quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Veja Mais Mulheres: Filmes #17-21



E aqui estou eu para mais um mês de outubro dedicado ao terror. Para começar, nada melhor que cinco filmes de terror dirigidos por mulheres.

Honeymoon (Honeymoon, 2014 – Leigh Janiak) [Estados Unidos]
Paul e Bea são recém-casados que decidem passar a lua de mel na antiga casa de veraneio da família dela. Obviamente apaixonados, eles não se desgrudam. O clima de intimidade só é quebrado quando Paul faz uma brincadeira com relação a uma futura gravidez, coisa que certamente não haviam discutido e que perturba a moça. Um antigo amor juvenil de Bea, que eles encontram no único restaurante do vilarejo, agrava a situação ao despertar ciúme em Paul e preocupação em Bea ao ver o amigo de infância tratar a esposa de forma violenta. O estopim de uma briga é o desaparecimento de Bea por algumas horas durante a noite, encontrada mais tarde em um estado semelhante ao de sonambulismo. E no dia seguinte ela começa a agir de forma estranha. Bem, não posso dizer que tenha sido surpreendida – saquei logo o que estava acontecendo com ela. Mesmo assim, gostei da atmosfera de paranoia e do desfecho. E achei o casal superentrosado.
Nota: 4/5
Leigh Janiak é uma roteirista e diretora americana. Honeymoon é seu primeiro filme. Ela dirigiu episódios das séries de TV Pânico (2015) – inspirada nos filmes e Outcast (2016), ambas de terror. Ao que parece, ela vem trabalhando no filme Jovens Bruxas 2, a ser lançado em 2019.

Alma Gêmea (Soulmate, 2014 – Axelle Carolyn) [Bélgica]
Audrey é uma mulher atormentada pela morte do esposo. Após uma tentativa de suicídio, ela resolve se isolar em uma casa no campo para tentar se reerguer. Logo na primeira noite ela ouve barulhos vindos do sótão. Na manhã seguinte, ela vai falar com o responsável, que diz que provavelmente eram apenas ratos e se nega a dar a chave do cômodo à inquilina, alegando que o dono da casa havia deixado seus pertences guardados ali. Mas os barulhos continuam e ela acha ter visto um intruso dentro de casa numa madrugada. Quando ela finalmente entra no sótão, encontra mais do que objetos e fotografias. A atmosfera gótica é bem bacana, com portas que batem, pisos que rangem, vento que açoita as vidraças sem parar e vizinhos estranhos que querem perpetuar o mistério que envolve o ex-morador da casa. A trama, no entanto, não me marcou. Para quem gosta de histórias de fantasma.
Axelle Carolyn é uma jornalista, atriz, produtora, roteirista e diretora belga. Entre 2005 e 2008, ela escreveu sobre terror para vários sites e revistas e, 2008, ganhou um prêmio pela publicação do livro de não-ficção It lives again! Horror movies. Em 2014, criou e coproduziu a antologia de terror Tales of Halloween, na qual dirigiu um episódio (já falei desse filme aqui).

A Maldição da Freira (The devil’s doorway, 2018 – Aislinn Clarke) [Irlanda]
Neste found footage, dois padres são enviados pelo Vaticano, nos anos 60, a um convento irlandês que servia de abrigo para órfãos, mães solteiras ou mulheres com transtornos mentais, para investigar um suposto milagre: uma estátua que chora lágrimas de sangue. Ao chegarem lá, eles encontram um ambiente de abusos por parte das freiras, principalmente da madre superiora, a clássica carrasca que usa religião para punir em vez de acolher e transformar. A investigação do milagre fica até em segundo plano quando os padres encontram no porão uma jovem grávida acorrentada que parece estar possuída por algum demônio. Com dois religiosos que são o perfeito contraponto um do outro (um mais velho e cético, decepcionado com as atitudes da igreja; o outro jovem, entusiasmado e cheio de esperança) e uma atmosfera claustrofóbica, o filme mantém a tensão. Mas o horror, para mim, vem mais da crueldade humana tão normatizada em instituições religiosas – naquele tempo e ainda hoje – do que dos eventos sobrenaturais. De qualquer modo, é um filme OK.
Nota: 3/5
Aislinn Clarke é uma produtora, roteirista e diretora irlandesa com 3 curtas e 1 longa no currículo. A maldição da freira é o primeiro filme de terror escrito e dirigido por uma mulher irlandesa e é inspirado em uma história real sobre os horrores infligidos pela igreja católica a mãe solteiras que acabavam nos Asilos de Madalena em busca de abrigo e proteção e eram escravizadas e maltratadas – a instituição funcionou de 1765 a 1996.

Mortos de Fome (Ravenous, 1999 – Antonia Bird) [Inglaterra]
Em um jantar oficial do exército, o tenente Boyd recebe uma medalha de honra por sua atuação corajosa na guerra dos EUA contra o México, mas tudo não passa de uma manobra para afastá-lo do regimento e mandá-lo para um forte lá nos confins da Califórnia (época em que a região era o oeste selvagem). Seus companheiros de forte também são ex-combatentes com algum tipo de dano psicológico. Numa noite de nevasca, eles resgatam um homem à beira da morte por congelamento. O homem conta uma história terrível de coisas que foi obrigado a fazer para não morrer de fome nos meses que passou trancado com seu grupo em uma caverna, e diz que talvez ainda haja alguém vivo. Os soldados, então, decidem ir com o estranho até a caverna para verificar e, claro, as coisas dão muito errado. Achei meio arrastado, mas é interessante como o mito do wendigo é usado para fazer uma crítica à corrida do ouro e ao massacre indígena promovido por gente gananciosa.
Nota: 3/5
Antonia Bird é uma diretora de teatro, produtora e cineasta inglesa. Ela tem cinco longas como diretora, além de 4 filmes para a TV e 1 documentário (3 deles ganhadores do prêmio BAFTA) e séries. Seu primeiro trabalho na televisão foi Submariners (1983), adaptação de uma das produções de teatro que ela dirigiu.

Desejo e Obsessão (Trouble every day, 2001 – Claire Denis) [França]
Um casal que viaja a Paris em lua de mel. Um médico que abandona a carreira em um grande laboratório para atender como clínico geral e poder passar mais tempo em casa perto da mulher doente. A premissa parece simples e a trama se desenrola devagar, quase sem diálogo. No entanto, palavras não são mesmo necessárias quando desde a primeira cena já dá para notar que há algo muito estranho acontecendo com esses casais. Não quero falar muito porque acho que é aquele tipo de filme que quanto menos se sabe da história antes da sessão, melhor. Digo apenas que a sensação que me acompanhou o tempo todo foi a de incômodo, de estranhamento. E também fascínio e repulsa pelas cenas de sexo e morte. Talvez tenha sido essa a intenção. Só para lembrar: é um filme de terror, OK? Com sangue. Bastante.
Nota: 4/5
Claire Denis é uma roteirista e diretora francesa. Seus filmes têm como tema o colonialismo francês na África (ela cresceu em países do leste africano) e questões atuais na sociedade francesa. Seu primeiro filme, Chocolate, de 1988, aborda essa primeira temática. Ela tem 14 longas no currículo (incluindo 1 feito para TV), além de 7 curtas e 3 documentários. Seu trabalho mais recente, High Life, estreou em setembro de 2018 no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

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Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação desta terceira edição do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Também dá para conferir o post de apresentação e a lista de filmes e links do primeiro ano e do segundo ano do projeto.

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