Anna é uma órfã criada por sua tia Aliona. Um dia, enquanto ajudava a tia no campo, conhece o
fazendeiro viúvo Wassily e seu filho
Ivan. É amor à primeira vista para
os jovens. Ao mesmo tempo em que a ação acima se desenrola, acompanhamos, em
outro ponto da região, o encontro amoroso proibido entre Vassilisa, irmã de Ivan, e o ferreiro Nicolai. Parece que o amor está no ar no pequeno vilarejo. No
entanto, o costume da época eram os casamentos arranjados. Será que os
apaixonados conseguirão ficar juntos?
As mulheres trabalhando |
À primeira vista, o filme parece ser só mais uma
história romântica previsível. Só que, antes de chegarmos a essa conclusão
precipitada, vale levar em conta algumas coisas: 1) “A aldeia do pecado” foi o primeiro filme russo a ser dirigido por
uma mulher e sua temática foge completamente à maioria das produções do país
naquela época (leia-se filmes que tinham como finalidade a propaganda
política); 2) a diretora Olga
Preobrazhenskaya ficou conhecida por retratar na tela a difícil situação
dos camponeses na Rússia que lutava pelo socialismo, bem como o papel da mulher
naquela sociedade em formação.
Anna e Ivan no dia do casamento |
Vassilisa e seu amado Nicolai |
Enfim, Anna tem a sorte de ser prometida em casamento
justamente ao moço que ama. Eles vivem felizes por uns dois anos, mas então
estoura a Primeira Guerra e Ivan é mandado para o front. Quanto a Vassilisa e
Nicolai, eles também conseguiram viver juntos durante esse tempo, embora com
muito mais obstáculos em sua vida, já que a moça havia fugido de casa para
morar com o amado (rejeitado pelo pai dela por ser pobre demais) e ela sofria
ataques das demais mulheres do vilarejo por não aceitar o papel que lhe era imposto pela tradição. Mas a
guerra convoca também Nicolai, assim como praticamente todos os jovens da região,
que se transforma em uma terra de mulheres que aguardam indefinidamente a volta
dos familiares do sexo masculino, enquanto trabalham ainda mais duro nos
campos.
Vassilisa discutindo com o pai |
É aí que a diretora tem sua deixa para mostrar os
camponeses esquecidos pelo governo e, pior, as mulheres que sofriam abuso
sexual institucionalizado pelos poucos homens que restavam na área. Em muitos
casos, como no da protagonista Anna, pelo próprio sogro. Como se o ato violento
em si não bastasse, ela ainda é hostilizada pelas outras mulheres da fazenda,
explorada feito escrava e ainda considerada culpada quando o filho fruto do
estupro nasce. Pois é. A única que fica a seu lado, que lhe dá apoio e que tem
coragem para enfrentar o estuprador (que no caso é seu próprio pai) é
Vassilisa, aquela que foi apontada e ridicularizada por todos por não aceitar
valores ultrapassados em que não acreditava.
A pobre Anna ao pensar em sua situação |
Perceberam a ousadia da diretora e a importância do
filme? Embora o panorama histórico esteja lá (a guerra, a Revolução Russa), ele
é apenas o pano de fundo, enquanto o foco real é a luta pela liberdade das
mulheres, para que possam quebrar regras e tomar as rédeas do próprio destino
nas mãos. Como bem mostra Vassilisa, a batalha não é fácil, mas nada de bom é
entregue de bandeja, não é mesmo?
Nota: 4/5
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Sobre a diretora:
Olga
Preobrazhenskaya é uma diretora russa nascida em Moscou no ano de 1881.
Antes de começar a trabalhar atrás da câmera, foi atriz e estrelou grandes
adaptações literárias, como “Guerra e
Paz”, além de diversos filmes mudos. Em 1916, foi a primeira mulher russa a
dirigir um filme, e o fez ao lado de Vladimir Gardin, importante diretor russo
da época. No ano seguinte, realizou seu primeiro trabalho solo na direção de “Victoria”. Depois, dirigiu mais 10
longas e 1 curta, muitas vezes dividindo a cadeira de cineasta com o marido,
Yakov Protazanov, e seu maior sucesso é “A
Aldeia do Pecado”, de 1927.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
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