quinta-feira, 2 de junho de 2016

Veja Mais Mulheres: Filme #19 - A Aldeia do Pecado


Anna é uma órfã criada por sua tia Aliona. Um dia, enquanto ajudava a tia no campo, conhece o fazendeiro viúvo Wassily e seu filho Ivan. É amor à primeira vista para os jovens. Ao mesmo tempo em que a ação acima se desenrola, acompanhamos, em outro ponto da região, o encontro amoroso proibido entre Vassilisa, irmã de Ivan, e o ferreiro Nicolai. Parece que o amor está no ar no pequeno vilarejo. No entanto, o costume da época eram os casamentos arranjados. Será que os apaixonados conseguirão ficar juntos?

As mulheres trabalhando
À primeira vista, o filme parece ser só mais uma história romântica previsível. Só que, antes de chegarmos a essa conclusão precipitada, vale levar em conta algumas coisas: 1) “A aldeia do pecado” foi o primeiro filme russo a ser dirigido por uma mulher e sua temática foge completamente à maioria das produções do país naquela época (leia-se filmes que tinham como finalidade a propaganda política); 2) a diretora Olga Preobrazhenskaya ficou conhecida por retratar na tela a difícil situação dos camponeses na Rússia que lutava pelo socialismo, bem como o papel da mulher naquela sociedade em formação.

Anna e Ivan no dia do casamento
 Com isso em mente, já dá para imaginar que de ingênuo o filme não tem nada. Pois bem. Aproveito para dizer que vou fazer algumas revelações importantes sobre o enredo para poder explicar por que o filme é tão inovador. Então, se você não gosta de spoilers, PARE DE LER AGORA.

Vassilisa e seu amado Nicolai
Enfim, Anna tem a sorte de ser prometida em casamento justamente ao moço que ama. Eles vivem felizes por uns dois anos, mas então estoura a Primeira Guerra e Ivan é mandado para o front. Quanto a Vassilisa e Nicolai, eles também conseguiram viver juntos durante esse tempo, embora com muito mais obstáculos em sua vida, já que a moça havia fugido de casa para morar com o amado (rejeitado pelo pai dela por ser pobre demais) e ela sofria ataques das demais mulheres do vilarejo por não aceitar o papel que lhe era imposto pela tradição. Mas a guerra convoca também Nicolai, assim como praticamente todos os jovens da região, que se transforma em uma terra de mulheres que aguardam indefinidamente a volta dos familiares do sexo masculino, enquanto trabalham ainda mais duro nos campos.

Vassilisa discutindo com o pai
É aí que a diretora tem sua deixa para mostrar os camponeses esquecidos pelo governo e, pior, as mulheres que sofriam abuso sexual institucionalizado pelos poucos homens que restavam na área. Em muitos casos, como no da protagonista Anna, pelo próprio sogro. Como se o ato violento em si não bastasse, ela ainda é hostilizada pelas outras mulheres da fazenda, explorada feito escrava e ainda considerada culpada quando o filho fruto do estupro nasce. Pois é. A única que fica a seu lado, que lhe dá apoio e que tem coragem para enfrentar o estuprador (que no caso é seu próprio pai) é Vassilisa, aquela que foi apontada e ridicularizada por todos por não aceitar valores ultrapassados em que não acreditava.

A pobre Anna ao pensar em sua situação
Perceberam a ousadia da diretora e a importância do filme? Embora o panorama histórico esteja lá (a guerra, a Revolução Russa), ele é apenas o pano de fundo, enquanto o foco real é a luta pela liberdade das mulheres, para que possam quebrar regras e tomar as rédeas do próprio destino nas mãos. Como bem mostra Vassilisa, a batalha não é fácil, mas nada de bom é entregue de bandeja, não é mesmo?

Nota: 4/5
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Sobre a diretora:

Olga Preobrazhenskaya é uma diretora russa nascida em Moscou no ano de 1881. Antes de começar a trabalhar atrás da câmera, foi atriz e estrelou grandes adaptações literárias, como “Guerra e Paz”, além de diversos filmes mudos. Em 1916, foi a primeira mulher russa a dirigir um filme, e o fez ao lado de Vladimir Gardin, importante diretor russo da época. No ano seguinte, realizou seu primeiro trabalho solo na direção de “Victoria”. Depois, dirigiu mais 10 longas e 1 curta, muitas vezes dividindo a cadeira de cineasta com o marido, Yakov Protazanov, e seu maior sucesso é “A Aldeia do Pecado”, de 1927.

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.

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