Mathilde
é uma jovem médica francesa que trabalha em um hospital da Cruz Vermelha na
Polônia, no finzinho da Segunda Guerra. Um dia, uma freira polonesa a procura e
pede ajuda. A princípio, ela nega, pois tinha ordens de só atender soldados
franceses, mas, diante da insistência e do desespero estampado no rosto da moça,
ela a segue até o convento. Lá, encontra uma das noviças em trabalho de parto e
ajuda o bebê a nascer. No entanto, Mathilde logo descobre que aquela não era a
única religiosa grávida: várias outras estavam na mesma condição, devido a uma
série de estupros praticados por soldados meses atrás.
Guerras
e estupros, duas coisas tão injustificáveis (e com a dominação do mais fraco em
comum) que fica difícil acreditar na inteligência humana. No filme, inspirado
em fatos reais, a diretora usa esses assuntos como gatilho para gerar
discussões de outra espécie. Uma delas é o embate entre a fé das freiras e a
culpa que sentem por terem tido o voto de castidade violado, se negando a serem
tocadas pela médica durante os exames, e a racionalidade e dilema ético de
Mathilde, que arrisca o pescoço ao desobedecer ordens a fim de cumprir o
juramento de Hipócrates, mas que tem dificuldade para cuidar das freiras por
causa da recusa delas. Se para a médica é fácil compreender o terror das
religiosas frente à violência sexual, lidar com a fé daquelas mulheres é um desafio.
A
primeira reação de Mathilde é querer denunciar os ataques, mas logo a Madre
Superiora esclarece o problema: além do peso do pecado que as freiras carregam
sobre os ombros, o caso seria um escândalo e o convento seria desmoralizado e
provavelmente fechado, ou seja, aquela velha história de culpabilização da
vítima. Assim, elas continuam lidando com tudo em segredo.
Outro
ponto polêmico diz respeito ao destino dos bebês. O que fazer com aquelas
crianças? A Madre Superiora assume a responsabilidade de encontrar lares para
elas, e diz ter mandado os bebês para serem criados pelas famílias das freiras, mas depois descobrimos que não foi bem isso que aconteceu. Confesso que fiquei
indignada e com raiva da Superiora, mas entendo seu raciocínio. Mesmo não
concordando com a solução encontrada por ela, tento não julgá-la. Situações
extremas, medidas extremas.
Embora
eu tenha achado o final meio “felizes para sempre” demais, reconheço que era
uma das poucas alternativas para as freiras. E por mostrar pessoas que pensam
diferente se esforçando por se colocar no lugar do outro para tentar achar uma
forma de resolver uma questão delicada e dolorosa, recomendo muito o filme.
Nota:
4/5
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Sobre
a diretora:
Anne
Fontaine é uma ex-atriz e atual roteirista e diretora nascida em Luxemburgo. Seu
primeiro trabalho solo como diretora foi Les
Histoires d'amour finissent mal... en general (Love Affairs Usually End Badly), que ganhou o
Prêmio Jean Vigo em 1993. O filme que marcou sua importância para o cinema
francês contemporâneo foi “Lavagem a
seco” (Nettoyage à Sec), que levou o prêmio de Melhor Filme no
Festival de Veneza de 1997. “Agnus Dei” é
seu 15º filme como diretora/roteirista.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
2 comentários:
Ual!!!!
Interessante!!!!
Vou procurar o filme!
Bom final de samana!
Mariana,
Tomara que vc goste! :)
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