terça-feira, 16 de setembro de 2014

Resenha: Gathering Blue


Temos uma pequena alteração na ordem dos posts, pois não consegui ir ao cinema ainda. Então, hoje vou falar do livro 2 da Saga O Doador

Ao contrário do universo asséptico e perfeito do início da série, em “Gathering Blue” o ambiente é mais próximo da nossa realidade. O povoado onde vive nossa protagonista, Kira, é de gente trabalhadora e pobre. E é por isso que, quando a mãe de Kira morre, a menina é ameaçada de expulsão por outros moradores, que já têm planos para o terreno de sua casa. Sem família, correndo o risco de perder seu lar e ainda por cima dependente de bengala, Kira não sabe o que será de seu futuro. Sua única saída é apelar para o Conselho dos Guardiões da cidade e torcer para que eles decidam a seu favor. 

Como eu disse no parágrafo introdutório, o mundo apresentado pela autora desta vez é totalmente o oposto daquele visto no primeiro livro. Os habitantes do povoado têm uma rotina dura, na qual as mulheres cuidam dos inúmeros filhos, que correm como selvagens pelas ruas, e também se encarregam das plantações, da fabricação de roupas e do comércio, enquanto aos homens cabe a responsabilidade de adentrar a floresta para caçar. A mata é um local mítico e assustador que delimita a cidade e abriga as feras que mantêm os supersticiosos habitantes sempre no mesmo lugar. Aliás, foi em uma caçada que Kira perdeu o pai.

A mãe de Kira lutou muito para ficar com a filha: de acordo com os costumes locais, a garota deveria ter sido levada embora, já que tinha um problema físico e jamais poderia trabalhar como os outros. No entanto, a menina ajudava como podia, colhendo alimentos na horta e juntando retalhos na oficina de costura. Foi sua habilidade com as linhas e agulhas que a tirou do sufoco após o falecimento da mãe. Na verdade, Kira não era apenas hábil; ela tinha um dom. Assim, ela se torna “A Tecelã” e, para desenvolver plenamente seu dom, ganha um quarto no imponente prédio do Conselho, tendo como responsabilidade restaurar a túnica do “Cantor”, na qual intrincados bordados contavam toda a história da humanidade, com seus momentos de glória e suas ruínas. O problema é que Kira sabia bordar, mas ainda não tinha aprendido a tingir as linhas. E tinha mais uma dificuldade: nada no vilarejo poderia gerar a cor azul. A busca pela cor do céu leva a menina enfrentar suas limitações e o medo da floresta e a faz descobrir o que havia por trás da benevolência do Conselho.

Em comum com o primeiro livro, o fato de os personagens irem ganhando sílabas nos nomes conforme atingem determinadas idades, os dons que alguns deles possuem, o desconhecimento do resto do mundo além das fronteiras e a regra de 'mandar embora' os problemáticos (um bebê que não dormisse a noite toda, no 1o livro; uma garota com a perna atrofiada, no 2o livro). Se em “O Doador” a obediência dos cidadãos era mantida com escutas nas casas e com a obrigação de relatar os sonhos, em “Gathering Blue” a submissão se dá pelo medo das feras da floresta; no primeiro livro a noção de passado era muito vaga e no segundo a história é registrada em uma túnica - mas em ambos os casos há um evento anual que reúne toda a população para marcar a passagem de tempo.

Gostei muito de ver como, embora o cenário e os personagens sejam totalmente distintos daqueles do primeiro livro, Lois Lowry inseriu pequenos detalhes que formam os elos de ligação entre as histórias. E adorei Matt, o garotinho remelento e brigão, amigo de Kira. Ele está sempre acompanhado de seu cachorro pulguento, fala de um jeito todo errado e adora bancar o valente, mas tem o coração de manteiga. Meu personagem favorito.


Uma boa continuação para um livro bom. É possível ler este volume sem ler o primeiro, mas recomendo a leitura de ambos.

Este post faz parte do Desafio Literário Skoob 2014 - Mês de Setembro: Séries. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DLSkoob2014, clique AQUI. 

Veja também:
Post do Filme: O Doador de Memórias
Resenha do Livro 1 - O Doador
Resenha do Livro 3 - Messenger
Resenha do Livro 4 - Son

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