Laura é uma mulher prestes a completar 30 anos. Vive presa
à rotina e escapa para o mundo da fantasia dentro de sua cabeça, onde consegue
ser feliz. Por recomendação médica, começa a escrever diários e, no metrô, cria
suas histórias, misturando realidade e ficção.
“Entre
o trem e a plataforma” é o primeiro romance de Lucimar Mutarelli, esposa do escritor Lourenço Mutarelli. Descobri
o livro fuçando no site da Amazon. Li a sinopse, fiquei
curiosa e aproveitei uma daquelas promoções de e-books para comprar. A escrita
é ágil e construída com frases curtas que nos jogam na mente confusa e
vertiginosa de Laura. Às vezes não é possível saber se o que estamos lendo se
refere à vida real da protagonista ou a alguma personagem inventada por ela em
seus cadernos. Tudo isso se justifica, já que se trata de uma mulher com sérios
problemas psicológicos.
Pela ótica de Laura, o mundo é um grande jogo cheio de
regras que ela tenta seguir mas não consegue, e, por isso, é sempre repreendida por suas falhas. Ela procura se enquadrar no que esperam dela de
todas as formas: trabalha como datilógrafa para seguir os passos das irmãs mais
velhas (mesmo sabendo que seu trabalho burocrático é um tanto ultrapassado), se
esforça para ganhar pontos nas interações sociais forçadas com os colegas de
trabalho, está constantemente preocupada em não desapontar a mãe (que, aliás,
tem um papel significativo dos distúrbios mentais da filha), a chefe, o
médico...
Em seus cadernos, Laura usa todo seu conhecimento de
filosofia novelística para relatar sua suposta rotina nos textos que escreve
para o seu psiquiatra, enquanto em um outro volume cria sua vida perfeita ao
lado do seu objeto de desejo: o moço de sorriso bonito que ela vê
constantemente no metrô. Assim como em suas viagens pelo subterrâneo da cidade,
Laura vive em uma eterna suspensão, dividida entre seus sonhos e o desejo de
seguir em frente com sua vida (o trem) e a segurança de uma existência tediosa
e friamente calculada (a plataforma).
“Laura enxergava somente o sonho. Via o que queria ver.
Sentia o que precisava, mas, na semana anterior, quando tentou se dirigir ao rapaz do metrô, finalmente entendeu que nada aconteceria.
Sua história já havia acabado.
Estava escrita. Predeterminada.
Carimbada, assinada e autenticada em três vias.
Três vias tristes”.
Leitura rápida e interessante, que nos faz pensar em
como levamos nossa própria vida. Recomendo.
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