Adorei a atuação do Pattison e até mesmo o clima arrastado do filme.
Comprei o livro, e assim que finalizar a leitura, vou rever o filme. Acho que não é um daqueles que você pega tudo na primeira vez.
Beijos, MiG!
Oie
ResponderExcluirEu adoro filmes lentos, mas a curiosidade bateu para ler o livro, e apesar do filme trazer o Robert -lindo- Pattinson, eu quero ler antes de assistir.
Deu nervoso só de pensar no moço "vivendo" dentro do carro. E achei super interessante a abordagem do autor, em fazer uma história que se passa em 1 só dia, mas que gera uma trama interessante.
bjos
Já tive muita vontade de ler esse livro e agora ela aumentou. Acho interessante essa estrutura onde o personagem tem um caminho a seguir, mas as coisas vão chegando a ele e modificando o que ele é.
ResponderExcluirbjs,
Maira
Melissa,
ResponderExcluirEu acho que sempre foi assim, mas a gente não fazia ideia. Pelo menos aqui no Brasil, antes da internet era difícil conseguir informações sobre livros que viraram filmes. Poucos livros que ganharam as telas chegaram às livrarias (ou chegaram e a gente não sabia). Agora eu acho que quase todo filme baseado em livro traz o lançamento da história impressa a reboque.
Tati,
Não conheço a carreira do Pattinson. Esse é o segundo filme que vejo com ele (o 1o foi Água para Elefantes e não achei grandes coisas, mas o filme também não me agradou, então...). O Leo eu sei que sempre foi talentoso, depois teve uma fase de galã e só fazia filmes ruins, e nos últimos anos finalmente voltou a escolher bons projetos. Tomara que com o Pattinson ocorra o mesmo.
Michelle,
Eu achei arrastado, mas penso que isso foi intencional, para mostrar o carro se arrastando pelas ruas o dia todo, as pessoas se arrastando pela vida, essas coisas. Mas tem gente que não gosta de filme parado, então eu sempre aviso, para evitar decepções desnecessárias, né?
Jacque,
Se você aprecia ritmos mais lentos, então há grandes chances de você gostar de "Cosmópolis". A história é bem interessante sim.
Maira,
Exato. A jornada de transformação do personagem é bem dura. Eu gostei.
Eu estava procurando algo sobre Cosmópolis, e encontrei este blog, claro que já deixei na minha lista, porque simplesmente amei tudo. Me ajudou muito na minha pesquisa.
ResponderExcluirOi, Yanny.
ResponderExcluirBom saber que ajudei de alguma forma. Volte sempre ;)