“Sempre
penso no pior. Agora mesmo estou calculando quanto demoraria para sair correndo
do carro e chegar até Nina, se ela corresse de repente para a piscina e se
atirasse. A isso dou o nome de ‘distância de resgate’, que é como chamo a
distância variável que me separa de minha filha, e passo a metade do dia
fazendo esse cálculo, embora sempre arrisque mais do que deveria.”
Duas
pessoas conversam. No início, não sabemos quem são, só que uma delas está para
morrer, e a outra instiga a doente a continuar falando, relembrando o que
aconteceu. Há urgência no relato. Amanda,
a enferma, quer saber da filha de 4 anos, Nina.
David, seu interlocutor, está
impaciente, só repete várias vezes ‘isso não é importante’ e ‘precisamos saber
o ponto exato’. Alternando entre o tempo presente, em que essa conversa se
desenrola, e acontecimentos de alguns dias antes, a narrativa nos dá peças para
que possamos tentar reconstruir a história na ordem cronológica. Ao fim da
leitura, foi possível estabelecer a linha do tempo, mas saber o que de fato
aconteceu... isso já são outros quinhentos, dando margem a várias teorias e
interpretações.