sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Resenha: Frankenstein


Outubro é mês de Halloween. Em vários desafios e clubes de leitura de que participo, o tema foi “terror”. Para o Desafio Skoob, me aventurei a ler Poe em quadrinhos (já postei a resenha aqui); para o Leituras Compartilhadas dos Espanadores, reli “O Médico e o Monstro” (que eu já tinha resenhado aqui da primeira vez que li); para o Leia Mulheres, fiz outra releitura: “Frankenstein”. Esse eu havia lido láááááá na adolescência, uns 20 anos atrás, e, obviamente, não lembrava de muita coisa, só que eu tinha gostado bastante. Felizmente, meu reencontro com o clássico gótico foi uma boa experiência.

“Frankestein” é uma daquelas histórias que todo mundo acha que conhece, de tão enraizada que está no imaginário popular. Ainda lembro da primeira vez que li e fiquei chocada ao descobrir que Frankenstein não é um monstro enorme, verde e remendado, com parafusos na cabeça, e sim o médico que o cria (não me xinguem porque isso está logo no começo do livro). Sim, por algum motivo desconhecido e, talvez pelo fato da criatura não ter um nome, talvez por ter sido criada por Frankenstein, esse acabou se tornando seu nome por extensão, coisa que as inúmeras versões para o cinema acabaram por enfatizar. Se for para escolher uma adaptação que mais se aproxima da história de Mary Shelley, pelo menos no quesito visual da criatura, indico aquela com o Robert DeNiro, de 1994.

Mas voltando ao livro... a história começa com uma série de cartas escritas por um homem do mar (comandante, capitão... algo assim) à sua irmã. Nelas, ele conta as novidades de sua empreitada rumo ao Polo Norte. É nessa viagem que ele resgata de um pedaço de gelo flutuante um homem à beira da morte. Quando melhora, esse homem começa a lhe contar sua vida e as desgraças que o levaram até ali. Seu nome é Victor Frankenstein.

Primeiro filho de uma família abastada e generosa de Genebra, Victor foi um garoto amado, feliz, com um futuro cheio de possibilidades. Desejando uma filha que não vinha, os Frankenstein adotaram Elizabeth, uma garota pobre que se tornou a irmã, a prima, a amiga e a esposa prometida de Victor. Outros irmãos vieram depois, mas Victor e Elizabeth sempre tiveram uma relação especial. Quando ele, já crescido, decide levar além seus estudos de alquimia e ciência, vai para a universidade e se mantém afastado por anos, deixando toda a família apreensiva, pois não os visitava nem mandava notícias.

Em seu isolamento, Victor estava fascinado com a ciência, a medicina, a natureza e, consumido por uma ideia insana de gerar vida a partir a morte, ele ignora a saudade dos entes queridos, adoece, mas finalmente realiza seu intento. Todavia, assim que tem diante de si sua criação, percebe o erro que cometera, se desespera, abandona a pobre criatura à própria sorte e foge. Pouco tempo depois, recebe a terrível notícia do assassinato do irmão menor. Victor, enfim, volta para casa, e então descobre que seu monstro estava ligado à morte do menino. E esse é só o começo dos infortúnios que caem sobre sua vida.

Embora “Frankenstein” seja classificado como terror, as únicas monstruosidades que encontramos na história são humanas. Não há espíritos malignos ou seres sobrenaturais ali. Todos os horrores são resultado do orgulho e da imprudência de Frankenstein ao brincar de Deus. Um Deus bem cruel, que dá a vida e se exime de qualquer responsabilidade logo em seguida. E continua não assumindo seus erros até o fim. Não preciso nem dizer que me compadeço muito mais com a criatura do que com o criador.

O romance de Mary Shelley figura até hoje como um dos maiores clássicos do gênero que criou, a ficção científica, pois consegue envolver o leitor ao levantar questionamentos sobre os limites da ciência e sobre os efeitos das experiências sobre as pessoas e o ambiente e, ao mesmo tempo, tratar de questões morais e éticas. A criatura solitária nasce como um ser puro, que tenta compreender o mundo à sua volta, que deseja se inserir na sociedade, que busca companhia, mas que logo se depara com o preconceito e com a violência das pessoas, que o julgam por sua aparência e o atacam sem lhe dar tempo de falar; que pede ajuda ao seu criador, que mais uma vez lhe vira as costas; que, enfim, internaliza tudo o que viu e sentiu e se transforma naquilo que todos julgavam que fosse desde o início: um monstro.

“Não passamos de criaturas toscas e incompletas se alguém mais prudente, mais sábio e melhor do que nós mesmos (...) não nos ajuda a aperfeiçoar nossa natureza fraca e defeituosa”.

Apesar do medo que tenho de reler histórias que adoro e perceber que não são tão boas assim, isso não aconteceu com “Frankenstein”. Continua tão incrível quanto antes e mais atual que nunca.

>> Eu falei um pouco de Frankenstein no post da primeira temporada de Penny Dreadful. Estou vendo a segunda e a criatura continua sendo um dos meus personagens preferidos.

>> Frankenstein também foi a escolha de outubro do Fórum Entre Pontos e Vírgulas. Como o debate é online, é só entrar lá e participar.

2 comentários:

Lua Limaverde disse...

Oi, MI!
Você comentou mais sobre a Elizabeth e eu fiquei pensando que a Shelley bem que poderia ter aproveitado mais essa personagem, né? Mas talvez fosse coisa demais em um livro que já tem tanto a render. Mi, sempre quero te perguntar e me esqueço: por que você não tem 5 estrelas na sua classificação? =D
Beijinho!

Michelle disse...

Lua,
É... acho que o livro aborda tantas coisas que não deu para desenvolver tudo à perfeição. Vou confessar: tenho problemas com classificações! Acho que quatro estrelas já dão conta; a quinta ficaria sobrando (seria algo "maravilhoso-incrível-sensacional!"). Sei lá, não tem explicação... hahaha. Mas se dou 4 estrelas para alguma coisa, é porque realmente adorei!