segunda-feira, 30 de junho de 2014

Leia o Livro, Veja o Filme: Febre de Bola

LIVRO: FEBRE DE BOLA

“Febre de bola” não é um livro sobre futebol; é um livro sobre paixões e obsessão. Nesta autobiografia, Nick Hornby nos conta um pouco sobre sua infância, adolescência e entrada na vida adulta, entrelaçando acontecimentos marcantes de sua existência com eventos futebolísticos. Mais do que um esporte, futebol é um estudo antropológico.

Como a grande maioria dos leitores, conheci o Hornby por meio de seu livro, que também virou filme, “Alta Fidelidade”. Depois, li “Como Ser Legal” (do qual não lembro absolutamente nada) e gostei tanto fui adquirindo os outros títulos do autor (que, vergonhosamente, nunca li). Pois é. Aproveitando o clima de Copa do Mundo, decidi tirar da estante o primeiro livro de Nick e pretendo, finalmente, ler todos os outros. Mas isso é assunto para outro post. Vou falar aqui de "Febre de Bola".

Nick é um garoto classe média, que sofre com o divórcio dos pais e vê no futebol uma válvula de escape da realidade. Inicialmente, o futebol foi o elo de ligação com seu pai, propiciou o início do diálogo entre eles; depois, acabou se tornando assunto de conversa com a mãe também. De um jeito peculiar, o futebol uniu uma família que estava se desfazendo.

Nas 245 páginas do livro, o autor faz uma análise do futebol como definidor de caráter, símbolo da masculinidade, elemento fundamental para entender a formação de identidade, as diferenças de classe a sociedade em geral. Não deixa de ser interessante, divertido e um tanto perturbador.

Como doente assumido (sim, ser torcedor fanático é uma espécie de enfermidade grave incurável), Nick revela como funciona a mente de um fanático do esporte, aquele tipo de cara que é um sofredor nato, que sabe de cor cada passe, cruzamento e gol envolvendo seu time, que usa um tipo especial de calendário - dividido em temporadas e que assume compromissos com base na tabela de jogos (qualquer evento fica em segundo plano - o que é totalmente incompreendido pelos indivíduos sãos).

“Febre de Bola” é um livro fácil de ler, mesmo para quem não tem familiaridade com o esporte. Claro que algumas partes acabam sendo mais chatas para os não-iniciados (um monte de nome de jogadores que não faço ideia de quem são, umas peculiaridades de times que não me interessam, enfim...), mas, no geral, é uma leitura envolvente e tem passagens muito engraçadas. Como, por exemplo, quando Nick conta sua primeira vez em um estádio, o arrebatamento de fazer parte da multidão, o choque de ver senhores distintos de terno (eram os anos 60, OK?) proferindo palavrões que ele nunca imaginou que tais pessoas pudessem dizer (e em tão alto som), a incredulidade diante da permissão da mãe para assistir a jogos fora de casa (‘Na época, me rejubilei: hoje em dia fico indignado. Onde é que ela estava com a cabeça? Será que ela nunca lia jornal ou via televisão? Não ouvira falar dos hooligans? (...) Eu podia ter morrido.’).

“Uma coisa que tenho certeza acerca do ato de torcer é o seguinte: não se trata de um prazer vicário, apesar de todas as aparências indicarem o contrário, e quem diz que prefere jogar a assistir não percebe o principal. O futebol é um contexto no qual assistir se torna jogar (...). Mas quando há alguma espécie de triunfo, o prazer não é irradiado dos jogadores para fora até nos atingir no fundo da arquibancada em forma pálida e reduzida; nosso prazer não é uma versão aguada do prazer do time, embora sejam eles que marquem os gols e subam os degraus de Wembley para cumprimentar a princesa Diana. A felicidade que demonstramos em ocasiões como essa não é uma celebração da boa sorte dos outros, mas da nossa própria; e quando ocorreu uma derrota desastrosa, a tristeza que nos engolfa é, na realidade, autopiedade, e quem quiser compreender como o futebol é encarado tem que perceber isso acima de tudo.”

A prosa do Hornby sempre vale a pena, independente do assunto. Recomendo!

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FILME: FEBRE DE BOLA

Nesta adaptação do livro, Colin Firth é Paul Ashworth, professor de inglês e treinador do time de futebol da escola, torcedor fanático do Arsenal, que se envolve com a nova professora, Sarah Hughes (Ruth Gemmell). Acostumado a ter o futebol como centro de sua vida e elemento fundamental para todas as decisões que toma, ele agora se sente perdido ao ter que dividir sua atenção com a nova namorada.


Nick Hornby fala, sim, de suas namoradas no livro. No entanto, são apenas comentários esparsos. Mas adaptar suas memórias exatamente do jeito mostrado no texto seria impossível. Optou-se, então, por focar nos dilemas de Paul diante das novas situações criadas por seu relacionamento, transformando a história em uma comédia romântica. O resultado é satisfatório.


Os acontecimentos da infância de Paul são intercalados com sua vida atual e, mesmo sendo breves pinceladas do passado, conseguem passar a importância que tiveram na formação do garoto, despertam a nostalgia de uma época em que, para se acompanhar os jogos, era preciso ir, de fato, ao estádio - uma era de inocência perdida.


Embora o filme seja de 97, a história se passa no comecinho dos anos 90, então tem aquele visual caraterístico, que ainda guardava resquícios da década anterior. Com roteiro do próprio Hornby, a produção também conta com uma trilha sonora bacaninha, mais uma cortesia de outra paixão do escritor: a música. Montei uma playlist com as faixas disponíveis, então quem quiser ouvir é só clicar AQUI.


“Febre de Bola” cumpre bem seu papel de comédia romântica, com um casal de protagonista em sintonia, situações engraçadas, conflitos e o indefectível final feliz. Um bom entretenimento.


- Em 2005, o livro ganhou uma segunda adaptação para as telas (“Amor em Jogo”) e, na versão americana da história, o futebol deu vez ao beisebol, com Drew Barrymore e Jimmy Fallon nos papéis principais.

Uma boa opção para aqueles dias em que tudo o que precisamos é cair no sofá e assistir a algo leve e descomplicado.

Trailer (sem legenda):


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