Uma
jovem mãe solteira que se muda para uma adorável cidadezinha litorânea com o
filho de 5 anos em uma tentativa de recomeçar sua vida. Já no dia de orientação
do jardim da infância, um incidente envolvendo o menino e uma coleguinha, filha
de uma poderosa executiva da região, é o estopim de uma guerra desproporcional
entre as mães e, aparentemente, o desfecho trágico da batalha acontece no baile
escolar anual.
Chegada à nova escola: parece que tudo vai dar certo |
Na
resenha do livro, já falei mais detalhadamente sobre a personalidade do trio de
amigas protagonistas: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman) e Jane (Shailene Woodley), então não vou me
repetir. Minha intenção agora é focar na minissérie da HBO inspirada na obra de
Liane Moriarty e dividir com vocês minhas impressões sobre a adaptação.
As três amigas e seus filhos |
Até
o momento, assisti a 4 dos 7 episódios previstos e estou achando excelente. O
formato do livro é mantido, intercalando acontecimentos atuais com flashes do
passado e depoimentos das testemunhas do assassinato ocorrido no baile (isso
não é um spoiler – a trama já começa
com a chegada de policiais à cena do crime). Além da estrutura narrativa, os
eventos na tela também seguem quase literalmente aqueles apresentados no livro,
com alguns acréscimos que achei pertinentes, totalmente críveis, e que colaboram
para o desenvolvimento dos personagens.
Chamadas à diretoria |
Por
exemplo, na série, o marido de Celeste, Perry
(Alexander Skarsgard), é mais
novo que ela. Pode parecer um detalhe bobo, mas com certeza é mais um fator
conflitante na relação deles, que já é bem conturbada. Outro exemplo: Abigail (Kathryn Newton), a filha adolescente de Madeline que vive um
momento de admiração por Bonnie (Zoë Kravitz), a jovem e atual esposa
de seu pai, em determinado momento pede à madrasta que a leve a um centro de
planejamento familiar, onde passa por consulta e recebe uma cartela de
anticoncepcional – imaginem só o climão quando Madeline descobre não apenas que
a filha é sexualmente ativa, mas também que a moça preferiu falar a respeito do
assunto com a madrasta, em vez de conversar com a própria mãe (não é bem isso
que aconteceu, mas é assim que Madeline entende) – mais um motivo para o
desentendimento entre a antiga e a nova esposa.
Festinha do desentendimento |
São pequenos
eventos que não mudam a essência da trama, mas que contribuem muito para
enfatizar os pontos delicados nas relações entre os personagens, características
menores acrescentadas que ajudam a dar mais camadas aos seres da ficção. Renata Klein (Laura Dern), a grande executiva cuja filha é pivô do incidente
no primeiro dia de aula, é uma das personagens que mais cresceu na série, em
comparação com o livro. Nas páginas, pouco sabemos de seus anseios, de sua vida
em casa com o marido e com a filha; sempre que ela aparece na história é para
dar ordens, para atacar alguém, como um cão raivoso. Sim, ela é realmente uma
personagem forte que acha que pode mandar em tudo, mas na tela conseguimos
vê-la mais como uma mulher com enorme poder na esfera profissional que sofre
por ficar afastada da filha, por não contar com o apoio de outras mães, que a
invejam e ao mesmo tempo têm medo dela, por não receber a atenção que gostaria
do marido.
Renata e a filha: uma personagem mais humana |
Aliás,
o diferencial da série é mostrar os dilemas femininos em diversas vertentes.
Jane, a jovem mãe solteira, precisa trabalhar para sustentar a si mesma e ao
filho, tem pesadelos recorrentes com algo que a traumatizou e ainda afeta sua
vida, vai para essa cidade onde não conhece ninguém, tem que lidar com as
inúmeras situações em que a existência de um pai para seu filho é cobrada e,
para piorar, ainda se envolve em uma confusão logo na chegada.
Café da manhã na casa de Madeline |
Madeline
enfrenta uma fase de rebeldia da filha adolescente, que busca a própria
identidade, guarda um enorme rancor de seu ex-marido, que não a ajudou quando
Abigail era bebê, indo embora e deixando para ela todo o fardo de criar uma criança
sozinha, mas que agora se derrete com a nova filha, fruto de seu segundo
casamento com uma esposa jovem e com um estilo de vida alternativo. Além disso,
ela se sente inferior às outras mães por não ter uma profissão, já que seu
trabalho é voluntário e exige apenas algumas horas por dia de sua dedicação.
Embora seja ótima como mãe, esposa e funcionária, acha que falhou em todos os
setores.
Madeline tendo uma 'conversinha' com Bonnie |
Celeste
é tida como aquela que não tem do que reclamar: é linda, casada com um marido
bonitão, bem-sucedido, apaixonado por ela e pai dedicado. Mas, como logo fica
claro, ela é infeliz, pois abandonou sua carreira de advogada para cuidar dos
filhos e o esposo controlador não a deixa voltar a trabalhar, decide com quem
ela pode conversar, tem um comportamento violento que a deixa constantemente
tensa, pensando e repensando tudo que diz e faz, com medo de disparar a raiva
dele. Ela o ama, mas teme por sua vida, quer sair de casa, mas tem dúvida
quanto às crianças, acha sempre que os ataques de fúria do esposo são culpa
sua, espera que ele mude, tem vergonha de sua situação e não conversa com
ninguém sobre o assunto.
Casal perfeito #sqn |
Ainda
que todas as personagens, com exceção de Jane, levem uma vida confortável e de
alto padrão em um cenário de sonho, seus problemas não são muito diferentes
daqueles enfrentados por mulheres de outras classes sociais e origens
diferentes: dilemas entre família e carreira, ressentimento com maridos que não
dividem igualmente as tarefas domésticas, companheiros agressivos, sentimento
de culpa diante de uma violência sofrida – tudo isso torna o programa atraente
para diversos públicos.
Jane tentando recomeçar com o filho |
Para
mim, tudo está funcionando perfeitamente na série. Reese está ótima (como
sempre), Nicole (que eu não imaginava como Celeste) conseguiu me convencer
(embora pareça um pouco menos frágil do que sua versão literária) e até de
Shailene (de quem tenho certa preguiça) estou gostando. Laura Dern é uma Renata
muito melhor do que a original, a Bonnie de Zoë Kravitz é tão maravilhosa
quanto a do livro, e ainda tem a menininha fofa que vive a filha mais nova de
Madeline e que tem um ótimo gosto musical! Aliás, a trilha sonora é muito boa
também.
Cenário de sonho para uma realidade de pesadelo |
Com
personagens muito humanos e cheios de falhas e interpretações convincentes, ‘Big Little Lies’ foi uma boa surpresa.
O drama predomina e angustia, mas pontuais cenas engraçadas dão a leveza
necessária para equilibrar lágrimas e sorrisos. Estou totalmente envolvida com
essas pessoas fictícias e seus destinos, mesmo já sabendo o desfecho da
história (ou achando que já sei... rs).
Nota:
5/5
Trailer legendado em português:
2 comentários:
Já quero ver essa série, mas sinto que preciso ler o livro antes.
Coloquei no Kindle e agora é só questão de tempo rs
bjão
www.jeniffergeraldine.com
Jeniffer,
Precisar, não precisa. Mas acho interessante. Para mim, livro e série se complementam perfeitamente ;)
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