quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

DRD2013: Como Woody Allen Pode Mudar Sua Vida (Éric Vartzbed)


“Rir não é simplesmente um jeito vão de escapar das dolorosas questões da realidade: é uma forma de celebrar que dificilmente há certeza maior do que a constatação de que estamos rodeados de incertezas. Frente ao relativismo das coisas e às angústias de que os portos seguros se movimentem junto com as ondas, rir é uma forma de se libertar do sentido e de se apegar aos sentidos”.

Você não está vendo coisas nem entrou no blog errado. Sim, fiz uma resenha de um livro de autoajuda. Pior: a resenha de um livro de autoajuda que eu mesma pedi e ganhei de aniversário. O que eu posso dizer? A minha admiração por Woody Allen e minha curiosidade para conhecer o poder transformador de suas obras venceram a racionalidade de nunca ler esse tipo de livro, que considero uma forma simples e eficiente de tomar o dinheiro de pessoas desesperadas que, obviamente, não encontrarão fora de si mesmas a ajuda que buscam com tanto fervor.

Mas vamos lá! O autor, Éric Vartzbed, faz uma breve análise de alguns filmes e livros de Woody Allen para mostrar como a forma peculiar de ver o mundo do cineasta pode nos influenciar, nos fazer pensar e, por fim, nos transformar. Éric nos conta algumas de suas experiências pessoais e cria tópicos de ajuda a partir de assuntos recorrentes nos trabalhos de Allen: amor, política, psicanálise e religião.

O autor também examina o fascínio que Allen exerce sobre seus fãs e a forte identificação entre o público e os personagens criados por ele. Para tanto, Éric se vale da comparação entre mito e conto (as histórias de Allen se encaixam nessa última categoria), contrapondo a figura do herói e suas exigências inatingíveis à figura do anônimo, frequentemente interpretado pelo próprio Allen - um homem simples, baixinho, desprovido de beleza, desajeitado, neurótico, cheio de complexos, mas que não se deixa abater pelas dificuldades e segue em frente, sempre em busca de seus sonhos. E, nessa jornada, ele usa a arma mais eficaz para enfrentar os obstáculos: o humor. Esse é, portanto, o segredo do sucesso desse nova-iorquino famoso e adorado no mundo todo.

“Em 1928, o cinema evolui: antes mudo, vira falado. Com Woody Allen, inaugura-se outra etapa: antes falado, vira tagarela...”

Quem já viu algum filme do diretor sabe que a frase acima é a mais pura verdade. Em toda a obra do cineasta, a palavra se sobrepõe às imagens. Como mostrado no livro, a profusão verbal de Allen é resultado direto de suas influências cinematográficas: muitos filmes italianos e suecos que ele não apenas assistia, mas também lia (nas legendas) quando jovem, o que o tornou ao mesmo tempo espectador e leitor.

A importância das palavras é exemplificada por Éric na descrição de uma cena de “Vicky Cristina Barcelona”, na qual a impetuosa Maria Elena (personagem de Penélope Cruz) discute com seu marido (interpretado por Javier Bardem). A discussão acalorada, em espanhol, a língua materna de ambos, esfria e fica mais controlada quando o casal interage em inglês por causa da presença de Cristina (Scarlett Johansson), hospedada com eles. O distanciamento provocado por uma língua estrangeira é capaz de aplacar a raiva do casal explosivo e mostra a força do verbo.

No geral, achei o livro bom, com algumas curiosidades sobre Allen e seus filmes. A análise das obras, embora simples, serve ao propósito, que é extrair dicas para tornar a vida dos leitores melhor. Essas dicas foram reveladoras? Não. São capazes de transformar completamente minha perspectiva? Não. Vão me fazer mudar de vida? Não. Mas reforçam a mensagem positiva dos trabalhos de Allen, de que devemos buscar a felicidade da forma que estiver ao nosso alcance, sem receitas, cada um encontrando seu próprio caminho.


Esta postagem também faz parte do Desafio Realmente Desafiante 2013 - Item 12: Ler um livro que você ganhou de presente de aniversário. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DRD2013, clique AQUI.


4 comentários:

O Neto do Herculano disse...

Talvez voce tenha um pouco da Alice,
de Paris-Manhattan.

Flávia disse...

Também não aprecio auto-ajuda, mas acho que para alguns casos funcione. É como um empurrãozinho, um conselho. A pessoa tem que saber como tirar proveito.
Olha, eu tenho uma péssima memória, mas acho que vi esse filme, Vick, e lembro dessa cena!!! Incrível mesmo esse comportamento.

Acho q o livro funciona mais para reconhecemos o padrão Woddy Allen do que para ensinar algo incrível.
Adorei a resenha, Mi.
Beijos

Tati disse...

Hahahaha eu leria também pelo velho e bom Woody! Adoro ele, é o tipo de diretor que conforta sem ser mentiroso. E sim, eu também adoro as esquisitices e neuroses dele :P
Beijos!

Michelle disse...

Herculano,
Ainda não consegui ver esse filme. Mas fiquei curiosa agora... será que é bom ser como essa "Alice"?

Flá,
Eu realmente não acredito que um conselho faça alguém mudar. Para mim, cada um sabe exatamente qual é o seu problema e o que tem que fazer para resolvê-lo. O difícil é fazer o que tem que ser feito, né?

Tati,
A parte da autoajuda eu dispenso, mas conhecer um pouco mais do Allen é sempre bom.