quarta-feira, 15 de março de 2017

Série: Big Little Lies


Uma jovem mãe solteira que se muda para uma adorável cidadezinha litorânea com o filho de 5 anos em uma tentativa de recomeçar sua vida. Já no dia de orientação do jardim da infância, um incidente envolvendo o menino e uma coleguinha, filha de uma poderosa executiva da região, é o estopim de uma guerra desproporcional entre as mães e, aparentemente, o desfecho trágico da batalha acontece no baile escolar anual.

Chegada à nova escola: parece que tudo vai dar certo
Na resenha do livro, já falei mais detalhadamente sobre a personalidade do trio de amigas protagonistas: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman) e Jane (Shailene Woodley), então não vou me repetir. Minha intenção agora é focar na minissérie da HBO inspirada na obra de Liane Moriarty e dividir com vocês minhas impressões sobre a adaptação.

As três amigas e seus filhos
Até o momento, assisti a 4 dos 7 episódios previstos e estou achando excelente. O formato do livro é mantido, intercalando acontecimentos atuais com flashes do passado e depoimentos das testemunhas do assassinato ocorrido no baile (isso não é um spoiler – a trama já começa com a chegada de policiais à cena do crime). Além da estrutura narrativa, os eventos na tela também seguem quase literalmente aqueles apresentados no livro, com alguns acréscimos que achei pertinentes, totalmente críveis, e que colaboram para o desenvolvimento dos personagens.

Chamadas à diretoria
Por exemplo, na série, o marido de Celeste, Perry (Alexander Skarsgard), é mais novo que ela. Pode parecer um detalhe bobo, mas com certeza é mais um fator conflitante na relação deles, que já é bem conturbada. Outro exemplo: Abigail (Kathryn Newton), a filha adolescente de Madeline que vive um momento de admiração por Bonnie (Zoë Kravitz), a jovem e atual esposa de seu pai, em determinado momento pede à madrasta que a leve a um centro de planejamento familiar, onde passa por consulta e recebe uma cartela de anticoncepcional – imaginem só o climão quando Madeline descobre não apenas que a filha é sexualmente ativa, mas também que a moça preferiu falar a respeito do assunto com a madrasta, em vez de conversar com a própria mãe (não é bem isso que aconteceu, mas é assim que Madeline entende) – mais um motivo para o desentendimento entre a antiga e a nova esposa.

Festinha do desentendimento
São pequenos eventos que não mudam a essência da trama, mas que contribuem muito para enfatizar os pontos delicados nas relações entre os personagens, características menores acrescentadas que ajudam a dar mais camadas aos seres da ficção. Renata Klein (Laura Dern), a grande executiva cuja filha é pivô do incidente no primeiro dia de aula, é uma das personagens que mais cresceu na série, em comparação com o livro. Nas páginas, pouco sabemos de seus anseios, de sua vida em casa com o marido e com a filha; sempre que ela aparece na história é para dar ordens, para atacar alguém, como um cão raivoso. Sim, ela é realmente uma personagem forte que acha que pode mandar em tudo, mas na tela conseguimos vê-la mais como uma mulher com enorme poder na esfera profissional que sofre por ficar afastada da filha, por não contar com o apoio de outras mães, que a invejam e ao mesmo tempo têm medo dela, por não receber a atenção que gostaria do marido.

Renata e a filha: uma personagem mais humana
Aliás, o diferencial da série é mostrar os dilemas femininos em diversas vertentes. Jane, a jovem mãe solteira, precisa trabalhar para sustentar a si mesma e ao filho, tem pesadelos recorrentes com algo que a traumatizou e ainda afeta sua vida, vai para essa cidade onde não conhece ninguém, tem que lidar com as inúmeras situações em que a existência de um pai para seu filho é cobrada e, para piorar, ainda se envolve em uma confusão logo na chegada.

Café da manhã na casa de Madeline
Madeline enfrenta uma fase de rebeldia da filha adolescente, que busca a própria identidade, guarda um enorme rancor de seu ex-marido, que não a ajudou quando Abigail era bebê, indo embora e deixando para ela todo o fardo de criar uma criança sozinha, mas que agora se derrete com a nova filha, fruto de seu segundo casamento com uma esposa jovem e com um estilo de vida alternativo. Além disso, ela se sente inferior às outras mães por não ter uma profissão, já que seu trabalho é voluntário e exige apenas algumas horas por dia de sua dedicação. Embora seja ótima como mãe, esposa e funcionária, acha que falhou em todos os setores.

Madeline tendo uma 'conversinha' com Bonnie
Celeste é tida como aquela que não tem do que reclamar: é linda, casada com um marido bonitão, bem-sucedido, apaixonado por ela e pai dedicado. Mas, como logo fica claro, ela é infeliz, pois abandonou sua carreira de advogada para cuidar dos filhos e o esposo controlador não a deixa voltar a trabalhar, decide com quem ela pode conversar, tem um comportamento violento que a deixa constantemente tensa, pensando e repensando tudo que diz e faz, com medo de disparar a raiva dele. Ela o ama, mas teme por sua vida, quer sair de casa, mas tem dúvida quanto às crianças, acha sempre que os ataques de fúria do esposo são culpa sua, espera que ele mude, tem vergonha de sua situação e não conversa com ninguém sobre o assunto.

Casal perfeito #sqn
Ainda que todas as personagens, com exceção de Jane, levem uma vida confortável e de alto padrão em um cenário de sonho, seus problemas não são muito diferentes daqueles enfrentados por mulheres de outras classes sociais e origens diferentes: dilemas entre família e carreira, ressentimento com maridos que não dividem igualmente as tarefas domésticas, companheiros agressivos, sentimento de culpa diante de uma violência sofrida – tudo isso torna o programa atraente para diversos públicos.

Jane tentando recomeçar com o filho
Para mim, tudo está funcionando perfeitamente na série. Reese está ótima (como sempre), Nicole (que eu não imaginava como Celeste) conseguiu me convencer (embora pareça um pouco menos frágil do que sua versão literária) e até de Shailene (de quem tenho certa preguiça) estou gostando. Laura Dern é uma Renata muito melhor do que a original, a Bonnie de Zoë Kravitz é tão maravilhosa quanto a do livro, e ainda tem a menininha fofa que vive a filha mais nova de Madeline e que tem um ótimo gosto musical! Aliás, a trilha sonora é muito boa também.

Cenário de sonho para uma realidade de pesadelo
Com personagens muito humanos e cheios de falhas e interpretações convincentes, ‘Big Little Lies’ foi uma boa surpresa. O drama predomina e angustia, mas pontuais cenas engraçadas dão a leveza necessária para equilibrar lágrimas e sorrisos. Estou totalmente envolvida com essas pessoas fictícias e seus destinos, mesmo já sabendo o desfecho da história (ou achando que já sei... rs).

Nota: 5/5

Trailer legendado em português:

2 comentários:

Jeniffer Geraldine disse...

Já quero ver essa série, mas sinto que preciso ler o livro antes.
Coloquei no Kindle e agora é só questão de tempo rs
bjão
www.jeniffergeraldine.com

Michelle disse...

Jeniffer,
Precisar, não precisa. Mas acho interessante. Para mim, livro e série se complementam perfeitamente ;)