quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Veja Mais Mulheres: Filme #24 - Agnus Dei


Mathilde é uma jovem médica francesa que trabalha em um hospital da Cruz Vermelha na Polônia, no finzinho da Segunda Guerra. Um dia, uma freira polonesa a procura e pede ajuda. A princípio, ela nega, pois tinha ordens de só atender soldados franceses, mas, diante da insistência e do desespero estampado no rosto da moça, ela a segue até o convento. Lá, encontra uma das noviças em trabalho de parto e ajuda o bebê a nascer. No entanto, Mathilde logo descobre que aquela não era a única religiosa grávida: várias outras estavam na mesma condição, devido a uma série de estupros praticados por soldados meses atrás.

Guerras e estupros, duas coisas tão injustificáveis (e com a dominação do mais fraco em comum) que fica difícil acreditar na inteligência humana. No filme, inspirado em fatos reais, a diretora usa esses assuntos como gatilho para gerar discussões de outra espécie. Uma delas é o embate entre a fé das freiras e a culpa que sentem por terem tido o voto de castidade violado, se negando a serem tocadas pela médica durante os exames, e a racionalidade e dilema ético de Mathilde, que arrisca o pescoço ao desobedecer ordens a fim de cumprir o juramento de Hipócrates, mas que tem dificuldade para cuidar das freiras por causa da recusa delas. Se para a médica é fácil compreender o terror das religiosas frente à violência sexual, lidar com a fé daquelas mulheres é um desafio.


A primeira reação de Mathilde é querer denunciar os ataques, mas logo a Madre Superiora esclarece o problema: além do peso do pecado que as freiras carregam sobre os ombros, o caso seria um escândalo e o convento seria desmoralizado e provavelmente fechado, ou seja, aquela velha história de culpabilização da vítima. Assim, elas continuam lidando com tudo em segredo.


Outro ponto polêmico diz respeito ao destino dos bebês. O que fazer com aquelas crianças? A Madre Superiora assume a responsabilidade de encontrar lares para elas, e diz ter mandado os bebês para serem criados pelas famílias das freiras, mas depois descobrimos que não foi bem isso que aconteceu. Confesso que fiquei indignada e com raiva da Superiora, mas entendo seu raciocínio. Mesmo não concordando com a solução encontrada por ela, tento não julgá-la. Situações extremas, medidas extremas.


Embora eu tenha achado o final meio “felizes para sempre” demais, reconheço que era uma das poucas alternativas para as freiras. E por mostrar pessoas que pensam diferente se esforçando por se colocar no lugar do outro para tentar achar uma forma de resolver uma questão delicada e dolorosa, recomendo muito o filme.

Nota: 4/5
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Sobre a diretora:

Anne Fontaine é uma ex-atriz e atual roteirista e diretora nascida em Luxemburgo. Seu primeiro trabalho solo como diretora foi Les Histoires d'amour finissent mal... en general (Love Affairs Usually End Badly), que ganhou o Prêmio Jean Vigo em 1993. O filme que marcou sua importância para o cinema francês contemporâneo foi “Lavagem a seco” (Nettoyage à Sec), que levou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Veneza de 1997. “Agnus Dei” é seu 15º filme como diretora/roteirista.

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.  


2 comentários:

Mariana disse...

Ual!!!!

Interessante!!!!
Vou procurar o filme!

Bom final de samana!

Michelle disse...

Mariana,
Tomara que vc goste! :)