Os
últimos três meses têm sido bem enrolados por aqui, então nem sempre tenho
conseguido assistir aos filmes previamente selecionados para fazer posts
temáticos. No entanto, isso não quer dizer que eu não esteja assistindo a
filmes dirigidos por mulheres. Com tema ou sem tema, o que importa é ver os
filmes, certo? Hoje falarei de ‘Mercado de capitais’, ‘Acorrentados’,
‘Mate-me por favor’, 'O bebê de Bridget Jones’ e ‘Buster’s mal
heart’, todos eles (exceto o último) assistidos na TV (HBO, Space e
Telecine).
Mercado
de capitais (Equity, 2016 – Meera Menon) [Estados Unidos]
No competitivo
mercado de ações, uma mulher luta para ganhar a conta de uma importante empresa
de tecnologia depois de não ter tido um desempenho muito bom com um cliente
anterior. Além disso, conseguir o negócio a deixaria em uma posição de vantagem
na disputa interna para ocupar um alto cargo na companhia em que trabalha. Para
atingir seus objetivos, ela conta com a ajuda de sua VP. Mas sabem como é,
ambientes tóxicos geram relações de puro interesse e vale tudo para chegar ao
topo. Todo o jogo sujo e as trapaças vistos em ‘O lobo de Wall Street’, mas sem
o viés cômico e a glamorização do cenário. A inovação aqui foi colocar mulheres
nos papéis principais, o que adiciona novos dilemas à trama: carreira vs
maternidade, a constante necessidade de provar sua competência, mostrar que
ambição e apego ao dinheiro e poder podem, sim, ser valores femininos (sem
juízo moral aqui). Gostei.
Nota: 4,5/5
Meera
Menon é uma diretora americana que desde a infância se interessou por
cinema, já que o pai era produtor e embaixador cultural no Sul da Índia. Mas
foi só ao entrar na universidade que ela começou a pensar seriamente na
carreira de cineasta. Sua estreia na direção foi com ‘Farrah goes bang’
no Festival de Tribeca de 2013, onde ganhou o Prêmio Nora Ephron por seu
trabalho inovador. Além disso, Meera foi selecionada pela revista Glamour
como uma das ‘35 Mulheres com Menos de 35 Anos que Comandam Hollywood’. ‘Mercado
de Capitais’ é seu segundo longa-metragem.
Acorrentados
(Chained, 2012 – Jennifer Lynch) [Estados Unidos]
O
garoto Tim e sua mãe pegam um táxi ao saírem de uma sessão de cinema e são
levados pelo taxista maníaco, Bob, até uma casa isolada. Lá, a mãe é morta e
Tim, após inúmeras tentativas de fugas mal-sucedidas e punições por tais atos,
é acorrentado (ou seja, o título deveria ser ‘Acorrentado’, já que só há uma
pessoa nessa situação) e vive com seu raptor durante anos, servindo de escravo.
Ao chegar à maioridade, Tim tem a chance de se livrar das correntes, mas só se
aceitar a proposta de Bob: ele também deverá sair para caçar mulheres. Taí um
filme que me surpreendeu. Começou bem sanguinolento, com a morte de várias
vítimas de Bob, mas depois virou um terror psicológico dos bons, explorando a
bizarra relação entre prisioneiro e carrasco e resgatando acontecimentos do
passado de Bob que eu nem lembrava mais e que me deixaram chocada. Adoro quando
um filme consegue me enganar desse jeito... rs. Dica certeira para quem não se importa com certa dose de violência e sangue e muita tensão.
Nota:
4/5
Jennifer
Lynch é uma roteirista e cineasta americana, também conhecida por ter
escrito o livro 'O diário de Laura Palmer', do universo da série de TV
'Twin Peaks'. Estreou na telona pelas mãos do pai, o cineasta David Lynch,
fazendo uma ponta de 'Erasehead' (cortada na edição final) e como
assistente de produção em 'Veludo azul'. Dirigiu episódios de vários
seriados televisivos, entre eles 'Teen Wolf', ‘The Walking Dead’, ‘Wayward
Pines’ e ‘American Horror Story’. Seu primeiro longa foi ‘Encaixotando
Helena’, e ‘Acorrentados’ é seu quarto trabalho na direção de
filmes.
Mate-me
por favor (Mate-me por favor, 2015 – Anita Rocha da Silveira)
[Brasil]
O
filme começa como se fosse um terror/suspense sobre serial killers,
mas pouco depois fica claro que a diretora não está interessada em investigar
os crimes, descobrir o assassino nem revelar o que há por trás dessas mentes
deturpadas – o foco é a adolescência e as peculiaridades dessa fase da
vida. Há um quê do clássico 'Conta Comigo' nas histórias de fantasma, violência e morte contadas pelas garotas nos intervalos entre as aulas, mas aqui as personagens são típicas adolescentes do século 21, seus medos são mais palpáveis e o perigo está mais perto do que no caso dos ingênuos meninos do filme adaptado da obra de Stephen King. Sexo (e o dilema culpa e desejo), amizade entre mulheres, busca por
aceitação/enquadramento nos padrões esperados, curiosidade com relação à morte
e também sua banalização, ausência dos pais (e dos adultos em geral) e outros
assuntos são tratados não de forma direta e didática, mas num clima de
suspense, cheio de silêncios e com tintas sobrenaturais em alguns momentos.
Achei incrível e intrigante, bem diferente mesmo. Não há respostas fáceis aqui.
Eu ainda estou ruminando a história e analisando possibilidades, mas não me
entendam mal: a dúvida, aqui, é um ponto positivo. Recomendo muitíssimo. Aliás,
na página da diretora no Vimeo é possível assistir aos seus curtas, que
dialogam diretamente com o longa.
Nota:
4/5
Anita
Rocha da Silveira é uma roteirista, montadora e diretora brasileira
formada em Cinema pela PUC-Rio. Seus três curtas ('O vampiro do meio-dia',
'Handebol' e 'Os mortos-vivos') foram muito elogiados em festivais e
'Handebol' recebeu o prêmio da Crítica Internacional no Festival de Oberhausen de
2011. ‘Mate-me por favor’ é seu
primeiro longa-metragem e foi selecionado para o Festival de Veneza de 2015 e
ganhou o prêmio de Melhor Direção de Ficção no Festival do Rio de 2015.
O
bebê de Bridget Jones (Bridget Jones’s baby, 2016 – Sharon Maguire)
[Inglaterra]
Mais
de 10 anos após o lançamento do segundo filme, eis que surge a terceira parte
da saga de Bridget Jones, a moça (atualmente com quarenta e tantos anos) meio
atrapalhada cujos objetivos sempre foram emagrecer, ser reconhecida no trabalho
e bancar a mulher moderna e independente que está feliz consigo mesma (mas que
no fundo quer o combo convencional de marido+filho). Agora ela conseguiu
atingir suas duas primeiras metas, mas continua frustrada por não estar nem
perto do desejado 'foram felizes para sempre', e, claro começa a sentir
a pressão de realizar mais um sonho pré-fabricado (ser mãe) antes que seu prazo
de validade expire. Enfim... me diverti muito com os 2 primeiros livros e suas
respectivas adaptações duas décadas atrás e fiquei com enorme preguiça de ler o
terceiro volume. Resolvi encarar só o filme por pura nostalgia da protagonista,
mas não foi nem de longe tão agradável. Mas sou claramente Bridget Jones no
festival de música (quem são esses artistas?... hahaha), tirando a parte do
modelito inadequado, óbvio, e na vida (que merda esses jovens hipsters acham
que estão fazendo?) – ou seja, estou velha e não tenho mais paciência com nada.
Concluindo, o filme é OK. E só.
Nota:
3/5
Sharon
Maguire é uma roteirista e diretora inglesa que trabalhou como revisora
antes de ingressar na sétima arte. Começou sua carreira na TV, como
produtora/diretora do The Late Show da BBC, depois dirigiu vários
documentários para o canal e por fim foi para a área de propaganda. ‘O
diário de Bridget Jones' foi sua estreia na direção de longas. Ela também
participou do projeto ‘Call me crazy: a five film’, cinco curtas sobre
doenças mentais dirigidos por mulheres. ‘O bebê de Bridget Jones’ é
seu quarto trabalho na direção.
Buster’s
mal heart (Buster’s mal heart, 2016 – Sarah Adina Smith) [Estados
Unidos]
Adoro
o trabalho do Rami Malek na série ‘Mr. Robot’ e foi por isso que decidi
ver esse filme. Aqui, ele interpreta Jonah, um dedicado esposo e pai que dá
duro trabalhando à noite como concierge em um hotel decadente próximo ao
aeroporto para juntar dinheiro e comprar um terreno onde pretende construir uma
casa para sua família. O problema é que seus turnos o afastam daqueles que ele
mais ama e estão acabando com sua saúde, principalmente mental. Um dia, aparece
um sujeito estranho no hotel, falando sobre o colapso mundial que se aproxima
(o filme se passa na virada do milênio) e como os homens têm suas mentes
escravizadas pelo sistema e como fazer para ser livre nesse mundo de horrores.
Jonah embarca nas loucuras do carinha e desenvolve a personalidade de Buster, o
ermitão que deixa tudo para trás para ser livre. Como se não bastasse a
confusão da mente de Jonah/Buster que arrasta o espectador para seu cérebro
bagunçado, há ainda cenas de Buster em uma jangada em alto mar, aludindo à
história bíblica de Jonas e baleia e a um Deus manipulador e nada
misericordioso. A narrativa é toda fragmentada, sem indicação do que aconteceu
antes ou depois ou se tudo aconteceu ao mesmo tempo ou se está tudo na cabeça
do protagonista. Enfim… várias interpretações são possíveis. Alguns elementos
fazem as ligações entre as cenas (por exemplo, o sapo de brinquedo na banheira
e os sapos na jangada) e também podem ser vistos segundo suas simbologias (de
evolução/transformação, no caso). Para quem gosta de quebrar a cabeça e
discutir inúmeras possibilidades de uma história, indico este aqui.
Nota:
4/5
Sarah
Adina Smith é uma diretora e montadora americana. Em seu currículo
constam 3 curtas individuais, além de outro como participação no filme ‘Holidays’
(2016), que traz várias histórias de terror dirigidas por diversos diretores
sobre feriados variados. Ela também já dirigiu episódios de séries de TV ('Room
104' e 'Wrecked') e um longa-metragem (‘The Midnight Swim’)
antes de ‘Buster’s Mal Heart’.
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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação deste segundo ano do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Para ver o post de apresentação do primeiro ano do projeto com a lista de filmes e links, clique AQUI.
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