Sou
uma pessoa sem timing para tags e posts similares. Vejo, acho legal e salvo
para um dia responder. E então se passam semanas, meses... Enfim, o post de
hoje é inspirado no ‘Top Ten Tuesday:
Dez livros aprovados por Killgrave’, que vi no blog ‘Por essas páginas’, e foi originalmente criado pelo blog The Brook and the Bookish. Hoje não é Tuesday e muitas outras séries já viraram febre depois de Jessica Jones, mas não importa. Tô a fim
de postar e postarei. Para quem é mais perdido que eu, explico o tema: Killgrave é o vilão da série, que tem o
incrível poder de controlar mentes. Sendo obcecado pela Jessica, ele usa esse
seu poder para controlá-la em um relacionamento abusivo. Logo, ele aprovaria
livros que falem desse tipo de relação destrutiva. Então, vamos lá!
Listei os livros conforme fui lembrando ao olhar minha estante de “Lidos” do
Skoob. Surpreendentemente, percebi que já li muita coisa que se encaixa no
tema. Relacionamentos abusivos podem se dar não apenas em um casal (podem
ocorrer entre pais e filhos, por exemplo), mas hoje vou focar só nas ligações
não-filiais.
1. O Papel de Parede Amarelo (Charlotte
Perkins Gilman)
O
conto fala de uma mulher no puerpério que é mantida isolada em um quarto pelo
marido. A princípio, o esposo, que é médico, parece agir no interesse de curar
a esposa, mas aos poucos vamos percebendo o abuso psicológico, já que ela tenta
dizer a ele várias vezes que se sente cada vez pior e mais depressiva com o
isolamento, e ele não presta atenção no que ela diz, afinal, ele é o
médico-marido-homem que sabe o que está fazendo. Ao ficar trancada sozinha no
quarto, proibida de qualquer atividade intelectual, não resta nada à mulher a
não ser ficar encarando o bizarro papel de parede do título, e, gradualmente ela
vai entrando numa espiral de alucinação. Esta história até parece 'leve' perto de outros casos de
abuso, mas por isso mesmo é importante: porque fala de algo que não é percebido
imediatamente como tal. Publicado pela primeira vez em 1892, é um marco da
literatura feminista, época em que não se cogitava a possibilidade de depressão pós-parto e tudo que se relacionava às mulheres e não
era entendido era tachado como “histeria” e “loucura”.
2. A História do Novo Sobrenome (Elena
Ferrante)
Embora
provavelmente a série toda retrate violência contra as mulheres, escolhi esse
segundo volume da Quadrilogia Napolitana porque ele traz Lina, uma das
personagens principais, vivenciando essa experiência durante um bom tempo. Para
quem não sabe, a história começa nos anos 50, em Nápoles, uma região pobre e
violenta, e se desenrola nas décadas seguintes, contada por Lenu, a melhor
amiga de Lina, atualmente desaparecida. Nesse segundo livro, Lina, de 16-17
anos, acabou de se casar e começa a enfrentar problemas já na lua de mel: ela
se recusa a transar com o marido e ele a agride e estupra. Devido ao seu
temperamento impulsivo e independente, que desafiava os padrões da sociedade
napolitana da época, ela é espancada constantemente. O mais triste de tudo é
que as mulheres da região apoiam o marido de Lina, torcem para que ele consiga
'dobrá-la', já que a esposa era então vista como propriedade do marido e devia
fazer o que ele queria. Aquela velha história de 'em briga de marido e mulher
não se mete a colher'.
3. A Inquilina de Wildfell Hall (Anne Brontë) [resenha]
Helen
é uma esposa que come o pão que o diabo amassou com o marido bêbado e violento,
que só queria saber de festas, mulheres, jogatina e caçadas. Ele não só se
entregava a todas essas atividades como ainda levava amantes para a própria
casa na presença da esposa e embebedava o filho pequeno. Quando Helen sugere o
divórcio (a história se passa em meados do Século XIX) abrindo mão de tudo a
que tinha direito desde que pudesse se afastar com o filho, o marido
obviamente recusa, alegando que seria uma vergonha para ele e, assim, ela tem
que buscar outra saída.
4. A Chave de Casa (Tatiana Salem Levy) [resenha]
O
ponto central da trama não é o relacionamento amoroso da protagonista, que
recebe do avô a chave da antiga casa dele, na Turquia, e decide viajar para
conhecer melhor a história de sua família e entender melhor a si mesma. A narrativa é toda
fragmentada, e os trechos em que a personagem fala do cara com quem se
relacionava a princípio parecem revelar uma relação sexy, mas, aos poucos, é
possível perceber que não se tratava de nada disso: era uma união destrutiva.
Isso vai ficando mais claro conforme relacionamos o estado atual perturbado e
amendrontado da protagonista com eventos de seu passado recente.
5. Dias Perfeitos (Rafael Montes)
Clássica
história do cara inseguro que fica obcecado pela primeira mulher que o enxerga
e é atenciosa com ele. Na cabeça dele, isso é sinal de paixão e ele vai fazer
de tudo para que ela fique com ele – nem que esse 'tudo' envolva sequestro,
cárcere privado, algemas, sedação, abuso sexual. Como assim ela não percebe que
tudo que ele faz é porque a ama?
6. Adeus Tristeza (Belle Yang)
Esta
graphic novel é inspirada na história real da autora e conta a saga de seus
ancestrais. O ‘detalhe’ abusivo: ela estava trocando de carreira, começando a
estudar artes, finalmente feliz por ter encontrado algo que realmente queria
fazer na vida, quando é ameaçada de morte por um ex-namorado. Então, larga tudo e
volta a morar na casa dos pais. Além de ficar paralisada de medo, ainda tem que
aguentar a censura dos pais, que a veem como um fracasso e vergonha para a
família.
7. No Escuro (Elizabeth Haynes) [resenha]
Esta é a história de como Catherine, uma mulher extrovertida e bem-sucedida, se
transforma em Cathy, uma pessoa aterrorizada que sofre de TOC e síndrome do
pânico, graças a um relacionamento abusivo com o cara dos sonhos de qualquer
garota – e é justamente por ser o namorado 'perfeito' que ninguém acredita quando
Catherine diz que ele a agredia e ameaçava, nem mesmo quando a encontram magra
e cheia de hematomas. Será que as pessoas não viam ou achavam melhor não ver?
8. Um Crime Delicado (Sérgio Sant’Anna) [resenha]
Um
homem troca olhares com uma moça no bar e, dias depois, a encontra por acaso
nas escadas do metrô. Descobre, então, que ela era manca, o que a torna ainda
mais interessante aos seus olhos. Fetiches à parte, o cara fica obcecado pela
mulher e o caso termina em assassinato (no desenrolar da trama, realidade e fantasia
se misturam, e o personagem masculino está no banco dos réus – nós, leitores,
tentamos decidir se ele matou ou não a moça). Mais um relacionamento que começa
bem, mas vai degringolando, e o que parecia ser amor se revela comportamento
violento e doentio.
9. Quarto (Emma Donoghue) [resenha]
Uma
criança de 5 anos e sua mãe vivem em um quarto. O menino nunca saiu de lá (na
verdade, nasceu ali). O espaço é diminuto e a comida dos dois é racionada. De
tempos em tempos, o Velho Nick aparece para fazer uma ‘visita’ à Mãe. Nessas
ocasiões, o menino Jack tem que ficar quietinho dentro do armário, para não
incomodar o homem. Não quero falar muito porque adoro essa história e acho que
vale a pena ir descobrindo aos poucos do que se trata (o filme também é bem
bacana), mas essas poucas palavras já sinalizam que a trama é pesada, né?
10. Tarântula (Thierry Jonquet) [resenha]
Se
você já viu “A pele que habito”, do Almodóvar, então conhece a história. A
trama é truncada e apresenta vários personagens que, a princípio, não sabemos
como se relacionam. Mas, como o tema aqui é relacionamento abusivo, vou focar
em dois deles: o cirurgião Richard e Éve. Ela é uma mulher linda, que passa os
dias trancada em seu quarto, nua, pintando e tocando piano. Não dá para
perceber, no início, qual sua ligação com Richard (esposa? amante? garota de
programa?), mas uma coisa é certa: é abusiva. Richard gosta de admirá-la e
exibi-la em eventos, a enche de joias, perfumes e roupas caras e sente um
prazer sádico em vê-la humilhada em sessões de tortura sexual que agenda para
ela. Bizarro? Sem dúvida! Mas é um livro incrível (assim como o filme), que
recomendo muito!
E
vocês, têm outros títulos para indicar sobre o assunto?
Deixem
aí nos comentários.
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