Ao
longo dos 21 contos de “Big Loira”, Dorothy Parker volta seu olhar
perspicaz para a Nova York dos anos 20-30 e sua fauna humana. Alguns
tipos são bem característicos da Big Apple, mas o comportamento dos gringos não
difere muito daquele apresentado por gente de outras metrópoles. Embora o foco
sejam as protagonistas femininas, os homens não escapam de seus comentários
ácidos.
A
primeira vez que ouvi falar da autora foi em uma resenha da Luara, em seu antigo blog. Fiquei
curiosa para conhecer o estilo peculiar, cheio de críticas debochadas, dessa
escritora que eu não conhecia, mas que, pelo visto, tivera seus anos de glória
no exterior, sendo uma das mais importantes jornalistas, cronistas e poetas das
décadas de 20 e 30 nos Estados Unidos. Anotei a dica de leitura e esperei
pacientemente até conseguir um exemplar de “Big
Loira” (a obra está fora de catálogo já faz um tempo). Este ano, finalmente
consegui comprar o livrinho de uma amiga e me lancei à leitura cheia de
expectativa.
Felizmente,
desta vez minhas expectativas foram atendidas, e o que encontrei nas páginas
desse livro delicioso foram histórias que retratam pessoas em busca de
aceitação de todas as formas, que fazem de tudo para estar na moda e nas
colunas sociais, que se esforçam muito para acompanhar as frenéticas mudanças
de um mundo moderno que mal se recuperara dos estragos da Primeira Guerra
Mundial e já enfrentava as agruras da Grande Depressão.
Ao
mesmo tempo em que os personagens lutam para se adaptar a uma nova e moderna
realidade, sofrem com angústias tão antigas quanto o próprio mundo: a solidão
(quase sempre preenchida com bebida – contrabandeada), amores não
correspondidos, casamentos infelizes, falsas amizades. Dorothy Parker consegue revelar os mais íntimos sentimentos desses
seres imaginários, e, assim, nos faz enxergar fragmentos de nós mesmos.
O
traço característico da autora é a ironia, que ela trabalha de forma genial. A
crítica à sociedade de aparências é dura e impiedosa, mas feita com tanta graça
e habilidade que não há como não rir das situações apresentadas. Em um dos meus
contos favoritos, ‘Arranjo em preto e
branco’, a autora narra uma festa de grã-finos em que um famoso cantor
negro se apresenta. Uma das convidadas conversa com o anfitrião, dizendo que
precisa conhecer o artista a qualquer custo. Todo o discurso dessa mulher é
permeado de preconceitos, que ela vomita sem nem perceber. O texto corria
grande risco de se tornar ofensivo, se não fosse brilhantemente redigido por Parker. Um grande exemplo de domínio da
escrita, que exige, também uma boa capacidade de interpretação do leitor – ou
as sutilezas se perderão.
2 comentários:
Que resenha gostosa de ler, Michelle. Só aumentou minha curiosidade em relação ao livro. Eu também ouvi falar de Dorothy Parker pela primeira vez no blog da Luara (o saudoso Isaac Sabe), mas depois vi que "The Portable Dorothy Parker" está na lista de Rory Gilmore.
Beijo! ^_^
Olá Michelle, estou há algum tempo pesquisando sobre a Dorothy Parker, desvendando as diversas leituras em camadas que ela propõe e lido tudo o que encontrei a respeito dela e da sua obra. E cruzei com seu blog e uma resenha ótima sobre as personagens dessa mulher extraordinária! Sempre fico feliz ao cruzar com apreciadores dela.
Ultimamente tenho tentado encontrá-los - eles se escondem por aí! - pois gostaria que soubessem que montei com um grupo uma peça de teatro com alguns contos do Big Loira e alguns poemas. Não sei se você gosta de teatro, mas, se gostar, quero convida-la para assistir. A peça se chama “Só Mais Uma” e está em cartaz até dia 17/06/2016 no Teatro Pequeno Ato, em São Paulo.
Caso você tenha curiosidade e queira alguma informação, por favor entre em contato comigo – temos também uma página no Facebook com mais informações: facebook.com/somaisuma.teatro
Agradeço pelo seu tempo e parabéns pelo blog ;)
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