E a
primeira postagem do #vejamaismulheres de 2019 tem como tema... o verão. Eu
definitivamente detesto calor, mas a estação é sempre bem retratada nos filmes,
uma época de amores passageiros e amadurecimento. E isso tem um apelo. Minha
pequena seleção tem filme da França, da Argentina, do Chile, da Espanha e do Zimbábue :)
O
verão do Skylab (Le Skylab, 2011 – Julie Delpy) [França]
Albertine viaja de trem com o marido e os dois filhos pequenos. O trajeto a faz lembrar de quando ela, aos 10 anos de idade, foi para
o interior para celebrar o aniversário da avó num fim de semana regado a muitas
tretas familiares. Para ela, o verão de 1979 foi marcante, não só por ser
aquele em que se apaixonou pela primeira vez, mas também porque havia a ameaça
da queda do satélite Skylab, que poderia matar todos que se encontravam
exatamente ali na região em
que Albertine estava. Em meio à algazarra das crianças, às
discussões políticas dos adultos e ao choque entre o estilo de vida liberal do
casal de artistas parisienses com o jeito prosaico dos demais pares, a diretora
faz perspicazes observações sobre a sociedade francesa (e ocidental como um
todo) na forma de uma deliciosa crônica. O ano retratado no filme é 1979, mas
poderia ser 2019. Impressionante como as discussões ainda são as mesmas.
Recomendadíssimo.
Nota:
4/5
Julie
Delpy é uma atriz, roteirista, diretora, cantora e compositora francesa
com um vasto currículo, com mais de 30 filmes, entre direção e atuação. Seu
primeiro trabalho no cinema foi aos 14 anos, num filme de Godard. Como diretora,
atualmente finaliza seu sétimo trabalho. ‘O verão do Skylab’ é seu
quarto longa-metragem. ‘A condessa’, filme de 2009 dirigido por ela, já
apareceu aqui no blog em outra edição do #vejamaismulheres.
O
último verão da boyita (El último verano de la boyita, 2009 – Julia
Solomonoff) [Argentina]
Jorgelina tem 10 anos e está vivendo seu pior verão: seus
pais estão num momento conturbado do casamento, a irmã mais velha só tem olhos para os garotos e já não quer
mais brincar com ela, e Mario, o filho de um
funcionários da fazenda, que costumava ser sua companhia nas férias, está
ocupado demais com o trabalho. Com a mãe e a irmã na praia, resta à garota
tentar se aproximar de Mario. Mas ele está diferente e distante. E não é só por
causa das obrigações impostas pelos pais. Não vou dizer o que está causando o
afastamento de Mario porque acho que estragaria a experiência, mas é algo
doloroso de ver. No fim, o filme fala de mudanças, amadurecimento, amizade,
confiança, falta de conhecimento e aceitação. Gostei muito.
Nota:
4/5
Julia
Solomonoff é uma atriz, produtora, roteirista e diretora argentina que
fez mestrado na Columbia University, onde atualmente dá oficinas de direção.
Seu primeiro longa, ‘Irmãs’, foi lançado em 2005. ‘O último verão da
boyita’ é seu segundo trabalho, e ‘Ninguém está olhando’, de 2017, é
seu filme mais recente.
O
verão dos peixes voadores (El verano de los peces voladores, 2013 – Marcela
Said) [Chile]
Manena é uma adolescente chilena de férias na fazenda
da família. Ao mesmo tempo em que experimenta as alegrias e decepções do primeiro
amor, ela se dá conta de seus privilégios de menina branca e rica e parece ser
a única a perceber o clima tenso entre o povo indígena local e os donos das
terras que não estão nem aí para nada, com a cabeça voltada para o próprio
umbigo. Conforme Manena vai se aproximando mais de um dos funcionários da
fazenda e entendendo melhor os motivos das reivindicações dos
trabalhadores, sua inquietação aumenta e os conflitos com seu pai se tornam
cada vez mais constantes. Mais um filme que retrata bem as questões de classe e
raça. É no Chile, mas cai como uma luva ao contexto brasileiro recente. Vale
uma espiada.
Nota:
3/5
Marcela
Said é uma roteirista e diretora chilena que estudou na Sorbonne e
começou sua carreira de cineasta com o documentário ‘Valparaíso’ (1999).
Na sequência vieram mais dois documentários, e, em 2013, seu primeiro longa de
ficção, ‘O verão dos peixes voadores’, que foi exibido em Cannes. Seu
filme mais recente, lançado em 2017, é ‘Os cachorros’.
Verão
(Zommer, 2014 – Colette Bothof) [Zimbábue]
No pacato vilarejo ao sul dos Países Baixos onde Anne
mora, nada acontece. As plantações se estendem a perder de vista, e a única
coisa que destoa e ganha ares míticos é a enorme usina e os fios de
eletricidade que não param de zunir. No verão de seus 16 anos, Anne se sente
mais deslocada que nunca enquanto seus amigos se divertem bebendo, dançando ou
se agarrando à beira do lago. Mas tudo muda com a chegada de Lena, a garota que
se destaca por ser a única negra na comunidade e por suas roupas de couro e sua
moto, num lugar em que a bicicleta é o meio de transporte padrão. Em ‘Verão’, a
diretora fala de preconceito, de religiosidade e da banalização da violência
contra as mulheres. Um bom filme.
Nota:
4/5
Colette
Bothof é uma roteirista e diretora nascida no Zimbábue. Antes de
ingressar na Academia de Cinema e TV dos Países Baixos, ela estudou psicologia
e dirigiu documentários. Em seu currículo há também curtas e séries de TV,
entre elas ‘Kika & Bob’, que foi ao ar entre 2007 e 2008. Seu
primeiro longa, ‘Black swans’, é um filme feito para a TV lançado em
2005. ‘Summer’ é seu segundo filme e foi exibido na 38ª Mostra de Cinema
de São Paulo.
Verão
1993 (Estiu 1993, 2017 – Carla Simón) [Espanha]
No verão de 1993, Frida, de seis anos, tenta se
adaptar à sua nova família após a morte de seus pais. E, se ela tem dificuldade
para se encaixar naquele novo contexto, a tarefa para seus tios, que agora
assumem sua guarda, também não é nada fácil. Com muita delicadeza e realismo, a
diretora mostra todos os sentimentos que essa relação forçada faz brotar:
frustração, inveja, tristeza, acolhimento, alegria, raiva, preocupação,
arrependimento. Em um segundo queremos abraçar Frida e ajudá-la a superar sua
dor, e no seguinte queremos dar umas palmadas nela por suas malcriações e ações
inconsequentes que são pequenas maldades infantis. O mesmo vale para seus tios,
especialmente a tia, que defende a sobrinha com unhas e dentes quando outras
mães a discriminam, mas que se sente sobrecarregada e um tanto temerosa pela
filha pequena que sofre um bocado nas mãos de Frida. Personagens extremamente
humanos tornam esse filme especial. O filme é inspirado história da
própria diretora, que perdeu os pais ainda criança e teve que lidar com o
preconceito numa época em que ter AIDS ou ser HIV-positivo era como ter uma
sentença de morte decretada.
Nota:
4/5
Carla
Simón é uma roteirista e diretora espanhola. Com quatro curtas no
currículo (um deles documentário), ‘Verão 1993’ é seu primeiro
longa-metragem, falado em catalão, escolhido pela Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas Espanhola para representar o país na categoria de ‘Filme
Estrangeiro’ do Oscar 2017.
>>
Outro filme de verão que já apareceu no #vejamaismulheres: O verão de Sangaile.
*******************
Eu não vi nenhum, mas fiquei interessada em ver todos. 😊
ResponderExcluirOI MIchele, entrei em um post antigo no meu blog para matar as saudades. Aí resolvi entrar nos perfis de quem comentou para ver se ainda tinha blog ativo. Olha que são poucos! Fiquei feliz de ver o seu blog e adorei o post com as dicas de filmes. Fiquei com vontade de assistir Verão 1993, aliás fiquei com vontade de ver todos.
ResponderExcluirbeijos
Chris
Inventando com a Mamãe / Instagram / Facebook