“O
palhaço faz rir os outros enquanto esconde as lágrimas frente aos infortúnios;
assim faz Noemio em suas crônicas, quando encobre os dramas da realidade com
ironia, humor e por vezes sarcasmo, porém, mantendo sempre o otimismo”.
Comprei
esse livro há muito tempo, nem lembro mais onde. Posso dizer que, com certeza,
o que chamou minha atenção foi o texto da contracapa, citado acima. Por outro
lado, se o breve trecho de apresentação foi intrigante o bastante para me
convencer a levar o livro para casa, não posso dizer o mesmo da capa, sem graça
ao extremo. Aliás, a capa medonha é o motivo de eu ter resgatado o coitado do
livro depois de anos na prateleira, para atender ao item 15 do Desafio Realmente Desafiante: ler um livro com a capa feia.
Deixando
a arte gráfica de lado, vou tentar falar um pouco sobre minha experiência de
leitura. Como todo livro de contos, o resultado é inconstante. Algumas
histórias são brilhantes e ficam gravadas na memória; outras são apenas OK.
O
grande destaque do livro é, sem dúvida, “Xixi
na calcinha”, a divertida história de uma mãe que se desespera quando a
filha de 4 anos diz que urinou nas calças por causa de um jacaré vermelho. Uma
explicação tão simples quanto a inocência infantil encerra o conto, que aborda
com humor as pessoas que superdimensionam fatos e veem problemas sérios onde
eles não existem. Segundo a biografia do escritor, nas páginas derradeiras do
livro, essa foi a crônica “teoricamente premiada” que o inspirou a continuar no
mundo da literatura. E, de fato, eu já havia lido a história em algum lugar.
Daquelas que entram na categoria “inesquecíveis”.
Recheado
de histórias engraçadas do cotidiano, o livro arranca sorrisos em situações que
nos causam identificação imediata com os problemas dos personagens. Destaco
aqui um trecho de “Como comer listas de
telefone”, sobre um homem que tenta ligar para a granja, do outro lado da
rua, para que a mulher termine de fazer uma sopa. Um clássico exemplo de que
nem sempre a tecnologia facilita nossa vida:
“Agarrei
novamente o telefone, e depois de aplicar diversas técnicas que com os diversos
anos descobri sozinho, como discar rápido o primeiro algarismo e lento os
outros, segurar o telefone no ar sem encostar na mesa e incliná-lo para trás
durante a discagem do último algarismo, consegui novamente a telefonista, com a
voz diferente, parecia meio caipira".
Quem
é que nunca fez um ritual secreto e estapafúrdio para conseguir completar uma
ligação ou sintonizar um canal?
Além
disso, outra crônica que achei muito boa é "Psicoprogram",
uma história futurista sobre as maravilhas da ciência e o domínio das máquinas,
que me lembrou o cenário mostrado em "Admirável
Mundo Novo", por falar da “perfeição” de um mundo sem doenças, no qual
cada ser sabe exatamente seu papel e age mecanicamente. Como na obra
inspiradora, aqui também os livros foram banidos, devido ao seu poder transformador:
“Norton
emocionou-se ao segurar pela primeira vez um livro em suas mãos: Na capa pôde
ver o nome do escritor, meio apagado: Shakespeare. Ao abrir a primeira página,
o nome do romance: Romeu e Julieta. Não conseguiu iniciar a leitura
imediatamente, sentiu a necessidade de segurar o livro em suas mãos por mais
algum tempo antes de começar a ler, de manuseá-lo com cuidado.”
Gostei
de ter dado uma chance a esse livro meio esquecido. Foi uma leitura muito
agradável e rápida, que me ajudou a completar mais um item do desafio e a
aumentar minha marca de livros lidos em fevereiro de 2013.
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4 comentários:
Oi, Michelle!
Concordo contigo: a capa de Contos da Gaveta é feia, só o compraria mesmo porque li sua opinião sobre ele, achei o primeiro trecho muito bom :)
Se qualquer dia encontrar esse livro, vou querer ler para conferir o “Xixi na calcinha” e mostrá-lo para uma colega minha que me lembrou muito a mãe da menininha.
Beigos,
Maura - Blog da /mauraparvatis.
Oi, Maura!
Esse é o típico caso de não julgar o livro pela capa.
Bjo e obrigada pelo comentário!
Não conheço esse "Xixi na calcinha"...
Sobre o telefone, é verdade, rsrsrs. Ou a Tv, ou a Internet. Achamos que um ritual específico e provavelmente idiota, trará o sucesso.
Ah, e sim: ô capinha feia, rsrsrs
Beijos
Qualquer aparelho eletrônico que dê pau é um sério candidato aos rituais bizarros, né?
bjo
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