Flush
é um cocker spaniel legítimo que morava em uma casa de gente simples, mas que é
doado à Srta. Elizabeth Barrett, uma jovem poetisa rica e adoentada, amiga da
senhora de vida modesta, para lhe fazer companhia e alegrar-lhe os dias. Apesar
do medo e da angústia por ter sido abandonado em uma casa estranha, Flush logo vira o
amigo fiel de Liz e, ao seu lado, vive todo tipo de aventura.
“Flush” foi escrito por Virginia Woolf pouco depois de ter
publicado “As Ondas”. Sentindo-se extenuada pelo exercício de criação do
romance, a escritora relaxava lendo cartas de amor trocadas entre os poetas
vitorianos Robert Browning e Elizabeth Barrett. Nessa
correspondência, o que mais chamou a atenção de Virginia foi a menção constante
e detalhada do cãozinho de Elizabeth ao amado. Deliciada com as descrições do
Flush da vida real, Virginia decidiu usar a história verídica como base para
sua versão ficcional do animal e, assim, conseguiu seu primeiro sucesso de
público.
Em
um livro curto e dinâmico, a história é narrada da perspectiva do próprio
Flush, o que a torna muito emocionante e divertida. Enxergar as coisas pelos
olhos dos animais e perceber o quanto os seres humanos fazem coisas sem sentido
é uma experiência sempre interessante para mim. Aliás, a autora aproveita o recurso
da visão do cão para fazer duras críticas à sociedade inglesa, mostrando, por
exemplo, as qualidades dos cães puro-sangue em contraposição aos defeitos de
alguns humanos sem linhagem importante.
Mas
o que prende a atenção mesmo são as peripécias de Flush, principalmente quando
Elizabeth se muda da Inglaterra. A vida ao ar livre faz muito bem à frágil Liz
e ao curioso cãozinho. A riqueza de detalhes da cena em que Flush é levado até
a mansão dos Barrett e entra na casa pela primeira vez é sensacional. Dá para
entender perfeitamente como se sente um cão, vendo coisas novas, sentindo uma
infinidade de cheiros novos pela primeira vez, querendo vasculhar tudo ao mesmo
tempo e lutando contra o medo do desconhecido. Simplesmente demais.
Eu
sempre tive vontade de ler algo da Virginia Woolf, mas ficava com receio por
tudo o que dizem de seu estilo denso marcado pelo fluxo de consciência. Até
anotei umas dicas de qual livro dela ler primeiro e não tinha nem pensado em
Flush. Então vi que o livro tinha vagas disponíveis no grupo do Livro Viajante do Skoob e, lendo
algumas resenhas, não pensei duas vezes antes de me inscrever. Acho que não
poderia ter escolhido um livro melhor para começar. Embora seja considerado um
livro leve, diferente das demais obras da autora, já dá para ter uma breve
ideia de como ela trabalha o nível de reflexões dos personagens. Adorei a
experiência e espero poder conhecer outros trabalhos da Woolf em breve.
"'Ah, Flush', disse a Senhorita Barrett. Pela primeira vez, ela o olhou nos olhos. Pela primeira vez, Flush viu a dama deitada no sofá. Os dois se surpreenderam. Cachos pesados pendiam das laterais do rosto da Senhorita Barrett; grandes olhos espertos brilhavam; uma grande boca sorria. Orelhas pesadas pendiam das laterais do rosto de Flush; seus olhos também eram grandes e inteligentes; sua boca estava aberta. Havia algo de comum entre os dois (...) Separados violentamente, apesar de originados no mesmo molde, será que um completava o que estava latente no outro?"
História
simples e emocionante, daquelas que tocam o coração de todos que já tiveram a alegria de ter um animal de estimação. Ótima
opção de livro de férias, para ler de uma vez só.
3 comentários:
Todo mundo que lê Virginia, diz que este é seu livro mais "simples", ou melhor mais leve, principalmente para mergulhar na obra de Virginia.
Estou pensando em começar por ele para "não traumatizar" :)
E tem cães, o que mais importa ? hahah
bjos!!
Quero muito ler esse também, Michelle.
Engraçado, eu sabia que ele havia sido escrito depois de "As Ondas", mas não que havia sido inspirado nas correspondências dos tais poetas, lindo <3 Deu mais vontade ler.
Mais um para 2014 \o/
Mel,
Disse tudo: tem cães, então já é um bom motivo para ler :)
Maira,
Eu também não fazia ideia. A introdução do livro foi bem interessante.
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