No dia de seu aniversário de 18 anos, Leonard Peacock planeja matar seu ex-melhor amigo com uma arma herdada do avô e se matar em seguida. Mas, antes disso, precisa entregar quatro presentes, um para cada pessoa importante em sua vida, para que não se culpem e não se esqueçam dele. Assim, ele pensa, deixaria de ser um cara tedioso e normal, ou seja, deixaria de ser invisível.
Leonard Peacock é fruto de uma família
disfuncional: seu pai foi um músico em uma banda de rock mediana que fez
sucesso com 1 música só, se afundou nas drogas e bebidas e saiu do país devido
a uma enorme dívida em impostos; sua mãe é uma estilista que engravidou muito
jovem (seduzida pela breve fama do pai de Leo) e que agora tem uma segunda
chance de decolar na carreira e, por isso, mora em NY com o namorado francês,
enquanto deixa Leonard vivendo sozinho na Filadélfia.
Fica
claro, desde o início, que Leonard é muito solitário e desesperado por atenção.
No dia de seu aniversário, a tristeza por ser um zero à esquerda é ainda mais
opressiva, pois ninguém lhe dá os parabéns (embora as pessoas não soubessem que
era aniversário dele), e isso o chateia muito. Sua família é, sem dúvida, parte
fundamental de seu processo autodestrutivo. Principalmente a mãe, que ele culpa
por não tê-lo ouvido no caso que envolveu o ex-melhor amigo, Asher.
Aliás,
não sabemos o que aconteceu entre Asher e Leonard, só que foi algo sério e que
transformou para sempre a relação dos dois. Vamos montando o quebra-cabeça aos
poucos, conforme Leo vai relembrando sua infância e contando como conheceu cada
uma das quatro pessoas que ele chama de “amigos”. Não são de fato amigos, e sim
pessoas que eram tão invisíveis quanto ele ou que também enfrentavam dificuldades
por serem diferentes, e a quem Leonard se agarra na esperança de preencher o vazio que traz em seu peito.
Matthew Quick criou uma história
sensível e triste, mas que consegue ter seus momentos de leveza e diversão
graças ao tom irônico usado por Leo. A trama trata de pessoas desesperadas que
imploram por ajuda de forma silenciosa, emitindo sinais que muitas vezes não
são captados. De um jeito muito simples e eficaz, o autor fala sobre suicídio,
problemas familiares, religiosidade, preconceito racial, intolerância, abuso
sexual. Ele consegue, ainda, criticar duramente a mentalidade americana e a
“lógica do avestruz” daqueles que preferem enfiar a cabeça na terra para não
ter que encarar a realidade nem ter seu sonho arruinado.
Quanto
à forma, adorei o recurso de notas de rodapé com as observações mordazes de
Leonard. As cartas do futuro, cuja escrita foi recomendada pelo professor
preferido de Leo, também são interessantes. No começo, não dá para entender
muito bem o que elas fazem ali entre um capítulo e outro, mas no decorrer da
leitura descobrimos sua função. O monte de referências literárias,
cinematográficas e da cultura pop em geral é uma atração a mais para quem curte
esses temas. Meu personagem preferido, aliás, é Walt, o vizinho idoso com quem Leo estabelece um ritual de diálogo peculiar usando frases de diversos filmes de Bogart.
Ao
escolher este livro, eu sabia que obviamente seria triste, mas não imaginei que
o resultado pudesse ser tão agradável. Ao contrário de outras histórias que já
li sobre os assuntos acima, “Perdão,
Leonard Peacock” foi um livro fácil de ler, com uma escrita fluida e com um
personagem principal que consegue transparecer o quanto está perturbado e
angustiado sem ser irritante ou forçado demais. Uma boa comparação é “As Vantagens de Ser Invisível”, que
fala basicamente dos mesmos problemas e é igualmente tocante, mas cujo
protagonista me dava nos nervos. Com Leonard tive uma relação diferente. Desde
o primeiro contato, gostei de como ele conta a história e, mesmo nos momentos de
drama adolescente exacerbado (ou seja, sou o centro do universo e meus
problemas são piores do que os dos outros), minha simpatia por ele se manteve
inabalada.
Este
foi o primeiro livro que li do Matthew Quick e adorei seu estilo narrativo.
Tratar de assuntos espinhosos de forma delicada e interessante não é tarefa
fácil, mas o autor foi muito bem-sucedido. Fiquei com mais vontade ainda de ler
“O Lado Bom da Vida”, cuja história
eu só conheço pelo filme (que não achei aquelas belezas todas, mas que, com
certeza, deve ter tido um material de base muito bom).
Uma
história que emociona sem ser piegas e oferece respiros cômicos nos momentos
certos. Recomendo muito!
" - Mato você mais tarde
- digo para o sujeito no espelho, e ele apenas sorri de volta, como se mal
pudesse esperar.
'Promete?', ouço alguém dizer,
o que me deixa apavorado, porque meus lábios não se moveram.
Quer dizer, não fui eu quem
falou 'Promete?'.
É como se houvesse uma voz
presa dentro do espelho.
Então eu paro de olhar.
Por precaução, quebro o
espelho com uma caneca de café, porque não quero que o eu do espelho fale de
novo.
Os estilhaços caem na pia, e
então um milhão de pequenos eus olham de volta para mim, como minúsculos
peixinhos."
Que legal ! Ótimo saber que ele é um bom ator. Falaram tanto principalmente depois de O lado bom da vida, que fiquei meio resistente, mas parece que vale a pena dar uma chance pro Matthew.
ResponderExcluirbjos
Fiquei muito interessada nesse livro. Adoro essas narrativas irônicas e cheias de referencias, acho que torna o texto fluido e vivo. Vou ter que adquirir esse livro Michelle, rs.
ResponderExcluirSério, gostei muito.
beijo grande,
Maira
Oi Mi, que ótima resenha, deu vontade de ler também.
ResponderExcluirMas eu gostei do Charlie do As vantagens de ser invisível, eu queria o tempo todo abraçar aquele coitado daquele menino, tadinho =~
Oh, eu venho responder antes tarde que nunca, um comentário que vc deixou lá no Cartaz se o "A cor púrpura" seria um livro de superação pro DL: Eu acho que encaixa muito bem no tema! Recomendo ;)
Bjaum
Adorei sua resenha Mi, não sabia nada sobre este livro. Eu gosto de dramas familiares, acho um tema bastante rico. Achei bem legal o recurso das notas de rodapé, fiquei curiosa pra ver!
ResponderExcluirSobre O Lado Bom da Vida, tb achei o filme bem marromeno... só valeu pra ver o Bradley Cooper, ai ai... Mas quero ler o livro, espero que seja melhor.
bjos
O livro já estava na minha lista de "maybe". Mas foi depois da sua resenha que ele entrou definitivamente para minha lista de "quero!". Rs. Acontece que essa lista já está gigante e seria LINDO se eu ganhasse o exemplar... Amém! \o/
ResponderExcluirBjs!
Adorei a resenha. Estou muito curiosa para ler este livro. :)
ResponderExcluiresse livro é muito bom! Como o outro livro do autor sempre tem algo que vamos levar pro resto da vida no meio da história, esse também tem e pela resenha já vi que vou me apaixonar, haha (:
ResponderExcluirMel,
ResponderExcluirEu também fico com o pé atrás quando todo mundo elogia um livro/filme, mas acho que "O lado bom da vida" deve ser bom.
Maira,
Se você gosta de referências e ironias, certeza que vai gostar desse livro.
Cah,
Então... eu comecei a gostar do Charlie no decorrer da história. No início, queria dar uns chacoalhões nele! Ah... obrigada pela resposta!
Sarah,
Eu também sabia bem pouco sobre a história, mas resolvi apostar. Foi uma ótima descoberta!
Bee G.,
Sei bem como são listas gigantes...hehe. Fique na torcida!
Vanessa,
:)
Rosane,
É bem assim, algo para levar para a vida.
O autor me mostrou toda sua habilidade em O lado bom da vida. COm ele me encantei pelo universo diferente de Pat. Deverá ser assim que me apaixonarei tb pelo de Leonard. Sei que poderei entender suas razões, apesar de não aceitá-las. Porque Quick é bom nisso!
ResponderExcluirAcho a sinopse emocionante e forte, especialmente pelo sofrimento que Leonard carrega e que arde dentro dele e ninguém percebe… Quero tanto esse livro!
Como vc ainda não leu outro livro do autor, vale mesmo uma conferida no Lado Bom.
Oi, Michelle!
ResponderExcluirEu tenho até muita curiosa para esse autor, peguei até em e-book "O lado bom da vida" mas ainda não li...
Quando li a sinopse da Perdão, Leonard... fiquei bem mais interessada na história, só comecei a cogitar a ler O lado bom... por que queria ver o filme, acabou que eu não li e não sei quando vou assistir a sua adaptação. Fiquei me coçando para não ir até a livraria e adquirir "Perdão" por que estava sem grana, gosto da temática do livro...
O Charlie também me deu nos nervos, rs, e lendo a sua resenha senti que terei uma relação bem melhor com o Leonard!
Sabe quando você lê uma resenha e tem certeza de que gostará do livro? Pois bem... Tô tendo essa sensação com Perdão, Leonard... :D
Espero poder lê-lo em breve *.*
Beigos!
Achei o livro tão profundo mas quantas vezes isso acontece na vida real, está aqui pra todo mundo ver, nunca li nada desse autor e estou bem curiosa coma a história desse menino solitário, gosto de livros assim que retratam os sentimentos.
ResponderExcluirO estilo também me lembrou As Vantagens de Ser Invisível, e houve até momentos que o Leonard me lembrou o Charlie, mas momentos que não passavam de uma linha. Eu bem que devorei o livro procurando Charlices nele, mas enfim. Um livro super agradável, me fez chorar, rir, mas o final me decepcionou um pouco. Desacostumei com finais felizes...Ou talvez eu simplesmente não quisesse um final. Parabéns pela ótima resenha :3
ResponderExcluirOi Mi! Acabei de ler este e vim aqui reler sua resenha. Ai, vc vai ficar brava comigo?? Vou ser sincera: achei sua resenha melhor que o livro!!
ResponderExcluirA história é boa, a profundidade de sentimentos e problemas de Leonard é incrível, a leitura é realmente fácil... mas não gostei. Achei cansativo, principalmente pelo excesso de notas de rodapé. Algumas são ótimas, outras são extensas demais. Ele divaga tanto nelas que várias pareceram desnecessárias pra mim.
Gostei das cartas do futuro e das referências diversas. Leo é mesmo muito inteligente, muito além dos adolescentes comuns americanos. Mas, sei lá, não rolou. Achei que a história só ficou boa no final.