quinta-feira, 28 de julho de 2016

Veja Mais Mulheres: Filme #22 - Sereia


Alisa é filha de uma moça que adorava o mar e de um marinheiro – é uma sereia (ou pelo menos é essa a história que sua mãe lhe contou quando criança, o que a fez crescer em uma espera eterna pelo pai que não conheceu). Seu sonho era ser bailarina, mas, diante de tal impossibilidade, é inscrita para cantar no coral. Uma grande mudança parece se anunciar quando a cidadezinha litorânea em que morava fica em polvorosa com a chegada de um eclipse solar – mais uma vez a garota se frustra, a ponto de deixar de falar. O que ela não percebe na hora é que uma grande mudança ocorreu, sim, só que em seu interior: agora ela tem o poder de realizar os desejos de outras pessoas.


Encontrei esse filme por acaso no meu HD externo. Nem sei como tomei conhecimento dele e em que momento decidi baixá-lo, mas descobri-lo ali, perdido entre centenas de outros, foi sorte, principalmente quando fui pesquisar para saber mais sobre a história e notei que era dirigido por mulher. Mais do que isso: por uma mulher nascida no Azerbaijão. Opa, vou assistir para o #vejamaismulheres!


O visual do filme é lindo, colorido, uma atmosfera de sonho à la Wes Anderson. A própria Alisa é um híbrido de Amélie Poulain, Wally (de Onde está Wally?) e Lola (de Corra, Lola, Corra). Sua ingenuidade é cativante e o dom que ela descobre ter, na verdade, não é nenhum milagre: os desejos alheios são realizados graças ao desprendimento de Alisa. Ela se doa tão completamente aos demais que acaba prejudicando a si mesma, e é essa a beleza (e a tristeza) da coisa toda.


É estranho acompanhar sua saga. Ao mesmo tempo em que eu a admirava por se dedicar tanto ao bem-estar dos outros por puro altruísmo, ficava triste por ver que ela se anulava cada vez mais, que a felicidade alheia era concretizada às custas de sua própria. Talvez eu seja egoísta demais para imaginar uma atitude dessas em alguém.


Uma coisa que me chamou a atenção no filme é a mudança brusca de realidade quando Alisa e sua família vão do litoral para Moscou. O cenário não só perde o colorido, como vemos o ritmo se tornar frenético, as pessoas se tornarem mais duras, a propaganda ostensiva transformar sonhos em impulso consumista desenfreado, que oprime e frustra por meio de falsas noções de felicidade. A protagonista parece mais deslocada do que nunca nesse ambiente, e realmente causa estranheza aos outros, mas sua delicadeza acaba se impondo, apesar de todos os obstáculos.


Foi uma ótima surpresa e recomendo a todos que ainda acreditam na humanidade (nem que seja durante os poucos minutos de duração do filme).

Nota: 4/5

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Sobre a diretora:

Anna Melikyan nasceu em 1976 no Azerbaijão (um dos países da antiga União Soviética) e é diretora, roteirista e produtora. Estudou na Universidade Russa de Cinema, produziu diversos programas para a TV e seu filme "Rusalka" ganhou vários prêmios, incluindo o do Panorama do Festival Internacional de Cinema de Berlim de 2008. Anna levou o prêmio de melhor diretora no Festival de Sundance do mesmo ano. Em 2015, seu filme “About Love”, uma antologia de 5 curtas, levou o prêmio principal no 26º Festival de Cinema Kinotavr, um dos principais eventos russos de cinema.

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI. 

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