O
ano é 1970 e a Copa do Mundo do México se aproxima. Nada poderia ser mais
empolgante para o pequeno Mauro (Michel Joelsas), garoto de 11 anos apaixonado
por futebol. Só que a ansiedade pela estreia da seleção dá lugar a uma espera
triste e angustiada por um telefonema dos pais, que são obrigados a ‘sair de
férias’ repentinamente, deixando o menino aos cuidados do avô paterno.
O
filme começa com Mauro jogando uma partida de futebol de botão, que é
interrompida bruscamente pela chegada do pai, que já entra em casa apressado,
pegando malas e arrastando para o carro esposa e filho. Durante a viagem para a
capital de São Paulo, é nítida a tensão da mãe, dividida entre o que queria e o
que precisava fazer, e o deslumbramento do menino diante dos edifícios altíssimos
do centro da cidade e do caminhão militar na estrada. Diante da porta do prédio
do avô, Mauro recebe beijos rápidos de despedida e a recomendação de dizer que
os pais saíram de férias a quem perguntasse por eles. E ali ele fica, sem
entender direito o que está se passando.
O
destino decide que é um bom momento para pregar uma peça e acontece de Mauro
descobrir que o avô havia morrido naquela mesma manhã, deixando-o sozinho no
mundo. A contragosto, ele é acolhido pelo vizinho do avô, Shlomo (Germano
Haiut), um judeu idoso solitário que não sabe muito bem o que fazer com uma
criança. O choque de culturas e hábitos é incômodo para os dois, mas ambos
acabam se adaptando e desenvolvem uma bonita relação. Enquanto aguarda um
contato dos pais, Mauro conhece outros moradores do bairro, faz amizade com as
crianças, se apaixona platonicamente pela atendente da lanchonete e vivencia
toda a emoção da Copa.
Fica
claro desde os primeiros minutos que os pais de Mauro são militantes da
esquerda fugindo da ditadura, mas o diretor foi muito feliz e bem-sucedido ao
abordar esse período tão violento da história do país pela perspectiva de um
menino. Em momento algum a dura realidade do que acontecia é deixada de lado;
ela é apenas diluída, suavizada pelos personagens adultos para poupar a criança
de um sofrimento que ela ainda não é capaz de entender.
O
filme consegue dosar perfeitamente momentos divertidos (como quando Hannah
(Daniela Piepszyk), a única menina da turma, cobra entrada dos garotos para que
espiem pelo provador da loja de roupas da mãe – uma travessura clássica de
outros tempos) com aqueles que demonstravam a brutalidade da ditadura (pessoas
do bairro sendo agredidas pelos militares e detidas para interrogatório).
A
escolha do futebol como pano de fundo também é muito significativa: enquanto
milhares de pessoas fugiam, apanhavam, eram mortas por tentarem mudar a
situação política do país, outros milhares pareciam desconhecer o que se
passava, hipnotizados pelo campeonato mundial. A decisão do próprio Mauro, de
ser goleiro, é emblemática: ele é aquele que fica a maior parte do tempo
sozinho, observando o que se passa ao redor e tentando entender, enquanto
espera pelo pior.
Um
filme que fala de amizade, de diferenças, de escolhas e de amadurecimento. Mais
que recomendado!
Esta postagem faz parte do projeto Lendo a Ditadura. Visitem o blog oficial para ver outras colaborações.
2 comentários:
Adooorei a dica!
Vou ver. ;)
Beijos
Veja sim! Depois me conta ;)
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