quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Veja Mais Mulheres: Filmes #4-6


No post anterior, falei sobre 3 filmes dirigidos por mulheres que foram indicados ao Globo de Ouro e/ou Oscar 2018. Hoje falo de mais 3 produções: Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi, Corpo e Alma e Visages, Villages. Também há mulheres na direção de outros documentários e animações, mas ficarão para próximas postagens. Vamos lá.

Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi (Mudbound, 2017 – Dee Rees) [Estados Unidos] #GloboDeOuro2018 #Oscar2018
História sobre uma mulher considerada “encalhada” que se casa e vai morar com o marido em uma fazenda no interior de Mississipi. Sendo uma pessoa urbana, ela sofre para se adaptar à nova condição e pela perda de autonomia. A chegada do cunhado, após o fim da Segunda Guerra, abala a calmaria do local porque, além de ser um cara que a enxerga e entende sua frustração, o camarada ainda vira amigo do rapaz negro, também veterano de guerra, o que escandaliza a população que não estava nem um pouco a fim de conferir direitos iguais a brancos e negros. Uma grande injustiça esse filme não ter sido indicado na categoria Melhor Filme ou Melhor Diretor, embora tenha recebido outras 4 indicações (a de Melhor Fotografia para Rachel Morrison é a mais importante e provavelmente vai levar – merecidamente). É o meu filme preferido dos que vi até agora para o Oscar e Globo de Ouro porque consegue tratar de temas variados e importantes de forma equilibrada: do papel das mulheres (adoro como a esposa do fazendeiro se une à esposa da família negra que trabalha em suas terras para resolver questões cotidianas que o marido considera irrelevantes), das sequelas da guerra, de sonhos destruídos, de rixas entre irmãos, de amizades e, claro, de racismo. Simplesmente perfeito!
Nota: 5/5
Dee Rees é uma roteirista e diretora norte-americana que tem no currículo episódios de séries como Electric Dreams e Empire, 1 documentário e 2 longas: “Pariah” e “Mudbound”.

Corpo e Alma (Testrol es Leleskrol, 2017 – Ildikó Enyedi) [Hungria] #Oscar2018
Mária é uma mulher que começa a trabalhar como inspetora de qualidade num matadouro. Embora seja extremamente eficaz e meticulosa no desempenho de sua função, ela não tem habilidades sociais. Quando um tal de “pó do acasalamento” desaparece do escritório da firma, a polícia é acionada e, além dos investigadores de praxe, uma psicóloga é enviada para entrevistar os funcionários, já que, assim, seria possível descobrir quem roubou o pó. Durante as sessões, ficamos sabendo que Mária e o Diretor Financeiro têm um sonho compartilhado todas as noites, no qual se veem como cervos. O fato inusitado acaba irritando a psicóloga e aproxima os dois colegas de trabalho. O filme é muito bonito e lida com dualidades: a beleza num ambiente de sofrimento, dois personagens com deficiências físicas (ele tem um braço paralisado; ela tem um corpo que desconhece o toque – dela e de outras pessoas) e que são opostos em termos de amor (ele diz ter amado demais; ela nunca amou ninguém). Gosto muito de como a diretora ilustra o desabrochar de Mária: numa das primeiras cenas, na hora do intervalo, os funcionários socializam no pátio à luz do sol, enquanto ela se esconde atrás de um pilar e encolhe os dedos do pé para que nem eles fiquem na área ensolarada; depois, quando ela começa a se encontrar com o Diretor para discutir os sonhos e estabelece com ele uma conexão de almas, ela abre a janela de seu apartamento e ergue o rosto na direção do sol, desfrutando do prazer simples que é sentir o calor em sua pele. No fundo, é a velha história de almas gêmeas, mas contada com alegorias e imagens belíssimas. Recomendo muito. Só deixo o alerta: a história se passa num abatedouro, então, sim, há imagens de animais sendo mortos e despedaçados.
Nota: 4/5
Ildikó Enyedi é uma roteirista e diretora húngara com 7 longas no currículo, sendo “Corpo e Alma” seu trabalho mais recente.

Visages, Villages (Visages, Villages, 2017 – Agnès Varda, JR e Rosalie Varda) [Bélgica] [França] #Oscar2018
Esta é a primeira indicação de Agnès Varda ao Oscar, mas ela tem mais de 50 produções na bagagem, fora as participações em filmes e documentários como personagem e seu trabalho como fotógrafa. Este ano ela já recebeu o Prêmio Honorário da Academia (demorou, não?) e revelou que “Visages, Villages” será seu último filme. Enfim, nesta empreitada, ela se une ao fotógrafo francês e muralista JR e eles rodam cidadezinhas francesas atrás de histórias de pessoas comuns em lugares que não constam em grandes rotas turísticas. Conversando com moradores, eles resgatam suas histórias pessoais e sua relação com suas comunidades, e retribuem fotografando essas pessoas e criando murais que integram rostos e locais (o “visages, villages” do título). Achei o filme uma delícia e me emocionei com várias histórias (a dos mineiros, a das esposas dos estivadores, a da criadora de cabras que se recusa a cortar os chifres dos animais só para aumentar os lucros, etc) e adorei ver a dinâmica entre Varda e JR – que têm idades muito diferentes (ela tem 88, ele tem 33) – e abordagens distintas da fotografia, mas, de algum modo, a parceria funcionou muito bem. Ah, Rosalie Varda, filha da cineasta, também está creditada como diretora neste trabalho. Indico fortemente!
Nota: 4,5/5 
Agnès Varda é de tudo: fotógrafa, diretora, roteirista, produtora, atriz. Nasceu na Bélgica, mas vive na França. É precursora da Nouvelle Vague francesa e seus trabalhos têm sempre um quê de crítica social e feminismo. Seu filme de 2009, "As praias de Agnès" ganhou o Prêmio César de Melhor Documentário.

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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação desta terceira edição do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Também dá para conferir o post de apresentação e a lista de filmes e links do primeiro ano e do segundo ano do projeto.

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