segunda-feira, 23 de julho de 2012

Desafio Literário 2012: A Mulher que Escreveu a Bíblia (Moacyr Scliar)


O livro conta a história da Feia, filha mais velha de um líder tribal que é prometida em casamento ao Rei Salomão como uma aliança política. A Feia, que sabia que suas possibilidades de conseguir um marido eram ínfimas, se sente honrada e logo se apaixona pelo Rei, mas a demora de Salomão em consumar o casamento no leito nupcial gera imensa insatisfação na Feia. Indignada, ela começa a elaborar planos que a levariam à cama real, mobiliza as outras esposas a lutarem por seus direitos e consegue chamar a atenção do monarca, mas na verdade ele estava interessado era em uma habilidade rara nas mulheres daquele tempo: a capacidade de ler e escrever. Assim, a Feia foi incumbida de tornar realidade o sonho de Salomão de registrar em um livro a história da humanidade, e em especial do seu povo, ou seja, a Bíblia.

"A beleza é passageira, a feiura é para sempre".

A Feia é um dos personagens mais interessantes que já conheci. Retrata perfeitamente as dificuldades e preconceitos que todas as mulheres sofrem desde que o mundo é mundo, agravados pelo pior pecado que uma mulher pode cometer: ser feia. No entanto, a Feia consegue encarar tudo com bom-humor e determinação e apesar de todos os obstáculos que a vida lhe impõe, ela não desiste nunca. Está sempre elaborando planos, criando projetos, desenvolvendo estratégias, mas tudo o que faz é, no fundo, motivado por amor.

“A beleza faz falar, a beleza arranca das pessoas exclamações entusiastas. A feiura cala”.

Embora todas as atitudes da Feia sejam tomadas visando conquistar o coração de Salomão e, no início, ela tenha sentido raiva e ciúme das demais esposas e das concubinas, no decorrer da história a Feia percebe que todas ali estavam no mesmo barco e desenvolve junto com as outras mulheres uma união que até então jamais havia se visto no palácio. Sendo uma pessoa perspicaz, a Feia decide lutar pelo reconhecimento feminino usando armas que só ela possuía: a escrita. Ao assumir a missão de escrever a Bíblia, ela fica chocada com a forma como a história era contada e com o papel secundário da mulher. Então, ela pega os pergaminhos que os escribas haviam produzido até o momento e decide modernizar um pouco a história, dar mais emoção e lirismo ao texto. Lógico que foi duramente repreendida por isso, mas sua ousadia é admirável e revela o poder transformador da leitura e da escrita.

“...minha vida agora tinha significado: feia, eu era, contudo, capaz de criar beleza. Não a falsa beleza que os espelhos enganosamente refletem, mas a verdadeira e duradoura beleza dos textos que eu escrevia, dia após dia, semana após semana – como se estivesse num estado de permanente e deliciosa embriaguez.”

No fundo, a Feia representa todas as mulheres, pois, apesar das inúmeras conquistas alcançadas, até hoje somos julgadas pela aparência e tratadas como seres inferiores e menos capacitadas.

“Assim, me vi, no dia seguinte, escrevendo a história tal como eles queriam. A mulher sendo fabricada a partir de uma costela de Adão. A mulher dando ouvidos à serpente. A mulher provando do fruto da Árvore do Bem e do Mal. Em suma: a mulher cagando tudo”.

“A mulher que escreveu a Bíblia” era um livro que já estava na minha lista de leitura há tempos. A categoria de Prêmio Jabuti do Desafio Literário e o lançamento do título como parte da Coleção Folha Literatura Ibero-Americana foram o empurrão que eu precisava para conhecer a história. E que história! Com texto fluido, engraçado e envolvente, devorei o livro em 3 dias. A única coisa de que me arrependo é de não ter lido antes. Preciso dizer que superrecomendo?
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Este post faz parte do Desafio Literário 2012 - Tema de Julho: Prêmio JabutiPara ver minha lista de livros selecionados e outras resenhas já postadas, CLIQUE AQUI.


5 comentários:

Anônimo disse...

Na época que li também devorei em 2 ou 3 dias, Michelle! Você tá fazendo a coleção toda ou vai comprar só alguns? =)

Michelle disse...

Oi, Lua!
Estou fazendo a coleção toda, mas comprando um por um na banca de jornal.
bjo!

João disse...

Um dos livros mais divertidos que li esse ano...
E sobre a coleção, sabe que aqui em Juiz de Fora quase dá briga pra comprar? Os livros somem da banca no dia seguinte... tô até pensando em comprar a coleção completa pelo site...

Vivi disse...

A resenha faz jus à qualidade da obra em questão. Lembro-me das risadas que soltei quando o li há algum tempinho atrás. :)

Anônimo disse...

Parece ser muito bom. E, como mulher, sempre me parece interessante conhecer histórias de personagens femiminas fortes e que constroem algo.
bj