A
história de passa em uma aldeia em que não existe animal de nenhum tipo: eles
desapareceram há muitos anos, levados por Nehi,
o demônio que todas as noites desce com seu manto negro para assombrar os
habitantes e mora dentro de uma montanha do bosque proibido. A mata guarda
muitos mistérios e perigos: os poucos que se arriscaram a entrar lá, não
voltaram. Ou voltaram com a doença do
relincho.
A
aldeia que serve de cenário para a trama é um lugar isolado, tranquilo, antigo.
Embora à primeira vista pareça um local bonito, é, no fundo, uma comunidade
triste, cinza, cheia de medos. Dos tempos ancestrais em que havia bichos por
lá, ninguém quer comentar. Os poucos que insistem em manter viva a memória dos
animais e de uma época mais feliz são hostilizados, taxados de loucos.
Entre
os corajosos que ousam contar histórias do passado estão a Professora Emanuela (que é desacreditada por todos não só por
querer ensinar aos alunos sobre os animais, mas porque nunca foi capaz de
arranjar um marido), o Pescador Almon
(que, na verdade, desde que os peixes desapareceram, virou lavrador, e é motivo
de chacota por conversar todas as tardes com as árvores e com o espantalho de
sua plantação), a Padeira Viúva Lídia (que era considerada maluca porque sempre joga migalhas pelo terreno, à espera de pássaros que não existem) e o Consertador de
Telhado Dahir (que se recusa a se entregar à tristeza que impregna a aldeia
e, nas noites quentes de verão, se reúne com amigos na praça da cidade para beber cerveja e falar animadamente sobre coisas proibidas).
Um
dia, Nimi, um dos garotos que era constantemente ridicularizado na escola por sua aparência e imaginação
fértil, desaparece. Quase um mês depois ele volta, todo sujo, esfarrapado e
relinchando – prova incontestável de que ele havia entrado no bosque. Se antes
de sua transgressão ninguém queria ser amigo dele nem ficar ao seu redor,
depois da contaminação ele vira um pária de vez: até os pais o renegam, com
medo de serem discriminados também. Intrigados, Maia e Mati resolvem
cruzar os limites da aldeia para investigar o que teria de fato acontecido com
o colega de classe.
“De repente, nas profundezas do bosque” é
um livro encantador que fala de preconceito contra aqueles que fogem do padrão,
aqueles que se arriscam, que ousam sonhar. Fala também do medo do desconhecido,
do receio de ser diferente e, portanto, hostilizado. Por meio de uma fábula
para todas as idades, Amós Oz nos
conta uma história cheia de aventuras e descobertas vividas por duas crianças
em uma terra misteriosa, assustadora, mas também cheia de tesouros. Com Maia e
Mati somos levados a aprender com os erros (nossos e dos outros), enxergar além
do que os olhos veem, respeitar todos os seres vivos, enfim... a lutar por um
mundo melhor.
“Em
algumas crianças essas histórias despertavam uma espécie de saudade sombria em
relação ao que talvez tivesse havido aqui no passado mas que nunca teria
existido. Mas também havia muitas crianças que não queriam ouvir absolutamente
nada, ou ouviam e debochavam dos pais e da professora Emanuela: durante tantos
anos não foi visto aqui na aldeia nenhum animal, até que a maioria das crianças
chegou à conclusão de que todos aqueles MU, MÉ e MIAU, todos os AZ, AI, AU,
GRRR eram na realidade invenções esquisitas que os pais criaram um dia,
crendices sem importância que já passaram do tempo e que agora era preciso
afastá-las para que afinal pudessem viver a vida real, porque quem vive de
fantasias simplesmente não é como nós, e quem não é como nós também vai adoecer
do relincho, e todos vão manter distância dele, e ninguém jamais poderá
salvá-lo."
Leitura
deliciosa! Recomendo!
3 comentários:
Que legal, Mi, eu tenho esse livro aqui mas nunca fui atrás de saber sobre o que era, acho que eu pensava até que era um texto de não-ficção, sei lá o motivo, rs. Como estou lendo muitos calhamaços, acho que vou colocar ele na minha lista do ano. Beijinhos!
=)
Deliciosa mesmo!!
Também adorei este livro. O primeiro que li dele.
Bjks mil
Lua,
Hahaha... sei como é. Vira e mexe eu imagino que os livros são sobre assuntos totalmente diferentes! É perfeito para ler entre calhamaços.
Clau,
Foi meu segundo - bem diferente do anterior - mas gostei muito de ambos.
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