segunda-feira, 13 de março de 2017

Resenha: O adulto


A protagonista sem nome de ‘O Adulto’ é uma jovem que, desde cedo, aprendeu com a mãe a identificar pessoas suscetíveis às suas histórias inventadas para conseguir arrancar delas uma grana. No início, ela só acompanhava a mãe, desempenhando o papel de filhinha pobre e necessitada, mas com o tempo virou expert no assunto e, aos 16 anos, saiu de casa para seguir carreira solo. Sua vasta experiência a levou a encarnar uma vidente, especializada em ler a aura das pessoas. E foi no ramo da falsa clarividência que ela conheceu Susan Burke, mais uma dona de casa que desejava desesperadamente ouvir mentiras que a confortassem. Ou pelo menos foi isso que a vigarista esotérica pensou ao ver mais uma vítima ideal em sua sala de espera.

“Eu não parei de bater punheta para os outros por não ser boa. Parei de bater punheta por ser a melhor". Essa é a frase de abertura do livro. Diferente e direto ao ponto. Resume bem a natureza da protagonista, uma moça decidida que não tem tempo a perder com papo-furado e que não mede esforços para atingir seus objetivos. As primeiras palavras de ‘O Adulto’ passam a impressão de que estamos diante de um livro hot, mas não é nada disso. A personagem principal começa falando de sua atividade como batedora de punheta extremamente habilidosa só para nos informar pouco depois que o esforço repetitivo de seu ofício lhe rendeu uma bela síndrome do túnel do carpo, e que foi por sugestão da dona do estabelecimento que ela passou da salinha dos fundos, onde atendia os homens, para a elegante sala da frente, em que passou a ter mulheres como clientes. No fundo, ela diz, dá tudo na mesma, já que as pessoas estavam sempre em busca de atenção, querendo envolver suas decepções em uma embalagem colorida com promessas de uma vida feliz.

E é por isso que a princípio Susan Burke parece ser apenas mais uma esposa insatisfeita à procura de uma injeção de ânimo. Quando ela conta que havia se mudado para uma casa nova em que coisas estranhas estavam acontecendo, a falsa vidente logo se empolga diante da possibilidade de começar a prestar um novo serviço: limpeza de aura de casas. Fácil e recompensador. O novo morador ficaria feliz ao se livrar da nuvem negra deixada na residência pelos antigos donos e a jovem trapaceira faria um trabalho rápido e de retorno garantido. Já conseguia imaginar a propaganda boca a boca entre as amigas ricas de Susan e ver a si mesma como uma empresária de sucesso.

Só que, ao chegar à grande mansão vitoriana reformada, a esotérica de fachada se dá conta de que havia subestimado o problema, e que estava diante de um caso complicado envolvendo possíveis eventos sobrenaturais, um enteado adolescente sorumbático e uma madrasta assustada e louca para se livrar do jovem. No olho do furacão, aquela que tinha orgulho de sua capacidade de ler perfeitamente a expressão corporal dos clientes e de conseguir tirar vantagem deles se vê envolvida em uma situação na qual não sabe em quem acreditar.

Este é o terceiro livro que leio da Gillian Flynn e é a terceira vez que sou enganada por ela. A autora é muito boa nisso e fico feliz em ser feita de trouxa toda vez... rs. O fato é que a história começa como se fosse um erótico, muda para uma trama de golpes, adiciona elementos de terror, insinua a possibilidade de vingança e termina de um jeito inesperado, que sugere duas possibilidades e nos deixa tão vulneráveis quanto a golpista mística.

Para melhorar ainda mais, o livro faz referência a clássicos do terror, como ‘A assombração da casa na colina’, ‘A mulher de branco’ e ‘A outra volta do parafuso’. Ou seja, foi tiro e queda comigo. Ainda preciso ler 'Objetos Cortantes', mas já quero mais livros da Gillian.

“Quando as pessoas me fazem a pergunta que todas fazem, ‘O que você faz?’, eu respondo: ‘Trabalho com atendimento ao cliente’. O que é verdade. Para mim é um belo dia de trabalho quando você faz um monte de gente sorrir. Sei que soa sério demais, mas é verdade. Quer dizer, eu preferiria ser bibliotecária, mas me preocupo com a estabilidade do emprego. Livros podem ser temporários; paus são para sempre”.

Nota: 5/5

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Este post faz parte do Desafio Literário Diminuindo a Pilha 2017 - Março: Livro de até 100 páginas. Para ver a apresentação do projeto e a lista de títulos/resenhas, clique AQUI ou no banner na coluna à direita.

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