sexta-feira, 17 de março de 2017

Veja Mais Mulheres: Filmes #3-7

Ois!

O post do #vejamaismulheres de hoje é temático: 5 filmes dirigidos por atrizes que passaram para o lado de trás da câmera, cada uma delas representando um país diferente. Tem Natalie Portman com ‘De amor e trevas’, Julie Delpy com ‘A condessa’, Carla Camurati com ‘Copacabana’, Liv Ullmann com ‘Miss Julie’ e Angelina Jolie com ‘À beira-mar’. Preparados?


De amor e trevas (A tale of love and darkness - Natalie Portman, 2015) [Israel]
Adaptação do livro de memórias de Amós Oz sobre sua infância em Jerusalém nos anos sob o domínio britânico até pouco depois da criação do Estado de Israel (com direito a uma emocionante cena em que o povo do novo país acompanha pelo rádio a votação ao vivo na Assembleia da ONU, em 1947). Na tela, Fania Oz, a mãe de Amós, é vivida por Natalie Portman – ela é a alma do filme. Sentindo a opressão de um casamento que limitava suas atividades intelectuais, ela só parecia feliz quando inventava histórias para seu filho de 10 anos. Com o tempo, ela acaba desenvolvendo depressão. O filme aborda de forma sutil, mas importante, o papel da mulher em uma sociedade em que todos os direitos e liberdades só se aplicam aos homens. Talvez a mais emblemática cena a retratar o assunto aconteça em uma cozinha, com Fania conversando com outras mulheres, quando alguém diz na lata que a liberdade feminina dura só o tempo entre o casamento e a 1ª gravidez, e que nem toda mãe gosta de ser mãe. Outro momento que mostra o fardo feminino ocorre quando um marido aposta a esposa no jogo e perde; ela então foge e, quando um dia tenta uma reaproximação com a filha, é chamada de prostituta pela pequena – claro indício de como a natureza depreciativa é reproduzida inclusive entre as mulheres. Gostei bastante. 
Nota: 4/5
Natalie Portman é uma atriz, produtora e diretora israelense nascida em Jerusalém. Tem mais de 30 filmes no currículo de atriz, tendo sido indicada mais recentemente ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel em 'Jackie'. Seus primeiros trabalhos na direção foram o curta 'Eve' e um segmento no filme 'Nova York, eu te amo', ambos de 2008. 'De amor é trevas' é seu primeiro longa como diretora.

A condessa (The countess – Julie Delpy, 2009) [França]
Filme baseado nas principais lendas que envolvem a condessa húngara Elizabeth Bathory (interpretada pela própria Julie Delpy), conhecida por ter matado mais de 650 pessoas para se banhar no sangue delas com o intuito de manter sua juventude eternamente. A primeira parte do filme retrata bem rapidamente sua infância e adolescência e deixa claro sua inteligência, curiosidade e crueldade desde seus primeiros anos de vida, bem como sua natureza impetuosa, que fez com que ela engravidasse de um camponês aos 14 anos de idade e logo depois se casasse com conde muito mais velho que ela. O marido passava mais tempo conquistando territórios para o rei do que em casa, e isso lhe rendeu muito dinheiro. Após sua morte, Elizabeth assumiu o controle das finanças, concedendo empréstimos ao próprio rei e mantendo assim seu prestígio. A história é fascinante e trata da busca pela beleza/juventude eterna pelas mulheres e as insanidades cometidas com tal propósito, bem como do incômodo que uma mulher independente e poderosa causa em campos predominantemente masculinos (o rei, a igreja e outros nobres a odiavam). Sua condenação, inclusive, foi por feitiçaria, mais pelo fato de o rei ter interesse em anular a enorme dívida que tinha com Elizabeth e tomar suas terras do que pelos assassinatos em si (que nunca foram provados). De toda forma, uma figura interessantíssima, que já serviu para inspiração de diversos personagens de livros, filmes e séries de TV. Só não dou uma nota maior porque focaram demais no caso dela com o rapaz mais novo – uma pessoa tão incrivelmente capaz reduzida a capacho por causa de amor. Pra mim, não deu.
Nota: 3,5/5
Julie Delpy é uma atriz, roteirista, diretora, cantora e compositora nascida em Paris, França. Tem mais de 30 filmes no currículo, entre atuações e direção. Estreou no cinema como atriz em 1985, no filme 'Detetive', de Jean-Luc Godard, e o primeiro curta dirigido por ela estreou no Festival de Sundance de 1995. 'A condessa' foi seu terceiro longa-metragem na direção.

Copacabana (Copacabana – Carla Camurati, 2011) [Brasil]
Alberto (Marco Nanini) está prestes a completar 90 anos, mas é do tipo que não gosta de comemorar aniversários. Ele começa, então, a caminhar pelo calçadão relembrando momentos marcantes de sua vida. Enquanto isso, seus amigos preparam uma festa surpresa para ele. O que eles não imaginavam é que a surpresa seria toda deles. O filme merece crédito por ter idosos como personagens principais e por mostrar que, apesar da idade, eles se divertem, mantendo uma vida social e sexual (o que raramente se vê com relação à terceira idade). Mas em determinado momento (mais especificamente na festa), os amigos resolvem homenagear o aniversariante apresentando, cada um deles, um número musical, e aí as coisas desandam. Achei as atuações forçadas e as piadas dignas de programas humorísticos do século passado. Outra coisa que não me convenceu foi o fato de o grupo de amigos ser o mesmo desde a infância. Manter amizades desde a infância é muito difícil, e altamente improvável que todos eles continuassem morando no mesmo bairro a vida toda. Não colou. Ah... esqueci de dizer que a música-tema é bem legal (e fala de uma realidade bem triste). No geral, foi uma boa ideia mal desenvolvida.
Nota: 2,5/5
Carla Camurati é uma atriz, produtora, roteirista e diretora brasileira, natural do Rio de Janeiro. Depois de uma carreira como atriz de cinema e televisão nos anos 80, ela deu seu primeiro passo na direção em 1995, com 'Carlota Joaquina, Princesa do Brazil', filme que marca a retomada das produções nacionais. Ela também dirigiu óperas pelo Brasil, entre 1997 e 2007. 'Copacabana' é seu terceiro longa-metragem como diretora.

Miss Julie (Miss Julie – Liv Ullmann, 2014) [Noruega]
Miss Julie (Jessica Chastain) é filha de um poderoso aristocrata anglo-irlandês. Numa noite de verão de 1890, longe dos olhos do pai e dividindo sua enorme casa apenas com a cozinheira Cristine (Samantha Morton) e o empregado Jean (Colin Farrell), Julie está entediada e inicia um perigoso jogo de sedução com Jean, que é noivo de Cristine. O resultado, obviamente, é desastroso. A primeira coisa que se nota no filme é a beleza das imagens, dos cenários cuidadosamente iluminados, dos tons vivos saídos diretamente de uma pintura impressionista. A segunda característica que fica logo evidente é a natureza teatral da trama, adaptada de uma peça de August Strindberg – e foi isso que me cansou no filme. É muito difícil eu gostar desse estilo de filme, no qual os personagens falam, falam, falam sem parar e se expressam com aquele tom exagerado dos palcos. Gostei por ser uma boa história que discute relacionamentos entre classes sociais diferentes e por mostrar a dualidade de comportamento de Jean em relação às duas mulheres: com a cozinheira ele sempre falou num tom de superioridade, dando ordens como se fosse o dono da casa; com a verdadeira dona ele era submisso, muitas vezes além do necessário. No entanto, ele acaba enrolando as duas em seus planos mirabolantes e arruína a vida de ambas. Mesmo quando está errado, o sujeito consegue levar a melhor. Clássico, não?
Nota: 3/5
Liv Ullmann é uma atriz, diretora e escritora norueguesa, mundialmente conhecida por seus papéis em filmes de Ingmar Bergmann, com quem foi casada e tem uma filha. Começou a carreira como atriz de teatro e estreou no cinema em 'Persona', do referido diretor. Escreveu dois livros autobiográficos e dirigiu 6 filmes, sendo 'Miss Julie' o mais recente deles.

À beira-mar (By the sea – Angelina Jolie, 2015) [Estados Unidos]
Em meados dos anos 70, a ex-dançarina Vanessa (Angelina Jolie) viaja com o marido, o escritor Roland (Brad Pitt), para um isolado vilarejo francês à beira-mar para que ele possa trabalhar em um novo romance. Lá, eles conhecem os recém-casados François (Melvil Poupaud) e Lea (Mélanie Laurent), hospedados no quarto ao lado, em plena lua de mel. A felicidade do jovem casal é gritante e uma ofensa a Vanessa e Roland, que vivem um momento delicado do relacionamento. No entanto, aos poucos as duplas se aproximam e um jogo arriscado entre eles se estabelece. O desgaste do vínculo entre o casal mais velho é evidente desde a primeira cena, quando eles viajam em silêncio, quando ele fala de modo irônico com ela assim que descem do carro, quando ela devolve a indelicadeza dele com uma patada à altura. No quarto, ela passa o tempo enchendo a cara de bebida e remédios, enquanto ele fica o dia inteiro na mesa do restaurante supostamente buscando inspiração, mas bebendo tanto quanto ela e incomodando o dono do estabelecimento com seu papo de bêbado. A aproximação entre Vanessa e Lea e, posteriormente, François, muda a dinâmica entre ela e Roland, e essa nova situação tem várias fases, algumas boas, outras nem tanto. O fato é que eu havia lido muitos comentários negativos sobre o filme, mas resolvi dar uma chance e achei ótimo. É claro que não vai agradar a todos, pois é pesado, cheio de silêncios intermináveis, dias que se arrastam sem propósito, a maior parte das cenas se passa dentro do quarto de hotel; no entanto, esse ritmo lento e incômodo é intencional e reflete perfeitamente como se sentiam Vanessa e Roland em um relacionamento fracassado. Recomendo a quem gosta de histórias sem romantização.
Nota: 4/5
Angelina Jolie é uma atriz, roteirista e diretora norte-americana conhecida também por seu trabalho como ativista humanitária. Sua estreia como atriz foi em 1982, ao lado do pai ator, no filme 'Aventuras em Las Vegas', mas sua carreira começou de fato em 1996, no filme 'Cyborg 2'. Dirigiu seu primeiro filme, 'Na terra de amor e ódio', em 2011. 'À beira-mar' é seu terceiro e mais recente trabalho na direção.
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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação deste segundo ano do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Para ver o post de apresentação do primeiro ano do projeto com a lista de filmes e links, clique AQUI. 

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