quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Resenha: Um Conto de Natal


Na noite da véspera de Natal, o ganancioso e amargo Ebenezer Scrooge recebe a visita do fantasma de seu antigo sócio, falecido há 7 anos, que anuncia ao ex-parceiro de negócios que ele deve se preparar para conhecer outros três espíritos (o dos Natais Passados, o do Natal Presente e o dos Natais Futuros), que o farão resgatar lembranças infantis, relembrar alguns momentos especiais de sua fase adulta e acenarão com tenebrosas possibilidades futuras.

Todo mundo conhece esta história, seja na animação protagonizada por Mickey e seus amigos, no especial dos Muppets de 1992 ou na versão da Disney que traz Jim Carrey encarnando o velho pão-duro. A obra de Dickens também serviu de inspiração a incontáveis peças, quadrinhos e outros personagens do cinema e continua, há mais de um século, tocando corações e servindo de reflexão sobre os efeitos cruéis do capitalismo e o verdadeiro espírito do natal.

“Um Conto de Natal” foi publicado pela primeira vez em dezembro de 1843, como capítulos de jornal, e fez um grande sucesso. Dickens conseguia prender a atenção de seus leitores com uma trama cheia de reviravoltas e mistérios, com personagens que refletiam a realidade dos desafortunados que habitavam as ruas da Inglaterra, um país que, na época, gozava dos frutos da Revolução Industrial, apresentando um crescimento incrível, ao mesmo tempo em que excluía do desenvolvimento grande parte de seus cidadãos.

Ao usar Scrooge para criticar a sociedade capitalista sem ofender os poderosos, Dickens conquistou muitos leitores e ainda foi responsável por consolidar e estimular o hábito de leitura, já que o jornal é um meio bem mais barato que os livros, capaz de alcançar um público muito maior.

Eu já tinha visto o filme com o Jim Carrey, chamado "Os Fantasmas de Scrooge", e gostado bastante. Mesmo assim, ler o conto foi uma experiência completamente nova. As descrições feitas pelo autor são cheias de detalhes e realmente nos transportam para a história. Durante a leitura, consegui sentir o frio daquela paisagem, o aroma das ceias sendo preparadas, a tensão de Scrooge ao começar a perceber a presença dos fantasmas. E Dickens ainda usa o narrador para botar medo no leitor, insinuando a presença de espíritos perto de quem lê! Muito espertinho...

“As cortinas de sua cama foram puxadas, posso lhes garantir, por uma mão. Não as que estavam aos seus pés, nem às suas costas, mas aquelas para as quais seu rosto estava virado. Scrooge, erguendo-se abruptamente, viu-se cara a cara com o visitante do outro mundo; tão perto dele quanto estou, em espírito, sobre o ombro de vocês, neste momento”.

Enfim... eu não sou do tipo que gosta de Natal. Acho até que a data tem um simbolismo bacana, admiro a postura de compaixão e etc, mas, para mim, soa falso (é, eu sou meio Scrooge). O capitalismo tão criticado por Dickens acabou vencendo. Devemos agir para o bem todos os dias do ano, e com intenção, não apenas porque o calendário assim ordena.

Para fãs ou não do natal, recomendo a leitura desse conto reflexivo.



Este post faz parte do Desafio Literário 2013 - Mês de Dezembro: Histórias Natalinas. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DL2013, clique AQUI. 


5 comentários:

Natália R. Gomes disse...

Todo ano, TODO ANO!, eu falo que vou ler este livro em dezembro e NUNCA leio... vergonha na cara ninguém quer ter, né? rs

Eu não tinha me atentado que o livro era tão antigo...

E, olha, dezembro é a melhor época do ano para mim - AMO o natal. Não sou católica, não é pelo simbolismo de ser a época do amor, etc... para mim é hipocrisia o ano inteiro ser um fdp e durante um mês (ou uma semana, ou um dia) ir nos Correios para dar uma boneca para uma criança e tentar "encontrar" o perdão, etc.

O que eu amo são as decorações, as músicas e a tradição da minha casa de fazer ceia, de abrir os presentes no dia 25. De escolher os presentes para meus irmãos e tentar embalá-los de uma forma que os engane.

Claudia Leonardi disse...

Ah, acho que vou ter que ler este tbe!
Adorei sua resenha e concordo com vc. A compaixao, respeito e amizade têm que acontecer o ano todo!
Bjs, querida

mm amarelo disse...

Esse é um conto bem conhecido, como vc disse, mas só conhecia as adaptações, acho que a do Mickey me marcou mais... ;)
Acho que essas datas comemorativas acabam por perder o sentido humano mesmo, e o "sistema" se apodera, transforma tudo em consumo...mas acho que cabe a nós retirá-las desse altar capitalista - ao menos as datas que realmente nos importa.
Enfim, divaguei, sorry.
Quero ler Dickens em 2014!
beijo grande,
Maira

Andreia Inoue disse...

Eu li Um conto de natal esse ano e adorei. Uma história linda que nos faz refletir e sentir vontade de ser generoso todos os dias de todos os anos.
:D
beijão.

Michelle disse...

Natália,
Eu enrolei anos para ler esse livro! Este ano eu li por causa do desafio. E adorei.

Clau,
Né? Gente que só faz besteira o ano todo e vem posar de bonzinho no natal me irrita. O jeito é respirar fundo e ignorar.

Maira,
Hahaha... mas é isso mesmo. As pessoas estragam qualquer data comemorativa. O jeito é tentar ignorar e fazer algo realmente significativo, em menor escala. Eu não lembro direito dessa versão do Mickey.

Andreia,
É isso. O texto é ótimo e nos faz refletir. Muita gente devia ler, né?