LIVRO: A
Mulher de Preto
A história é narrada por Arthur Kipps, já idoso e
relembrando os terríveis eventos que marcaram a cidadezinha de Crythin Gifford e também sua própria vida. Ele nos
conta que, na época dos acontecimentos, ele tinha apenas 23 anos, uma noiva
apaixonada e muita disposição para aventuras que o levassem para longe da
melancólica e nebulosa Londres. Assim, foi com empolgação que ele aceitou a
incumbência de viajar até a distante Crythin Gifford para comparecer ao funeral
da falecida Sra. Drablow em nome do escritório de advocacia em
que trabalhava, para organizar documentos da defunta a fim de encerrar os
serviços legais.
Chegando à cidade, Kipps é recebido com cautela pelos
moradores e é surpreendido pela visão de uma mulher
vestida de preto, que tinha rosto marcado e corpo frágil, e se esgueirava
pelo cemitério. Ao perguntar sobre ela, ninguém queria falar a respeito. Além
disso, todos tentavam convencê-lo a não ir até a Casa do Brejo da Enguia e contavam casos sobrenaturais que,
com a arrogância típica da juventude, Kipps julgava ser besteira.
A teimosia e o senso de superioridade de Kipps o levam à casa
da falecida Sra. Drablow, onde ele desvenda o mistério que envolvia a casa e
fica cara a cara com a assustadora Mulher
de Preto. Mas será que é possível desafiar um fantasma vingativo e sair
impune?
O ponto forte da trama são as descrições detalhadas das cenas
e das sensações. Susan Hill consegue nos transportar para as páginas do livro e
nos deixar tensos com a história. Mesmo sabendo que levaremos um susto adiante,
não conseguimos parar de ler. Os personagens são bem construídos e o medo que
cala os moradores de Crythin Gifford é palpável. A inteligência e a razão do
rapaz presunçoso da cidade grande são postas em xeque quando as superstições da
população do interior demonstram ser mais do que simples histórias de terror
para se contar ao redor de uma fogueira.
A névoa
londrina e a bruma do brejo ganham vida e sufocam os personagens.
O brejo, que à luz do dia era prateado e majestosamente vasto, à noite ganhava
contornos assombrosos e engolia qualquer coisa que ousasse desafiá-lo. Em “A
Mulher de Preto”, a natureza não é apenas cenário - é também personagem e
mostra todo o seu poder.
O livro foi escrito
em 1983 e, em 2012, ganhou
uma adaptação para o cinema que traz Daniel
Radcliffe (vulgo Harry
Potter) no papel do protagonista.
“A névoa estava lá fora, pairando sobre o rio, esgueirando-se por becos
e passagens, serpenteando espessamento entre as árvores desfolhadas de todos os
parques e jardins da cidade, e também do lado de dentro, agitando-se por
frestas e fendas como um hálito ácido, aproveitando para entrar a cada vez que
uma porta abria.”
Nota: 4/5
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FILME – A Mulher de Preto
Como fiquei fascinada pela história do livro, quis
logo assistir à sua adaptação para o cinema. O resultado? Decepção sem tamanho.
O que o livro tinha de atraente, com suas detalhadas descrições dos locais e
das sensações, o filme conseguiu destruir, não apenas mudando completamente a
história, mas também a transformando em um filme de terror óbvio e fraco. Em
comum, somente o título, o nome dos personagens e a ida de Kipps para a
cidadezinha isolada para tratar de assuntos de trabalho.
As mudanças começam logo no início do filme, quando o
chefe de Arthur pergunta ao funcionário se poderia viajar ao interior para
resolver as pendências do caso da Sra. Drablow. Como mencionado no livro,
Arthur tinha vinte e poucos anos e estava no começo da carreira, por isso vê a
viagem como uma oportunidade de crescer na empresa; no filme, o chefe de Arthur
dá a entender que essa é sua última chance de fazer algo direito.
O passado de Arthur é totalmente diferente e, no
filme, envolve a morte de sua mulher no parto, o que faz dele um viúvo com um
filho de 04 anos para cuidar. Essa alteração afeta significativamente a
história e leva a um final que não tem absolutamente nada a ver com o desfecho
do livro.
O terror crescente que ditava o ritmo do livro dá
lugar a um punhado de clichês e sustos forçados e previsíveis. Para piorar, o
personagem de Arthur, que, no livro, começava a aventura sendo destemido e
arrogante, e mais tarde que se vê obrigado a reconhecer sua insignificância
diante dos poderes da natureza e do sobrenatural, no filme ganha contornos de
herói e tenta aplacar a fúria da Mulher de Preto por meio de barganha.
Lógico que toda adaptação de livro sofre algumas
modificações, afinal são mídias diferentes. Isso é normal e necessário. O que
não dá para engolir é a distorção total da história, né?
No entanto, se tem alguma coisa que se salva nesse
filme é o visual. A ambientação da Casa do Brejo da Enguia é primorosa e
funciona muito bem para criar a atmosfera de terror. Os bichos empalhados e os
brinquedos macabros contribuem bastante nesse sentido. O filme conta ainda com alguns
momentos criados especialmente para a tela, como a cena em que Arthur encontra um
ninho de corvos na lareira, e outra cena em que o protagonista usa um
zootrópio. Também gostei de ver Daniel Radcliffe interpretando um personagem
bem diferente e mais maduro que Harry Potter e conseguindo segurar bem o papel.
De resto, só posso lamentar o tempo que perdi vendo o filme e
esperar mais absurdos na anunciada continuação da história, que se passa 40
anos após a trama original. Meu
veredicto é: leia o livro
e fuja do filme (e de sua continuação).
Nota: 2/5
[Post editado - Veja a resenha do livro, originalmente
publicada em 11/10/2012, e o texto sobre o filme, originalmente publicado em 16/10/2012, no
Equalize da Leitura]
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