Olás!
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação desta terceira edição do projeto, que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI ou no banner da coluna à direita. Também dá para conferir o post de apresentação e a lista de filmes e links do primeiro ano e do segundo ano do projeto.
A
vida não anda fácil e as perspectivas são desanimadoras, mas o mundo continua a girar, não
é? Eu tinha preparado todo um especial de terror para outubro, mas a realidade
se mostrou muito mais medonha do que a ficção e não consegui me concentrar em nada. Uma das coisas que
me ajudaram a atravessar o mês passado foi a 42ª Mostra Internacional de
Cinema de SP. Este ano, comprei um pacote de 20 ingressos e consegui assistir
a 18 filmes, 16 deles dirigidos por mulheres. Fui postando no Twitter e no
Facebook breves comentários sobre eles conforme os assistia, mas falarei mais
detalhadamente sobre cada um deles aqui (5 neste post e os demais nas postagens
seguintes). Vou seguir a ordem em que foram vistos. Nesta primeira leva, uma diretora
suíça, uma brasileira, uma argentina, uma romena e uma
francesa.
Gilda
Brasileiro (Gilda Brasileiro, 2018 – Viola Scheuerer) [Brasil/Suíça]
Documentário sobre Gilda, que fez (e ainda faz) o
trabalho de formiguinha de pesquisar sobre uma rota clandestina usada por
traficantes de escravos no Século 19 em Salesópolis. Uma
história que ela luta para que não seja convenientemente esquecida. Na sessão
que vi teve bate-papo com os diretores (Viola codirige o filme com o cineasta
Roberto Manhães Reis) e ainda contou com a presença da própria Gilda. É triste
ver as pessoas negarem documentos públicos confirmando que seus antecedentes
eram, sim, escravagistas e inventando versões bem mais palatáveis de como
herdaram suas terras e disseminando essas versões para o público que visita o
museu Casarão Senzala. Entendo o incômodo delas até certo ponto: algumas
pareciam mesmo constrangidas por terem donos de escravos na família, enquanto
outras sabiam desse passado e parecem não ver nada de errado em apagar e
alterar a história que não diz respeito apenas a elas e seus antepassados, e
sim a todo o povo brasileiro e àqueles que foram arrastados para o país para
serem explorados. Mas dar aquela distorcida básica dos fatos é uma prática bem
comum e está mais em alta do que nunca, né?
Nota:
4/5
Viola
Scheuerer é uma diretora suíça formada em literatura alemã,
antropologia e história. Junto com Roberto Manhães, já dirigiu outros dois
documentários, sendo 'Gilda Brasileiro' o segundo longa da dupla.
Julia
e a Raposa (Julia y el zorro, 2018 – Inés María Barrionuevo) [Argentina]
Uma viúva e sua filha pré-adolescente se mudam para
uma casa caindo aos pedaços no interior da Argentina. Os papéis se invertem: a
mãe sombria e fragilizada se arrasta pelos dias, movida por cigarro e bebida; a
filha explora o mundo e assume os afazeres domésticos. A chegada de um velho
amigo da mãe muda a dinâmica da dupla e acena com novas possibilidades. Gostei
muito de como a casa reflete o estado psicológico da mãe - soturno e selvagem -, e
das cenas ensolaradas cheias de vigor e descobertas da jovem. Interessante.
Nota:
3/5
Inés
María Barrionuevo é uma roteirista e diretora argentina com três curtas
e uma série de TV no currículo. Ela também já dirigiu um longa, ‘Atlântida’,
exibido na 38ª edição da Mostra de SP.
Deslembro
(Deslembro, 2018 – Flávia Castro) [Brasil]
Pelos olhos da adolescente Joana, acompanhamos a volta
de sua família de Paris para o Rio na época da anistia. Novas experiências e
fragmentos de lembranças se misturam em meio à literatura e ao rock nesse filme
que mostra com delicadeza um período duro do Brasil. Gostei demais de
como a diretora equilibrou a forma como Joana escreve sua história no presente,
fazendo coisas típicas de uma adolescente que descobre sua sexualidade, faz
amizades, questiona valores e se aproxima da avó de quem nem lembrava, enquanto
tenta recuperar as memórias de seu passado, conhecer melhor o pai - torturado e morto nos porões do DOPS - e entender
seu status de desaparecido político. Vi o filme uma semana antes do segundo
turno das eleições e foi terrível ver como a história se repete. Embora seja
assustadoramente atual, a diretora, presente na sessão, contou que começou a
trabalhar no filme, inspirado vagamente em suas memórias, em 2009. Um dos meus
filmes preferidos (da Mostra e no geral).
Nota:
5/5
Flávia
Castro é uma roteirista e diretora brasileira que estreou na direção em
2006, com o curta ‘Cada um com seu qual’. Em 2010 ela lançou seu
primeiro longa, o premiado documentário ‘Diário de uma busca’. ‘Deslembro’
é seu primeiro longa-metragem de ficção.
Limonada
(Lemonade, 2018 – Ioana Uricaru) [Romênia]
Enfermeira romena se casa com um norte-americano nos
EUA e tenta conseguir seu green card para refazer sua vida. Apesar de
sua rotina dura, tudo parece estar dando certo. Ela então manda vir o filho
de um casamento anterior, que havia ficado com a avó na Romênia. Mas o caminho da
mulher é cheio de abusos, dos mais variados níveis. Começando já na primeira
cena, quando ela vai ao hospital para tomar uma vacina e a enfermeira aplica
duas, sem dizer nada antes. Ao questionar o motivo, a resposta é apenas 'Não se
preocupe. É de graça', ou seja, cale a boca, estamos lhe fazendo um favor e
você ainda quer ter o controle do próprio corpo? Doloroso de ver. Mas é um
filmão. E o mais irônico é o final. Se a vida lhe der limões...
Nota:
4/5
Ioana
Uricaru é uma roteirista e diretora romena formada em biologia que
posteriormente estudou cinema em uma universidade da Califórnia. Tem no
currículo dois curtas e um segmento na antologia ‘Tales from the Golden Age’
(2009). ‘Lemonade’ é seu primeiro longa-metragem.
Garotas
em Fuga (Cavale, 2018 – Virginie Gourmel) [França]
Kathy não se conforma em ter sido enviada para o reformatório
e a única coisa que a move é a ideia de ir atrás do pai para saber por que ele
a abandonou. Um dia surge a tão esperada oportunidade de fuga e suas duas
companheiras de quarto escapam com Kathy. As três garotas não têm nada em
comum, exceto o fato de serem adolescentes rejeitadas e abandonadas à própria
sorte. Ao longo do road movie as garotas se conhecem melhor e aprendem a
lidar com suas frustrações. O sequestro precipitado do meio-irmão de Kathy pelo
trio abala a já frágil relação entre as garotas, mas elas se unem no
infortúnio. História triste que tem como ponto negativo o bullying contra a
amiga gorda e como ponto positivo a aproximação de Kathy com o meio-irmão de 5
anos.
Nota:
3/5
Virginie
Gourmel é uma diretora francesa mais atuante como assistente de câmera.
Além de sua grade experiência em tal função, ela já dirigiu curtas, videoclipes
musicais e vídeos de moda. ‘Garotas em fuga’ é seu primeiro
longa-metragem.
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