Alisa é filha de uma moça que adorava o
mar e de um marinheiro – é uma sereia (ou pelo menos é essa a história que sua
mãe lhe contou quando criança, o que a fez crescer em uma espera eterna pelo
pai que não conheceu). Seu sonho era ser bailarina, mas, diante de tal
impossibilidade, é inscrita para cantar no coral. Uma grande mudança parece se
anunciar quando a cidadezinha litorânea em que morava fica em polvorosa com a
chegada de um eclipse solar – mais uma vez a garota se frustra, a ponto de
deixar de falar. O que ela não percebe na hora é que uma grande mudança
ocorreu, sim, só que em seu interior: agora ela tem o poder de realizar os
desejos de outras pessoas.
Encontrei
esse filme por acaso no meu HD externo. Nem sei como tomei conhecimento dele e
em que momento decidi baixá-lo, mas descobri-lo ali, perdido entre centenas de
outros, foi sorte, principalmente quando fui pesquisar para saber mais sobre a
história e notei que era dirigido por mulher. Mais do que isso: por uma mulher
nascida no Azerbaijão. Opa, vou assistir para o #vejamaismulheres!
O
visual do filme é lindo, colorido, uma atmosfera de sonho à la Wes Anderson. A própria
Alisa é um híbrido de Amélie Poulain,
Wally (de Onde está Wally?) e Lola (de Corra, Lola, Corra). Sua
ingenuidade é cativante e o dom que ela descobre ter, na verdade, não é nenhum
milagre: os desejos alheios são realizados graças ao desprendimento de Alisa.
Ela se doa tão completamente aos demais que acaba prejudicando a si mesma, e é
essa a beleza (e a tristeza) da coisa toda.
É
estranho acompanhar sua saga. Ao mesmo tempo em que eu a admirava por se
dedicar tanto ao bem-estar dos outros por puro altruísmo, ficava triste por ver
que ela se anulava cada vez mais, que a felicidade alheia era concretizada às
custas de sua própria. Talvez eu seja egoísta demais para imaginar uma atitude
dessas em alguém.
Uma
coisa que me chamou a atenção no filme é a mudança brusca de realidade quando
Alisa e sua família vão do litoral para Moscou. O cenário não só perde o
colorido, como vemos o ritmo se tornar frenético, as pessoas se tornarem mais
duras, a propaganda ostensiva transformar sonhos em impulso consumista
desenfreado, que oprime e frustra por meio de falsas noções de felicidade. A
protagonista parece mais deslocada do que nunca nesse ambiente, e realmente
causa estranheza aos outros, mas sua delicadeza acaba se impondo, apesar de
todos os obstáculos.
Foi
uma ótima surpresa e recomendo a todos que ainda acreditam na humanidade (nem
que seja durante os poucos minutos de duração do filme).
Nota:
4/5
**********************
Sobre
a diretora:
Anna Melikyan nasceu em 1976 no Azerbaijão (um dos países da antiga
União Soviética) e é diretora, roteirista e produtora. Estudou na Universidade
Russa de Cinema, produziu diversos programas para a TV e seu filme "Rusalka" ganhou vários
prêmios, incluindo o do Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim
de 2008. Anna levou o prêmio de melhor diretora no Festival de Sundance do
mesmo ano. Em 2015, seu filme “About
Love”, uma antologia de 5 curtas, levou o prêmio principal no 26º Festival
de Cinema Kinotavr, um dos principais eventos russos de cinema.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário