LIVRO: A QUEDA DA CASA DE USHER (CONTO)
“Não
sei dizer como foi – mas, ao primeiro relance do edifício, uma sensação de
insuportável desespero invadiu meu espírito. Digo insuportável; pois a
impressão não era atenuada por nada desse sentimento parcial de prazer, pois
que poético, com que a mente normalmente recebe até mesmo as imagens mais
austeras de desolação ou dissabor. Contemplei a cena diante de mim – a mera
casa, e os simples aspectos panorâmicos da propriedade – as paredes nuas – as
janelas vagas semelhantes a olhos – o capim esparso e espesso – uns poucos
troncos esbranquiçados de árvores fenecidas – com uma depressão de alma tão
absoluta que não a posso comparar mais adequadamente com nenhuma outra sensação
terrena senão com o estado pós-onírico daquele que se entregou às dissipações do
ópio – a amarga recaída na vida cotidiana – o hediondo cair do véu. Havia uma
gelidez, uma prostração, uma repulsa no coração – uma irremediável consternação
do pensamento que estímulo algum da imaginação podia instigar ao que quer que
fosse de sublime. O que era isso – parei para pensar – o que era isso que me
debilitava ao contemplar a Casa de Usher?”