Dando continuidade ao Mês do Suspense, hoje venho apresentar um livro que eu já estava curiosa para ler havia tempos. Como nos outros volumes da coleção 'Ficção de Polpa', temos 6 histórias de crime e mistério criadas por escritores de língua portuguesa (cinco brasileiros e um português), mais uma 'faixa bônus', que traz o trabalho de um renomado autor do gênero.
Antes
de começar a falar sobre os contos, algumas palavras sobre o nome da antologia,
que foi assim batizada devido às revistas de banca do estilo pulp do início do
século XX, impressas em papel de baixa qualidade (daí o nome ‘pulp’ = polpa),
dedicadas a histórias de fantasia e ficção. Esse tipo de leitura era uma forma
de entretenimento rápido e divertido muito popular nos Estados Unidos, numa
época em que a TV ainda engatinhava.
Vale
dizer que a capa também segue o estilo pulp e, no fim do exemplar, há duas
páginas falando sobre como foi definida a imagem. Bem bacana! Mas vamos ao que
interessa: vou fazer uma breve sinopse da trama seguida pela minha opinião.
1. As Muralhas Verdes (Carlos Orsi)
Detetive
é contratado por produtora de TV para descobrir qual dos 5 participantes do
reality show assassinou um outro morador da ‘Casa de Vidro’. A ideia era
solucionar o crime em 2 dias para que, quando a morte fosse ao ar, já fosse
possível entregar o culpado à polícia.
O
clima da história é noir, com um
detetive meio antiquado que trabalha em bares com wi-fi liberado e fuma
charutos fedorentos. A garota provocante surge na pele da produtora Ana Cláudia
e atrai o investigador para o caso. A tal casa cercada por muralhas verdes é
uma clara referência, como diz o texto, à obra 'Nós', do russo Ievguêni Zamyatin, uma ficção
científica anterior a '1984' que
também abordava a vigilância constante. A ideia de assassinato dentro de um
reality show também foi explorada pela sueca Camilla Läckberg em 2006,
no livro ‘O Estranho’. O mais
bizarro de tudo é que mortes em programas desse tipo de fato já aconteceram (a
mais recente foi esta semana - o suicídio de uma coreana).
Mulher
procura detetive de ‘casos especiais’ para resolver o mistério de combinações
de números específicas que ela via toda vez que olhava para um relógio (números
repetidos, sequências numéricas, pares e todo tipo de padrão). O detetive tenta
convencê-la de que tudo não passa de coincidência, imaginação e teoria das
probabilidades, mas então algo estranho acontece.
Gostei
muito da história do autor português sobre o detetive que tenta fazer a cliente acreditar que é tudo obra da mente, quando, ele mesmo, tem como amigo imaginário um
coelho gigante chamado Tobias. Intrigante e divertida.
O
narrador faz a transcrição/tradução de um relato póstumo de John H. Watson
encontrado em uma mala antiga que herdara recentemente. O documento trazia o
caso da escuna que chegou ao porto sem nenhum tripulante, exceto um
cadáver amarrado ao Leme, e da qual, segundo rumores, havia saído um enorme
cão/lobo negro.
Sim,
essa é uma história de Sherlock Holmes! Nessa homenagem a um dos personagens
literários mais queridos do mundo, o autor cria uma trama sobre a tal escuna e
quem seria o homem preso ao leme. Não pude aproveitar direito a leitura (que
fiz no metrô), pois a história era cheia de detalhes que deveriam ser
observados para seguir o raciocínio dos investigadores e desvendar o mistério.
Me perdi em certas partes.
História
de Clemenciano, açougueiro bruto e orgulhoso de suas habilidades, que estava
sempre contratando jovens ajudantes que desapareciam misteriosamente. É casado
com Diva, mulher que tinha horror à frieza com que o esposo contava histórias
de caça e abate. Em determinado momento, chega à propriedade do casal Tomás,
sobrinho de Diva que passa uns tempos morando por lá e trabalhando como
aprendiz no açougue.
A
narração é feita pelos três protagonistas e diferenciada pelas fontes usadas no
texto. Clemenciano não se manifesta diretamente; só o que temos são suas
anotações em um caderno. Já Diva e Tomás se revezam contando suas versões da
história a um inspetor. Logo fica claro que Clemenciano morreu e que estamos
acompanhando uma investigação. O que teria acontecido? Adorei a forma como a
trama se desenrola, mostrando aos poucos o que aconteceu, apresentando os
diferentes pontos de vista para os fatos. Minha história favorita!
5. Agulha de Calcário (Carol Bensimon)
Vários
personagens, que são identificados por suas características físicas ou
atividades. Cada um deles narra um pouquinho da história e fornece peças do
quebra-cabeça. Gradativamente, vamos descobrindo seus nomes e suas relações. Em
comum, apenas o fato de todos estarem ligados ao Hôtel Detective, um
estabelecimento francês que possuía quartos batizados com nomes de investigadores
famosos e organizava expedições de mistério.
Não
tenho muito o que falar sobre a história, já que é toda fragmentada e
não-linear. O legal foi ir descobrindo quem era quem e o que faziam. Coloca o
leitor no papel de detetive. Bem interessante.
6. Um dos Nossos (Carlos André Moreira)
Roszynski
é o novato da Homicídios que enfrenta as piadinhas dos colegas de trabalho e a
descrença por parte dos superiores ao começar a investigar o assassinato de um
ex-policial, encontrado baleado em um muquifo localizado em uma área de tráfico
de drogas. Mesmo sem receber apoio, ele segue seus instintos e acaba
descobrindo muita sujeita em baixo do tapete da corporação.
O
legal dessa história é que ela parece um episódio de CSI, mas sem todo o
aparato tecnológico e as ações politicamente corretas. O cenário aqui é Porto
Alegre e as condições são mais reais e próximas daquelas que veríamos na
polícia brasileira: equipamentos meia-boca, pessoas passando pela cena do
crime, usando canetas para mover objetos em vez de luvas. Uma ótima trama
policial!
> Bônus: A Moeda de Dionísio (Ernest
Bramah)
Em
uma noite chuvosa, inspetor precisa descobrir se uma rara moeda grega é falsa.
É encaminhado pelo numismata à residência de Max Carrado, que, na verdade, era
um colega de faculdade que havia mudado de nome e sofrido um acidente que o
deixara cego. Mas a perda da visão só amplificou os outros sentidos de Carrado,
que demonstra assombroso poder de percepção e dedução.
História
bem ao estilo ‘Sherlock Holmes’, baseada mais na observação de detalhes e
inferências do que na investigação propriamente dita. Confesso que nunca tinha
ouvido falar do autor (aliás, há poucas ocorrências de seu nome em português na
internet) que, segundo o texto introdutório, era publicado na mesma revista que
o detetive criado por Doyle, superando-o, inclusive, em faturamento (mas não em
popularidade). Gostei desse primeiro contato.
Em
geral, gostei muito das histórias e do formato do livro (que lembra páginas de jornal). Quero ler os outros volumes!
Veja outros posts do especial Mês do Suspense!
2 comentários:
Oie Moça =)
caramba, estava olhando as tuas resenhas, só ler livros top, e diferente das minhas leituras, sou chorona por natureza ou seja romances na veia. rs
Beliscões da Máh ♥
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Maria Silvana,
É, nossos estilos de leitura são diferentes. Mas é legal se aventurar por caminhos desconhecidos às vezes, né?
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