LIVRO: FEBRE DE BOLA
“Febre de bola” não é um livro sobre
futebol; é um livro sobre paixões e obsessão. Nesta autobiografia, Nick Hornby nos conta um pouco sobre
sua infância, adolescência e entrada na vida adulta, entrelaçando
acontecimentos marcantes de sua existência com eventos futebolísticos. Mais do
que um esporte, futebol é um estudo antropológico.
Como
a grande maioria dos leitores, conheci o Hornby por meio de seu livro, que
também virou filme, “Alta Fidelidade”.
Depois, li “Como Ser Legal” (do qual
não lembro absolutamente nada) e gostei tanto fui adquirindo os outros títulos
do autor (que, vergonhosamente, nunca li). Pois é. Aproveitando o clima de Copa
do Mundo, decidi tirar da estante o primeiro livro de Nick e pretendo,
finalmente, ler todos os outros. Mas isso é assunto
para outro post. Vou falar aqui de "Febre
de Bola".
Nick é um garoto classe média, que
sofre com o divórcio dos pais e vê no futebol uma válvula de escape da
realidade. Inicialmente, o futebol foi o elo de ligação com seu pai, propiciou
o início do diálogo entre eles; depois, acabou se tornando assunto de conversa
com a mãe também. De um jeito peculiar, o futebol uniu uma família que estava
se desfazendo.
Nas
245 páginas do livro, o autor faz uma análise do futebol como definidor de
caráter, símbolo da masculinidade, elemento fundamental para entender a
formação de identidade, as diferenças de classe a sociedade em geral. Não deixa
de ser interessante, divertido e um tanto perturbador.
Como
doente assumido (sim, ser torcedor fanático é uma espécie de enfermidade grave
incurável), Nick revela como funciona a mente de um fanático do esporte, aquele
tipo de cara que é um sofredor nato, que sabe de cor cada passe, cruzamento e
gol envolvendo seu time, que usa um tipo especial de calendário - dividido em
temporadas e que assume compromissos com base na tabela de jogos (qualquer
evento fica em segundo plano - o que é totalmente incompreendido pelos
indivíduos sãos).
“Febre de Bola” é um livro fácil de
ler, mesmo para quem não tem familiaridade com o esporte. Claro que algumas
partes acabam sendo mais chatas para os não-iniciados (um monte de nome de
jogadores que não faço ideia de quem são, umas peculiaridades de times que não
me interessam, enfim...), mas, no geral, é uma leitura envolvente e tem
passagens muito engraçadas. Como, por exemplo, quando Nick conta sua primeira
vez em um estádio, o arrebatamento de fazer parte da multidão, o choque de ver
senhores distintos de terno (eram os anos 60, OK?) proferindo palavrões que ele
nunca imaginou que tais pessoas pudessem dizer (e em tão alto som), a
incredulidade diante da permissão da mãe para assistir a jogos fora de casa (‘Na época, me rejubilei: hoje em dia fico
indignado. Onde é que ela estava com a cabeça? Será que ela nunca lia jornal ou
via televisão? Não ouvira falar dos hooligans? (...) Eu podia ter morrido.’).
“Uma
coisa que tenho certeza acerca do ato de torcer é o seguinte: não se trata de
um prazer vicário, apesar de todas as aparências indicarem o contrário, e quem
diz que prefere jogar a assistir não percebe o principal. O futebol é um
contexto no qual assistir se torna jogar (...). Mas quando há alguma espécie de
triunfo, o prazer não é irradiado dos jogadores para fora até nos atingir no
fundo da arquibancada em forma pálida e reduzida; nosso prazer não é uma versão
aguada do prazer do time, embora sejam eles que marquem os gols e subam os
degraus de Wembley para cumprimentar a princesa Diana. A felicidade que
demonstramos em ocasiões como essa não é uma celebração da boa sorte dos
outros, mas da nossa própria; e quando ocorreu uma derrota desastrosa, a
tristeza que nos engolfa é, na realidade, autopiedade, e quem quiser
compreender como o futebol é encarado tem que perceber isso acima de tudo.”
A
prosa do Hornby sempre vale a pena, independente do assunto. Recomendo!
Nesta
adaptação do livro, Colin Firth é Paul
Ashworth, professor de inglês e treinador do time de futebol da escola,
torcedor fanático do Arsenal, que se envolve com a nova professora, Sarah Hughes (Ruth Gemmell).
Acostumado a ter o futebol como centro de sua vida e elemento fundamental para
todas as decisões que toma, ele agora se sente perdido ao ter que dividir sua
atenção com a nova namorada.
Nick
Hornby fala, sim, de suas namoradas no livro. No entanto, são apenas
comentários esparsos. Mas adaptar suas memórias exatamente do jeito mostrado no
texto seria impossível. Optou-se, então, por focar nos dilemas de Paul diante
das novas situações criadas por seu relacionamento, transformando a história em
uma comédia romântica. O resultado é satisfatório.
Os
acontecimentos da infância de Paul são intercalados com sua vida atual e, mesmo
sendo breves pinceladas do passado, conseguem passar a importância que tiveram
na formação do garoto, despertam a nostalgia de uma época em que, para se
acompanhar os jogos, era preciso ir, de fato, ao estádio - uma era de inocência
perdida.
Embora
o filme seja de 97, a
história se passa no comecinho dos anos 90, então tem aquele visual caraterístico,
que ainda guardava resquícios da década anterior. Com roteiro do próprio
Hornby, a produção também conta com uma trilha sonora bacaninha, mais uma
cortesia de outra paixão do escritor: a música. Montei uma playlist com as
faixas disponíveis, então quem quiser ouvir é só clicar AQUI.
“Febre de Bola” cumpre bem seu papel de
comédia romântica, com um casal de protagonista em sintonia, situações
engraçadas, conflitos e o indefectível final feliz. Um bom entretenimento.
- Em
2005, o livro ganhou uma segunda adaptação para as telas (“Amor em Jogo”) e, na versão americana da história, o futebol deu
vez ao beisebol, com Drew Barrymore e Jimmy
Fallon nos papéis principais.
Uma
boa opção para aqueles dias em que tudo o que precisamos é cair no sofá e
assistir a algo leve e descomplicado.
Trailer (sem legenda):
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