quinta-feira, 21 de maio de 2015

Leia o Livro, Veja o Filme: Mulherzinhas / Adoráveis Mulheres

LIVRO: Mulherzinhas

"Adoráveis Mulheres”, o filme dos anos 90 baseado na saga da família March, é um clássico da Sessão da Tarde (ou pelo menos era, na minha adolescência) e sempre ocupou um lugar especial no meu coração. Obviamente, só fui saber do livro quando já era adulta, e apenas este ano descobri que a história é uma série ("Mulherzinhas” (Little Women), “Mulherzinhas Crescem/Boas Esposas" (Good Wives), “Um Colégio Diferente/Homenzinhos" (Little Men) e "A Rapaziada de Jo" (Jo’s Boys)). Decidi ler o primeiro livro há alguns meses e até propus uma leitura compartilhada (que eu, vergonhosamente, não consegui completar no prazo...rs). Enfim, agora terminei de ler e vim falar pra vocês o que achei da história.

“Mulherzinhas” conta a história dos March, outrora uma família de bom nível social que enfrenta muitas dificuldades quando o chefe de família vai para a guerra. Assim, o que acompanhamos é a rotina de muito trabalho e pequenas alegrias e descobertas de quatro irmãs (Meg, Jo, Beth e Amy), que são obrigadas a crescer antes do tempo para ajudar nas tarefas e despesas do lar.

Cada irmã tem uma personalidade diferente e é descrita em detalhes pela autora: Meg, a mais velha, é preceptora e anseia por roupas e festas que sua atual condição financeira não permite; Jo é a protagonista desse primeiro livro (e minha personagem predileta) e se destaca das demais por seu jeito atrapalhado, modos de moleca e temperamento explosivo; Beth é a favorita de Jo (e de quase todos que a conhecem), tem um humor dócil, arredio e caseiro; Amy é a caçula um tanto mimada e irritante, quer ser artista e gosta de ‘falar difícil’, mas frequentemente tropeça em seu próprio esnobismo.

A pobreza que afeta os March traz muitas alterações à vida da família, mas cada uma delas assume sua parcela (não sem reclamação, é verdade) e se empenha em fazer do lar um bom lugar para se viver. Mesmo cansadas dos trabalhos diários, elas estão sempre dispostas a criar histórias e discuti-las em seu clube literário, inventam constantemente peças de teatro para alegrar a mãe e não dispensam um bom passeio ao ar livre – principalmente depois que fazem amizade com Laurie, o rapaz da casa ao lado.

Jo e Laurie ficam amigos logo de cara; ele, encantado com o jeito direto e despojado dela; ela, feliz por ter alguém com quem conversar que não estivesse sempre preocupado com a aparência e a etiqueta. Como percebem a certa altura, a frustração os une, pois o garoto queria ser músico, mas o avô exige que ele vá para a universidade e assuma os negócios da família, enquanto a garota aspira a ser escritora e adoraria estudar e conhecer o mundo, mas é impedida por ser mulher.

O papel da mulher na sociedade, tudo o que se espera dela e o que lhe permitem é um dos principais temas do livro. Jo está lá para representar todas as moças que não se enquadram no estereótipo de garota delicada que tem como principal objetivo da vida o casamento e que ousam desafiar os padrões estabelecidos para abrir na marra seu caminho até a felicidade (um caminho bem árduo, é claro).

A mãe das garotas é a base fundamental do futuro das filhas, defende a liberdade delas e a busca de seus sonhos da forma que quiserem, mas pondera as escolhas, ajuda as filhas a verem o mundo como ele é, incentiva com palavras, mas também acalma com gestos ternos. É sempre nela que Jo busca refúgio quando é tomada pela raiva; é sempre ela que lhe dá apoio e conselhos que tranquilizam a garota e a fazem usar a cabeça (e não a força) para driblar os obstáculos de seu caminho.

“Mulherzinhas” foi o grande sucesso comercial de Louisa May Alcott, e desde 1868 tem encantado gerações de leitores. A história é uma espécie de autobiografia ficcional, inspirada na infância da própria autora e de suas três irmãs. Seus ideais feministas são retratados no livro, principalmente nas ações e questionamentos de Jo. Assim como a protagonista, Louisa também enfrentou preconceitos por ser mulher e chegou a publicar livros sob pseudônimo masculino. Além de defender a liberdade feminina, Louisa também foi forte defensora do abolicionismo. Foi a primeira mulher a se registrar para votar em Concord, Massachusetts. 

"Minhas queridas meninas, tenho ambições para vocês as quatro, mas não passam por vocês andarem a exibir-se pelo mundo e a casarem-se com homens ricos só porque são ricos, ou terem casas esplêndidas que não são verdadeiros lares, porque lhes falta amor. O dinheiro é um bem necessário e precioso e, quando bem aplicado, também é algo nobre. Mas nunca quero que pensem que é o principal ou o único prémio pelo qual se deve lutar. Prefiro que se casem com homens pobres e sejam felizes, amadas e satisfeitas, a serem rainhas sentadas em tronos, mas sem auto-respeito nem paz.
- As raparigas pobres não têm qualquer hipótese, na opinião da Belle, a não ser que se evidenciem - suspirou Meg.
- Então seremos todas velhas solteironas! - disse Jo, num tom enérgico.
- Sim, Jo. Mais vale serem solteironas felizes do que esposas infelizes ou meninas doidivanas, a andarem atrás de maridos - disse a senhora March, decididamente."

Uma leitura deliciosa, para leitores de todas as idades e de qualquer sexo.


Links relacionados:
A Aline, do Little Doll House, também leu e vez um vídeo falando do livro.
"A Invenção das Asas" é outro livro incrível que fala de mulheres que lutaram pelo feminismo e pelo abolicionismo. 
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FILME: Adoráveis Mulheres 

Como eu disse lá no começo do post, “Adoráveis Mulheres” é um filme que me marcou muito. Fazia tempo desde minha última sessão, mas a cena do cabelo jamais saiu da minha memória (e choro toda vez que vejo, assim como engoli as lagriminhas teimosas que queriam escapar enquanto lia a descrição do evento no livro).


Eu só me lembrava da Winona Ryder como Jo (aliás, Winona é ídolo da minha adolescência. Que garota crescida nos anos 90 não era louca por ela?) e da Susan Sarandon no papel da mãe. Fui rever o filme depois que terminei a leitura e me surpreendi com a presença da Claire Danes como a tímida Beth, Kirsten Dunst como a insuportável Amy (taí outra atriz contemporânea que tem um lugar especial no meu coração por ter interpretado papéis maravilhosos na minha juventude) e o Batman Christian Bale encarnando Laurie muito antes de virar Bruce Wayne.


Passada a surpresa com tantos nomes conhecidos que eu não me lembrava mais, desfrutei da história com uma nostalgia que me fez torcer por Jo, rir de suas confusões e brincadeiras com Laurie, sentir um aperto no peito nos momentos mais tristes e ficar com vontade de ler os outros livros da série para conhecer em detalhes os acontecimentos que são mostrados na tela (a primeira hora do filme segue a trama de "Mulherzinhas", mas a segunda metade da história se baseia nos outros livros).


Outro choque foi descobrir que existem várias adaptações famosas do livro. Uma de 1949, conhecida como "Quatro Destinos", que traz Elizabeth Taylor no papel de Amy, e uma mais antiga, de 1933, chamada "As Quatro Irmãs", com Katharine Hepburn interpretando Jo. Nem preciso dizer que estou louca para conferir essas versões! Além disso, há também uma adaptação britânica de 1917, um filme para TV, de 1958, e uma série de TV britânica em 6 episódios, também de 1958. Ufa!


O filme envelheceu muito bem e continua lindo e tocante. Recomendo sempre!


Trailer:


7 comentários:

Lua Limaverde disse...

Mi, seu post ficou lindo, me deu vontade de correr e ver o filme, que ainda não revi depois de ler o livro pois queria ler as continuações. Apesar de algumas coisinhas meio didáticas demais no livro me incomodarem, gostaria que a Olívia lesse um dia também, algumas passagens são maravilhosas. E eu lembrava de todas as atrizes do filme, mas não lembrava quem tinha feito o Laurie! O Batman! Rs adorei. Beijinhos!

Anônimo disse...

Own, que post mais fofo, Michele! *.*
Eu sempre tive vontade de assistir "Adoráveis Mulheres" na íntegra, mas nunca consigo! Winona Ryder <3

Quase comprei a edição em inglês, porque não acho a brasileira nas livrarias físicas. Esse livro está na minha lista há muito! Amo essas histórias que se passam em ambiente familiar, com personagens de personalidades diferentes, ousados e dotados de ideias a frente do seu tempo.

Bjs ;)

Lígia disse...

Li Mulherzinhas faz muito, muito tempo e já não lembro direito da história, só lembro que a Jo era a melhor personagem e que a Amy era chata :P. Lendo sua resenha fiquei com vontade de reler e de ver o filme.

alineaimee disse...

Adorei a resenha, Michele!
Realmente, tivemos impressões parecidas!
E agora estou desesperada querendo ver essas adaptações mais antigas.
Não sabia delas!
Obrigada por indicar meu vídeo! Também gostei da indicação de "A Invenção das Asas". Que plot é intrigante! Vou procurar!

Beijo!

Anônimo disse...

Não sabia que o livro tinha continuação - nem me lembrava dos atores do filme, tirando a Wynona, que era ídola na época (e depois ficou estranha....). Você vai se aventurar a ler os seguintes?

Bianca da Silva disse...

Gente, eu li sobri eo livro no livro Lições de Vida das Grandes Heroínas da Literatura e fiquei curiosa. Coloquei no carrinho, mas fiquei na duvida se comprava. Ai li tua resenha e fechei a compra logo em seguida. Mal posso esperar para ler ele! *-*
Obrigada pela ajuda!

bjs
www.queriaestarlendo.com.br

Unknown disse...

Mi,
Seu post ficou incrível.
Eu já tinha lido Sr March que é uma versão da Geraldine Brooks para o tempo em que o personagem fica na guerra e sempre quis ler Mulherzinhasm mas nunca tinha achado para comprar até que um dia eu "topei" com ele.
Aí descobri que se trata de uma série que inclusive contém o 8 primos!!!!!!
Vim procurar os demais livros e achei esse post incrível.
Também curti muito "adoráveis mulheres" mas nunca tinha feito a ligação. E as outras versões? Nunca descobriria.
Adorei todas as informações.
bjs
Luana Lima