Roz e Lil são
melhores amigas, inseparáveis desde a infância. Elas cresceram juntas, casaram,
tiveram filhos e agora têm netas, mas a amizade ainda é a mesma. Quando o
marido de uma delas teve que mudar de cidade por causa do emprego e o da outra
morreu, elas criaram seus filhos sozinhas, estreitando ainda mais os laços da
amizade. Os garotos também se tornaram melhores amigos, quase irmãos. Tudo
parece perfeito na vida dessa família não tradicional, até que entra em cena o
desejo, complicando tudo.
Quando crianças, Roz e Lil se aproximaram por obra do
acaso: eram novatas em uma escola enorme e precisavam se unir para sobreviver
em meio à diversificada fauna escolar. Ambas eram bonitas e
inteligentes, e, embora fossem bem diferentes quanto à compleição e ao
temperamento (Lil era magra e estava sempre séria; Roz era encorpada e fazia
piada de tudo), todos na baía de Baxter viam-nas como irmãs, gêmeas até. Com
suas singularidades, elas se completavam.
Já adultas e com famílias formadas, elas conseguiram
manter a amizade e estavam sempre juntas, o que gerava insatisfação nos maridos
(que se sentiam à margem do mundo perfeito e exclusivo das duas) e comentários
maldosos da vizinhança (é claro que as duas eram lésbicas e tinham um caso,
afinal, é impossível ter uma relação tão verdadeira com outra pessoa sem
envolver sexo). Todos invejavam o relacionamento de Roz e Lil e, secretamente,
as criticavam por isso.
Ignorando a maledicência alheia, as mulheres eram
felizes. Ambas trabalhavam e adoravam se divertir na praia junto com seus
filhos. Roz e Lil, sempre acompanhadas por Tom
e Ian, seus respectivos filhos,
tinham uma vida plena e simples na isolada baía em que moravam. Não precisavam
de mais ninguém; eles se bastavam. O quarteto despertava fascinação por onde
passava.
O fato é que, quando os garotos chegam à adolescência,
se transformam em rapazes atraentes, com uma aura que fazia deles verdadeiros
deuses (ou, pelo menos, é assim que suas mães pensavam). Estavam na fase de
esplendor máximo e poderiam virar a cabeça de qualquer garota facilmente. Não
sei se por comodidade, hábito ou isolamento proporcionado pelo local
paradisíaco em que viviam, as mocinhas das redondezas não chamavam a atenção
deles, que, por outro lado, passaram a se interessavam cada vez mais pela mãe
do outro. E, por motivos que talvez as próprias mães desconhecessem, também se
mostram atraídas pelo filho alheio. Está aí está a receita de um desastre.
Confesso que achei meio improvável essa coisa de,
convenientemente, uma se apaixonar pelo filho da outra. Depois, pensei melhor,
e, considerando a proximidade que tinham e o ambiente isolado em que viviam,
passei a acreditar mais nessa possibilidade. Crível ou não, o que me agradou na
história é que as relações são tratadas com naturalidade e, quando menos
percebi, torcia pelos casais improváveis. E gostei muito do fato de as mulheres
conseguirem colocar a amizade acima de tudo, mesmo que isso tenha afetado seus
casamentos e gerado fofoca. Em geral, as pessoas parecem não entender que é
possível existir uma relação de amor e respeito entre duas pessoas sem que haja
‘segundas intenções’.
“Dois belos homens vinham na frente, não jovens, mas apenas o despeito poderia dizer que eram de meia-idade. Um deles mancava. Em seguida duas mulheres tão bonitas quanto eles, de uns sessenta anos – mas ninguém nem sonharia em chamá-las de velhas. Numa mesa evidentemente conhecida deixaram sacolas, cangas e em descanso. Mulheres de um lado, homens do outro, as duas meninas impacientes – seis belas cabeças? Com certeza eram parentes? Aquelas tinham de ser as mães dos homens; e eles só podiam ser os filhos. As meninas, clamando pela praia, no fim de uma trilha de pedra, foram avisadas pelas avós, e depois pelos pais, que deveriam se comportar e brincar sem alvoroço. Elas sentaram e começaram a desenhar figuras na areia com a ajuda dos dedos e de gravetos. Meninas muito bonitas – e assim tinham que ser, com progenitores tão belos."
Por apresentar relacionamentos polêmicos sem fazer
disso um circo, recomendo a leitura.
Nota:
O livro foi adaptado para as telas e virou o filme “Amor sem pecado” (“Adore”, também conhecido como “Adoration”,
“Two Mothers” e “Perfect Mothers”). Naomi
Watts interpreta Lil e Robin Wright
vive Roz. Em geral, a trama é bem fiel ao texto original. Vale a pena conferir
como curiosidade.
Trailer (sem legenda):
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