Em
maio deste ano fiz um post temático para o #vejamaismulheres com filmes de
cinco diretoras do leste europeu, apresentando produções da Romênia, Sérvia,
Bulgária, Bósnia e Croácia. Gostei tanto que planejei fazer uma segunda
postagem sobre o mesmo tema, abordando trabalhos de cineastas de países que não
haviam entrado na primeira seleção. Acabei não conseguindo fazer na sequência,
mas eis que finalmente assisti ao último que faltava para completar os cinco
deste post. Desta vez, separei filmes da Hungria, Eslováquia, Rússia, Lituânia
e Ucrânia.
Adoção
(Örökbefogadás/Adoption - Márta Mészáros, 1975) [Hungria]
Kata
é uma operária de meia-idade solteira que está num relacionamento de anos com
um homem casado. Anna é uma adolescente que, embora tenha pais, está sob a
tutela do Estado e mora numa instituição só para garotas. Kata está disposta a
ter um filho, mas seu amante é contra. Anna está apaixonada e pretende se casar com um rapaz com quem sai já há um tempo, mas primeiro precisa fazer 18
anos e obter a aprovação dos pais. Um dia, os caminhos dessas duas mulheres se
cruzam e elas resolvem trabalhar juntas para atingir seus objetivos. Gostei
muito do filme, da forma como a relação entre elas se estabelece e se
desenvolve. Recomendo.
Nota:
4/5
Márta
Mészáros é uma roteirista e diretora húngara que começou sua carreira
como documentarista (fez mais de 25 curtas documentais em um período de 10
anos). Seu primeiro longa-metragem, ‘A garota’ (1968), foi o primeiro
filme húngaro dirigido por uma mulher. Com mais de 15 filmes no currículo, seu
trabalho mais famoso é ‘Diário para meus filhos’ (1984), que ganhou o
Grande Prêmio do Festival de Cannes daquele ano.
Meu
cachorro assassino (Môj pes Killer/My dog Killer - Mira Fornay, 2013)
[Eslováquia]
Marek
é um rapaz que mora numa vinícola com o pai e seu pitbull, Killer. A mãe foi morar no
centro da cidade com o novo marido e o filho pequeno. Como os pais não se
falam, sobra para Marek fazer a ponte entre eles. O moço não tem amigos e,
quando não está trabalhando, se dedica a treinar o cachorro para atacar. É
graças ao animal que sua presença é tolerada entre os skinheads da academia de
muai thay. Um dia, o protagonista vai até a cidade para tratar com a mãe sobre
uma questão financeira e acaba tendo que lidar com o meio-irmão mestiço e todos
os problemas que isso lhe causa. Toda a ação se desenrola em um dia.
Acompanhamos Marek em sua rotina tediosa e em sua posição desagradável de
mensageiro dos pais. Testemunhamos seu desprezo pela mãe e pelo
meio-irmão, pois a atitude dela no passado e a atual existência do garoto
dificultam a aceitação de Marek pelos skinheads. É triste que o cachorro seja o
único ser vivo com quem ele consiga que conectar... Um filme duro e realista.
Nota:
3/5
Mira
Fornay é uma diretora eslovaca formada em TV e Cinema pela Academia de
Artes Dramáticas de Praga e na Escola de TV e Cinema de Beaconsfield, UK. Na
bagagem, tem 14 curtas e 2 longas: 'Foxes' e ‘Meu cachorro assassino’
- seu segundo trabalho, com o qual venceu a competição principal no
Festival de Cinema de Roterdã de 2013. Atualmente, trabalha em seu terceiro
filme, ‘Cook, F**k, Kill’.
Retrato
no crepúsculo (Portret v sumerkakh/Twilight portrait - Angelina
Nikonova, 2011) [Rússia]
Marina
é uma assistente social que tem sua bolsa roubada e acaba sozinha na estrada
uma noite e, ao pedir ajuda aos policiais que passavam por lá, é estuprada por
eles. Acha melhor não dar queixa e não conta o que aconteceu a ninguém. Segue
com sua vida infeliz e frustrada. Em casa, vive um casamento de fachada (a cena
de lavação de roupa suja familiar na hora do parabéns é maravilhosa); no
trabalho, tem que lidar com a burocracia infinita e sente que não consegue
ajudar as crianças que deveria proteger; quando vai à delegacia dar queixa do
roubo, é humilhada e insultada – ou seja, é uma existência 'ótima'. Quando um
dia ela reencontra um dos policiais que a estuprou, começa a segui-lo. E é
então que o filme começou a degringolar. Juro que tentei imaginar o que ela
tinha na cabeça e onde queria chegar com suas atitudes, mas só consegui
ficar com raiva. Não comprei a ideia e não recomendo. Mas se alguém assistir,
me conta o que achou.
Nota:
2/5
Angelina
Nikonova é uma roteirista e diretora formada na Escola de Artes Visuais
de Nova York. Embora já tivesse feito um documentário, ‘Retrato no
crepúsculo’ foi seu primeiro longa, que colecionou elogios e ganhou prêmios
em vários festivais, incluindo o Prêmio Internacional de Melhor Estreia no
Festival de Varsóvia de 2011.
O
verão de Sangaile (Sangaïlé/The summer of Sangaile - Alanté Kavaïté,
2015) [Lituânia]
Sangaile
é uma adolescente tímida que vai passar as férias na casa dos pais numa
cidadezinha afastada. Lá, ela conhece Auste, a moça criativa e talentosa que,
quando não está criando modelitos incríveis e tirando fotos, trabalha no
restaurante. Embora sejam totalmente opostas, elas se tornam amigas e amantes.
Aos poucos, Sangaile começa a se abrir para o mundo e revela seu sonho a Auste:
ser piloto de avião. O problema é que ela tem medo de altura. Como o título já
sugere, o tal verão é a jornada de autoconhecimento de Sangaile, que conta com
a ajudinha mais que desejada de Auste (não dá para não gostar dessa menina).
Uma delícia de filme, um visual lindo. Recomendo.
Nota:
4/5
Alanté
Kavaïté é uma roteirista e diretora lituana que lançou dois longas até
agora: 'Vozes do tempo' (2006) e 'O verão de Sangaile' (2015) –
por este último, a cineasta ganhou o Prêmio de Direção Dramática de Cinema
Estrangeiro no Festival de Sundance de 2015.
Asas
(Krylya/Wings - Larisa Shepitko, 1966) [Ucrânia]
Nadezhda
Petrukhina é uma ex-piloto de avião que visita continuamente o campo de aviação
para relembrar seus dias de alegria que ficaram para trás. Dispensada depois do
fim da guerra, ela assumiu a direção de uma escola, onde tenta impor, sem sucesso, a dura disciplina
militar aos alunos. Sua vida particular também é um desastre: devido à
incompatibilidade de ideias, sua filha se afastou e agora está num
relacionamento com um homem mais velho, o qual a mãe, obviamente, não aprova.
Solitária, Nadezhda tenta se encaixar em um mundo cujos valores mudaram
totalmente e encontrar alguém que compartilhe de seus ideais, mas todos a veem
como uma peça de museu. Isso fica bem claro em uma cena em que ela está sentada
no museu e um bando de crianças observa sem interesse relíquias dos grandes
feitos de combatentes, inclusive os dela. Outra cena que me agradou é uma em
que a protagonista conversa e dança com a balconista do bar no estabelecimento
vazio enquanto um monte de homens as observa pela janela – um dos raros momentos
em que vemos Nadezhda sorrir.
Nota:
3/5
Larisa
Shepitko foi uma atriz, roteirista e diretora ucraniana formada pelo
Instituto de Cinematografia de Moscou. Seu currículo conta com quatro longas e
a direção de um dos dois segmentos do filme ‘O começo de um século
inimaginável’ (1967). ‘Asas’ foi seu primeiro longa-metragem. ‘A
despedida’ (1983) foi seu último trabalho, finalizado por seu marido, o
também cineasta Elem Klimov, depois da morte da diretora em um acidente de
carro durante as filmagens do referido filme.
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