A
protagonista e narradora de “Cordilheira” é Anita, escritora de 27 anos que vai
para Buenos Aires, onde a tradução para o espanhol de seu mais recente romance
acaba de ser publicada. Apesar do medo e da insegurança de se lançar nessa
viagem ao desconhecido sozinha, Anita decide que essa pode ser a oportunidade
perfeita para recomeçar, já que deixa para trás, no Brasil, a morte recente de
uma amiga, a tentativa de suicídio de outra amiga e o fim de um relacionamento
amoroso de 2 anos. A bordo do avião, ela relembra os últimos episódios de sua
vida e tenta se encontrar no papel de escritora premiada, enquanto observa a
paisagem.
“Nos
poucos dias que antecederam a viagem, mesmo com as discussões, com as lágrimas,
com a poeira de tragédias recentes ainda prejudicando a visibilidade em meio
aos escombros, eu me pegava sorrindo por dentro nos momentos mais inesperados.
Como eu podia ter me privado por tanto tempo do sabor das decisões drásticas,
do prazer de derrubar uma pecinha de dominó e mudar tudo de forma irreversível?”
Anita
não conhecera a mãe, que morreu no parto. Criou a imagem de sua progenitora a
partir de fotos, histórias contadas por outras pessoas, anotações feitas pela
mãe em livros. Por isso, sua relação com o pai era muito forte. Quando ele morre
em um acidente, ela desenvolve síndrome do pânico e passa a depender de
remédios. Provavelmente é daí que vem a dependência masculina tão forte de seu
personagem, a vontade de ser cuidada por alguém. Sua obsessão por engravidar
era incompreendida, tanto pelo então namorado quanto pelas amigas, que diziam
ainda ser cedo ou que isso era um atraso de vida. As tragédias citadas lá no
início e esse desejo inexplicável de ser mãe a levam a Buenos Aires sob o falso pretexto de trabalho.
Apesar
de todos os encantos da cidade, Anita sentia-se uma estranha. Não tinha o
hábito de sair sozinha, não entendia a fala rápida dos portenhos. No entanto,
tudo muda quando na noite do lançamento de seu livro, após a leitura de um
capítulo, um homem da plateia lhe faz uma pergunta sobre o destino da protagonista
de seu livro, Magnólia. Assustada com a interpretação do rapaz, Anita não sabe
o que responder, mas se alegra ao descobrir, depois de alguns dias, que ele havia
deixado um endereço na recepção do hotel em que estava hospedada, marcando um
encontro. José Holden era seu nome. Um misto de curiosidade e receio cresce dentro de Anita. O que será que aquele sujeito de barba
densa, cabelos desgrenhados e olhar inquiridor queria com ela? E o que
significavam as reuniões misteriosas dos amigos estranhos de Holden? Qual seria
o papel dela nisso tudo?
“Cordilheira”
é o primeiro lançamento da coleção “Amores Expressos”, que traz histórias de
amor ambientadas em diversas cidades do mundo. Até agora, a coleção possui 7
livros. Foi minha escolha para o Desafio porque, além de se encaixar no tema de
julho - Prêmio Jabuti (3o lugar na categoria Romance, em 2009), sempre tive curiosidade para ler alguma coisa do Daniel
Galera e, para completar, a história se passa em Buenos Aires, cidade de adoro.
O
estilo é bem direto, sem firulas. É palpável o quanto a protagonista está
perdida, obcecada com a ideia de ser mãe, desesperada por encontrar alguém que
cuide dela. Particularmente, acho esse comportamento meio exagerado, mas é algo
bem consistente na personagem. As descrições das ruas, estabelecimentos e
comportamentos argentinos são maravilhosas e me fizeram sentir como se estivesse
lá, percorrendo aqueles caminhos e presenciando aquelas cenas. No geral, gostei
da história e do estilo. Mas deixo um alerta aqui a quem pretende ler o livro e
se ofende com narrativas sexuais, pois o ato é apresentado do ponto de vista
real, sem a visão romântica que muitas pessoas têm. Para quem não tem problemas em aceitar a realidade, recomendo a leitura.
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5 comentários:
Oi Mi!
Nesse mês eu estou enfrentando vários problemas na leitura, ainda não sei direito qual livro vou ler. Acho que vou para o básico e atualmente famosos, Gabriela, cravo e canela.
Eu dificilmente leria esse livro, acho que é bem diferente de tudo que eu já li... M
Beijos!
Eu estava pensando em também ler esse livro para o DL, mas acho que não vai dar... De qualquer jeito, gostei da sua resenha e espero ter uma oportunidade de lê-lo no futuro.
Beijo
Ih, no que tange as narrativas sexuais, eu gosto de uma linguagem leve, sutil, menos crua. Não sei se o leria...
Hum, Mi, acho que eu deveria ter escolhido este aqui pro DL...
O livro é diferente do que eu imaginava, mas gostei. É legal variar às vezes.
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