sábado, 4 de julho de 2020

Desafio Mulheres na Direção


Este é o quinto ano consecutivo em que participo do #52FilmsByWomen (que aqui no blog também usa as hashtags #52FilmesPorMulheres e #VejaMaisMulheres). Apesar de não ter conseguido registrar aqui os filmes que vi no ano passado e os que estou vendo este ano, sigo firme no projeto. Em 2016 assisti a 52 filmes, em 2017 a 52, em 2018 a 68, em 2019 a 64 e em 2020 vi 38 filmes até o momento. Minha meta é chegar a 70 este ano. Eis que minha xará Michelle, do blog Cine Varda, propôs o desafio Mulheres na Direção para dar um gás nessa lista e focar mais nas produções dirigidas por mulheres em junho. Ela falou da experiência dela aqui. E não é que até me animei a falar da minha?


Então, no mês passado, vi 9 filmes dirigidos por mulheres. Comecei por “Lulu, nua e crua”, da cineasta islandesa Sólveig Anspach. Na trama, a protagonista vai a uma entrevista de emprego e é rejeitada, e um comentário do entrevistador sobre sua aparência a faz refletir sobre a vida que vinha levando nos últimos anos, totalmente dedicada ao marido e aos 3 filhos. Ela sai do escritório decidida a tirar um tempo para si mesma e começa a vagar pela cidade, conhecendo e fazendo amizade com duas mulheres bem diferentes de si mesma. Foi muito interessante acompanhar a jornada de autoconhecimento de Lulu.

Depois vi o curta “Electric Swan”, da diretora grega Konstantina Kotzamani. Rodado na Argentina, o filme discute diferença de classes em uma espécie “Parasita” com toques de cinema fantástico. Achei incrível. A terceira produção que vi foi “Sisterhood”, de Tracy Choi, de Macau. O foco é um grupo de amigas que se conhece desde a adolescência, quando trabalhavam em um estabelecimento de massagem. O filme tem um visual fofo e uma trama aparentemente leve, mas aborda os altos e baixos das amizades, a exploração no trabalho e o amor entre duas garotas. E ainda teve o bônus (e o estranhamento) de ver como a cultura portuguesa se infiltrou no país asiático (na barraca de doces e na idolatria a Cristiano Ronaldo), graças à colonização.

“Ticket of no return”, da alemã Ulrike Ottiger, foi uma experiência única. A história é simples: uma jovem vai para Berlim para fazer uma tour da manguaça. Ela vai a todo tipo de estabelecimento e bebe sem parar. Apesar das situações engraçadas, o filme expõe alguns momentos incômodos que a moça enfrenta por ser uma mulher sozinha rodando pela cidade e enchendo a cara. Para embasar mais a crítica, em toda parte a protagonista esbarra com três mulheres que comentam suas atitudes (sem nunca se dirigir a ela): a Questão Social, a Estatísticas Precisas e a Senso Comum. O atrativo extra fica por conta das imagens belíssimas e dos modelitos de alta-costura que desfilam pela tela.

“O futuro perfeito” também foi dirigido por uma alemã (Nele Wohlatz), mas a trama se passa na Argentina. Acompanhamos o processo de aprendizado de uma nova língua e da adaptação a uma nova cultura de uma moça chinesa. O que mais me encantou no filme foi o uso da língua como elemento libertador, que permite à garota não apenas viver em um outro país como sonhar, conforme ela aprende os tempos verbais e as condicionais. Gostei demais. O sexto filme que vi foi o documentário “Coração de cachorro”, da multitalentosa Laurie Anderson. Ela faz uma homenagem ao seu falecido cão e ao mesmo tempo discute como a tragédia de 11 de setembro mudou as políticas americanas e a rotina de seus cidadãos. E ainda faz um exame de consciência para lidar com alguns problemas que teve com a mãe na infância. Parecem coisas desconexas, mas estranhamente tudo se encaixa.

Na sequência, vi outro documentário: “Alice Guy-Blaché – A história não contada da primeira cineasta do mundo”. Tomei conhecimento dessa diretora pioneira em um dos primeiros cursos de cinema que fiz. Mas, como revela o documentário, muita gente da indústria cinematográfica não sabia da existência dela. Seu apagamento da história da sétima arte começou por picuinha de ex-patrão ofendido e foi se intensificando conforme as mulheres dessa indústria eram forçadas a sair de campo pela porta dos fundos para que os donos do dinheiro colocassem apenas homens em cargos importantes. Soma-se a isso o descaso (e a preguiça) de muitos historiadores que nem se deram ao trabalho de checar fatos ao escreverem seus livros, e pronto. Felizmente a diretora Pamela B. Green se mobilizou e empreendeu essa tarefa hercúlea para dar crédito a quem merece. E foi emocionante ver a Alice velhinha em entrevistas.

O penúltimo filme de junho foi o nacional “Até o fim”, da dupla Glenda Nicácio e Ary Rosa (já postei aqui sobre outro filme deles, "Café com canela"), no qual acompanhamos o reencontro de quatro irmãs às vésperas da morte do pai. Em volta de uma mesa de bar elas fazem aquela tradicional lavagem de roupa suja, brigam, revelam segredos, revivem bons e maus momentos e estreitam seus laços. Eu adoro esse tipo de filme e esse foi muito bom. Impossível não se emocionar com aquelas mulheres. O último que vi no mês passado foi “The other lamb”, da polonesa Malgorzata Szumowska (já falei de outro filme dela aqui). A trama gira em torno de uma seita de mulheres que é guiada pelo pastor sábio e magnânimo (e aproveitador, claro). O visual do filme é incrível, e foi ótimo ver uma ovelha jovem de desgarrar do rebanho para comandar as demais.

E é isso. Foi um mês com ótimas produções. Comecei a postar no Instagram imagens dos filmes que vi para esse desafio da Mi. Acho que vou continuar postando por lá. Talvez volte a escrever aqui. Não sei. Veremos o que acontece. E quem se interessar em saber o que tenho assistido, é só me seguir no Letterboxd e conferir minhas listinhas ;)

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