O
filme começa com uma festa de aniversário familiar. Vemos um bolo enfeitado com
velinhas de 11 anos. Uma música toca ao fundo, as pessoas dançam. Uma garota
parece não estar muito feliz com a comemoração. Ela dança um pouco e logo larga seu par e caminha até a sacada do apartamento. Sem dizer uma palavra, passa
por cima da grade e se joga lá para baixo. Tudo isso acontece rapidamente, sem
muita conversa, em 5 minutos de projeção. O que levaria uma menina tão nova a
se matar em seu próprio aniversário?
Suicídio
é sempre um tema complicado, ainda mais se tratando da morte de uma pessoa tão
jovem. Então, essa é a primeira dúvida que surge no filme. Mas não demora muito
até percebermos que há algo de estranho acontecendo na família da garota morta.
A própria forma como os parentes reagem diante do corpo estendido no chão: eles
apenas se aproximam em silêncio e observam, como se já esperassem que aquilo
fosse acontecer e estivessem ali só para confirmar que a menina havia mesmo
morrido. Estranho, muito estranho.
O
que se segue é o comparecimento dos responsáveis à delegacia, a investigação da
morte (que os parentes juram ter sido acidental), visitas de assistentes
sociais (eles aparecem sempre que há óbito violento de crianças? Isso eu
realmente não sei). Em casa, a rotina é seguida como se nada tivesse
acontecido. Ninguém chora, não há luto. A única que parece sofrer em silêncio é
a mãe da garota.
Tudo
na família é esquisito: não é possível entender logo de cara quem é a mãe, quem
são os avós, quem é filho ou primo; as crianças mais novas vão à escola e
depois se submetem a um peculiar ritual doméstico de estudo; a casa toda
funciona sob uma disciplina rígida; as crianças não brincam com amigos e a
família raramente recebe visitas (e, nessas ocasiões, há sempre uma tensão
palpável no ar); ninguém sai de casa a não ser para ir à escola – o único
adulto que sai quando quer é o patriarca. Tudo muito opressor e intrigante.
O
clima do filme é claustrofóbico, não apenas por se passar quase todo dentro de
um apartamento, mas pelos comportamentos exibidos na tela. Os personagens são
calados e não expressam emoções – aos poucos vamos percebendo os motivos. A
violência sofrida por aquelas pessoas é física e mental, tem muitas formas e perpetrada por mais de um carrasco. A aflição durante o
filme só cresce e as possibilidades apontadas parecem cada vez mais chocantes.
“Miss Violência” é um filme grego que eu
queria ver fazia tempo. No último feriado, decidi que era um bom momento para
assistir. Como a sinopse e o título já demonstram, era óbvio que seria um filme
incômodo e violento, mas nada me preparou para o que encontrei na tela.
O
grande trunfo do filme é ir revelando aos poucos o que se passa na casa e qual
a relação entre seus ocupantes. De tempos em tempos, uma nova pista é lançada
e, assim, vamos criando hipóteses para o que está acontecendo. O mais
assombroso é que cogitei várias opções (todas bem ruins), mas, no final, a
coisa conseguiu ser ainda mais repugnante, odiosa e triste do que uma
combinação de todas as minhas suposições juntas. Terminei o filme arrasada, revoltada
e com vergonha de fazer parte dessa espécie que se considera a mais evoluída do
planeta. Fui dormir pensando na história, acordei no dia seguinte com ela ainda
na cabeça, e ruminei aquilo tudo por uns dias. E então decidi escrever o post –
que não faz jus à maravilha que é o filme – mas é a forma que eu tenho de
recomendá-lo.
Assistam.
É pesado, mas simplesmente excelente. Só evitem ver quando já estiverem tristes
ou desacreditados do mundo.
Trailer:
Fiquei curiosa, mas não sei se encaro!! Me conta o final, vai? ;-)
ResponderExcluirMichelle, adoro filmes questionadores assim. Vou assistir com certeza e depois a gente conversa melhor sobre ele.
ResponderExcluirBeijo!
Quase assisti a esse filme no cinema, mas fiquei com medo de ser pesado demais. Estou curiosa para descobrir o que há por trás dessa família.
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