O LIVRO (ON THE ROAD / PÉ NA ESTRADA)
Em “On the road”, Dean e Sal, dois amigos de natureza totalmente oposta, cruzam os Estados Unidos de carro, em uma viagem cheia de drogas, sexo e liberdade. Por meio da narrativa de Sal, Kerouac nos apresenta um país cheio de contrastes, desbravado por jovens que querem viver intensamente cada minuto de suas vidas e que trafegam entre a camada da sociedade mais rica e preconceituosa e o submundo pulsante dos desafortunados, dos negros e dos latinos, aproveitando a rica cultura produzida por esses rejeitados.
Quando
foi lançado, 1957, “On the Road” chocou a todos devido ao comportamento dos
personagens, que se entregavam ao sexo casual de forma desesperada, enchiam a
cara de bebida e drogas, roubavam carros para poder viajar pelo país afora. Mas
a fama do livro não se deve apenas ao conteúdo transgressor da história: Kerouac inovou também na forma da escrita,
utilizando prosa em ritmo de jazz e gírias. Tudo isso ficou bem evidente
durante minha leitura (exceto a sonoridade, que infelizmente se perde com a
tradução) e são motivos mais que suficientes para respeitar o autor e
reconhecer a importância do livro, que até hoje continua influenciando leitores
do mundo todo.
No
entanto, a história não me cativou. Um bando de desocupado que vaga de um lado
para o outro atrás de diversão irrestrita e sem fim? Desculpa, não é para mim.
Sei que a trama capta o espírito impulsivo e desafiador da juventude, mas essa
atitude de rebelde sem causa nunca me convenceu. Nem quando eu era adolescente.
A essa altura da vida então... a única coisa que eu queria era dar uns tapas
naqueles moleques e dizer “cresçam!”.
Sal
e outros amigos, aliás, crescem. Em determinado momento, percebem que a vida
insana que levavam não tinha sentido e viram pessoas “normais”: vão atrás de
casa, família, emprego. Dean, por outro lado, é o eterno Peter Pan, que se
recusa a assumir as responsabilidades da vida adulta e termina solitário, transformado
em mito na cabeça dos amigos, uma mera lembrança engraçada de dias de loucura.
“Mas
nessa época eles dançavam pelas ruas como piões frenéticos e eu me arrastava na
mesma direção como tenho feito toda minha vida, sempre rastejando atrás de
pessoas que me interessam porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que
estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que
querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões,
mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como
constelações em cujo centro fervilhante – pop! – pode-se ver um brilho azul e
intenso até que todos ‘aaaaaaah!’.”
Em
suma, admiro o livro por tudo o que representa para a literatura, mas me
arrastei durante a leitura e desejei que terminasse logo.
Esta postagem faz parte das leituras do Charlie's Booklist - Julho.
Quanto
ao roteiro que há décadas tentavam tirar do papel, finalmente ganhou as telas
em 2012 sob a batuta de Walter Salles,
depois de ter passado pelas mãos de vários diretores, inclusive do Francis Ford
Coppola.
Comecei
a assistir um pouco desanimada, pois a leitura não tinha sido das mais
agradáveis e o filme ainda trazia Kristen
Stewart no papel de Marylou. Além de achar a atriz
extremamente limitada, ela em nada lembra a típica beleza caipira de olhos
azuis e cabelos loiros e cacheados descrita por Kerouac. Eu esperava uma garota
mais no estilo Reese Witherspoon. Enfim... não achei a atuação tão ruim quanto
tinha imaginado e até gostei bastante da cena em que Marylou e Dean fazem uma
dança sensual numa festa.
Um
personagem que me agradou mais na tela que no livro foi o próprio Dean.
No texto, ele é descrito como completamente doido e, embora seja mesmo
amalucado, no filme eu consegui simpatizar mais com ele e entender um pouco
melhor seu poder de atração que deixava homens e mulheres hipnotizados. Garrett Hedlund criou um Dean maluco e
sexy na medida.
Uma
coisa que havia chamado minha atenção durante a leitura e que adorei ver nas
telas foi a presença do jazz e da cultura negra e latina. Achei a trilha sonora
bem bacana e adequada.
Em
geral, gostei mais do filme que do livro, pois grande parte do texto descreve
em detalhes as diversas viagens feitas por Dean e Sal, as caronas que pegaram e
deram, as histórias desses companheiros de percurso. Tudo isso é eliminado no
filme, o que deixa a trama menos entediante.
Indico
para fãs de road movies e para quem
gosta de conferir adaptações de livros.
Veredicto: Leia o livro, veja o
filme (mesmo não sendo o tipo de história que agrada a todos, acho importante conhecer, já que sua influência em outras obras da literatura e do cinema é marcante)
4 comentários:
Fiquei feliz em saber que no final das contas eu não fui a única pessoa do mundo, a achar o povo desse livro um "bando de desocupados" hahahhaha. Eu ainda o estou lendo e é como você se sentiu...a leitura pra mim também tem sido arrastada demais. Suponho que também vou preferir o filme.
Oi Michelle!
Que bacana essa comparação que você fez! :D
Vixe... então vou passar longe do livro. Pois, também acho que vou me indignar. Hehe!
Mas, apesar dos pesares, fiquei curiosa para assistir ao filme. :)
Beijos!
Eu completamente leria - e vou ler ainda - esse livro, mas sinto que irei arrastar assim como você fez, não sei, acho que só não acompanho esse tipo de história. Adoro road movies mas ainda não vi a adaptação, pretendia ler antes, mas acho que irei ver antes de ler, tô pensando ainda, mas adorei a resenha!
Boa semana!
http://literallypitseleh.blogspot.com.br/
Tamara,
Não estou só \o/
Como eu disse na resenha, entendo a importância do livro e do autor, mas não é o meu tipo de história. Não rolou.
Angélica,
O livro tem seus méritos, mas não é a minha praia. O filme é mais fácil de digerir.
Schrotz,
Eu gosto de road movies, então isso provavelmente contou a favor do filme. Já o livro, só como experiência literária mesmo.
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