No
post anterior, falei sobre 3 filmes dirigidos por mulheres que foram indicados
ao Globo de Ouro e/ou Oscar 2018. Hoje falo de mais 3 produções: Mudbound –
Lágrimas sobre o Mississipi, Corpo e Alma e Visages, Villages.
Também há mulheres na direção de outros documentários e animações, mas ficarão
para próximas postagens. Vamos lá.
Mudbound
– Lágrimas sobre o Mississipi (Mudbound, 2017 – Dee Rees) [Estados
Unidos] #GloboDeOuro2018 #Oscar2018
História
sobre uma mulher considerada “encalhada” que se casa e vai morar com o marido
em uma fazenda no interior de Mississipi. Sendo uma pessoa urbana, ela sofre
para se adaptar à nova condição e pela perda de autonomia. A chegada do
cunhado, após o fim da Segunda Guerra, abala a calmaria do local porque, além
de ser um cara que a enxerga e entende sua frustração, o camarada ainda vira
amigo do rapaz negro, também veterano de guerra, o que escandaliza a população
que não estava nem um pouco a fim de conferir direitos iguais a brancos e
negros. Uma grande injustiça esse filme não ter sido indicado na categoria
Melhor Filme ou Melhor Diretor, embora tenha recebido outras 4 indicações (a de
Melhor Fotografia para Rachel Morrison é a mais importante e provavelmente vai
levar – merecidamente). É o meu filme preferido dos que vi até agora para o Oscar e Globo de Ouro porque consegue tratar de temas
variados e importantes de forma equilibrada: do papel das mulheres (adoro como
a esposa do fazendeiro se une à esposa da família negra que trabalha em suas
terras para resolver questões cotidianas que o marido considera irrelevantes),
das sequelas da guerra, de sonhos destruídos, de rixas entre irmãos, de
amizades e, claro, de racismo. Simplesmente perfeito!
Nota:
5/5
Dee
Rees é uma roteirista e diretora norte-americana que tem no currículo
episódios de séries como Electric Dreams e Empire, 1 documentário
e 2 longas: “Pariah” e “Mudbound”.
Corpo
e Alma (Testrol es Leleskrol, 2017 – Ildikó Enyedi) [Hungria] #Oscar2018
Mária
é uma mulher que começa a trabalhar como inspetora de qualidade num matadouro.
Embora seja extremamente eficaz e meticulosa no desempenho de sua função, ela
não tem habilidades sociais. Quando um tal de “pó do acasalamento” desaparece
do escritório da firma, a polícia é acionada e, além dos investigadores de
praxe, uma psicóloga é enviada para entrevistar os funcionários, já que, assim,
seria possível descobrir quem roubou o pó. Durante as sessões, ficamos sabendo
que Mária e o Diretor Financeiro têm um sonho compartilhado todas as noites, no
qual se veem como cervos. O fato inusitado acaba irritando a psicóloga e aproxima
os dois colegas de trabalho. O filme é muito bonito e lida com dualidades: a
beleza num ambiente de sofrimento, dois personagens com deficiências físicas
(ele tem um braço paralisado; ela tem um corpo que desconhece o toque – dela e
de outras pessoas) e que são opostos em termos de amor (ele diz ter amado
demais; ela nunca amou ninguém). Gosto muito de como a diretora ilustra o
desabrochar de Mária: numa das primeiras cenas, na hora do intervalo, os
funcionários socializam no pátio à luz do sol, enquanto ela se esconde atrás de
um pilar e encolhe os dedos do pé para que nem eles fiquem na área ensolarada;
depois, quando ela começa a se encontrar com o Diretor para discutir os sonhos
e estabelece com ele uma conexão de almas, ela abre a janela de seu apartamento
e ergue o rosto na direção do sol, desfrutando do prazer simples que é sentir o
calor em sua pele. No fundo, é a velha história de almas gêmeas, mas contada
com alegorias e imagens belíssimas. Recomendo muito. Só deixo o alerta: a
história se passa num abatedouro, então, sim, há imagens de animais sendo
mortos e despedaçados.
Nota:
4/5
Ildikó
Enyedi é uma roteirista e diretora húngara com 7 longas no currículo,
sendo “Corpo e Alma” seu trabalho mais recente.
Visages,
Villages (Visages, Villages, 2017 – Agnès Varda, JR e Rosalie Varda)
[Bélgica] [França] #Oscar2018
Esta
é a primeira indicação de Agnès Varda ao Oscar, mas ela tem mais de 50
produções na bagagem, fora as participações em filmes e documentários como
personagem e seu trabalho como fotógrafa. Este ano ela já recebeu o Prêmio
Honorário da Academia (demorou, não?) e revelou que “Visages, Villages”
será seu último filme. Enfim, nesta empreitada, ela se une ao fotógrafo francês
e muralista JR e eles rodam cidadezinhas francesas atrás de histórias de
pessoas comuns em lugares que não constam em grandes rotas turísticas.
Conversando com moradores, eles resgatam suas histórias pessoais e sua relação com
suas comunidades, e retribuem fotografando essas pessoas e criando murais que
integram rostos e locais (o “visages, villages” do título). Achei o filme uma
delícia e me emocionei com várias histórias (a dos mineiros, a das esposas dos
estivadores, a da criadora de cabras que se recusa a cortar os chifres dos
animais só para aumentar os lucros, etc) e adorei ver a dinâmica entre Varda e
JR – que têm idades muito diferentes (ela tem 88, ele tem 33) – e abordagens
distintas da fotografia, mas, de algum modo, a parceria funcionou muito bem.
Ah, Rosalie Varda, filha da cineasta, também está creditada como diretora neste
trabalho. Indico fortemente!
Nota:
4,5/5
Agnès
Varda é de tudo: fotógrafa, diretora, roteirista, produtora, atriz.
Nasceu na Bélgica, mas vive na França. É precursora da Nouvelle Vague francesa
e seus trabalhos têm sempre um quê de crítica social e feminismo. Seu filme de
2009, "As praias de Agnès" ganhou
o Prêmio César de Melhor Documentário.
*******************
Nenhum comentário:
Postar um comentário