Imagine
você, aos 17 anos, descobrir que aquela menina que chama de irmã e aquela
mulher que te criou até então não são, de fato, sua família. E que não se trata
apenas de um caso de adoção: você foi roubado na maternidade. Como se tal
revelação não fosse perturbadora o suficiente, sua mãe é presa sob a acusação
de envolvimento no roubo e seus pais biológicos (e totalmente desconhecidos)
aparecem em sua casa, sorridentes, para levá-lo para seu novo lar. É muita
informação de uma vez, né? Pois é exatamente o que acontece com Pierre, o protagonista de “Mãe só há uma”.
Se
lidar com mudanças já é algo difícil, imagine ter que encarar uma tão drástica
quanto a mostrada no filme. Ainda mais na adolescência, um momento de tantas
dúvidas e incertezas. Ser arrancado do âmago de uma família e jogado em outra é
perder sua história, sua identidade, o que só complica ainda mais essa fase de
descobertas.
Além
de perder a mãe (que sempre vai ser a mãe, já que é aquela que o criou desde
bebê), Pierre ainda tem que lidar com o afastamento da irmã (que é levada para
morar em outra casa), com a imposição de novos parentes e de um estilo de vida
diferente, e com expectativas (muitas expectativas).
Mas
a visão de Pierre é só um ângulo do problema. É claro que ele está sofrendo com
tanta pressão, mas a nova família também está. Em muitos momentos, eles são
invasivos, forçam a intimidade, querem escolher o que o filho mais velho vai
vestir e o que vai estudar... realmente enchem o saco, mas são apenas pessoas
tentando acertar, compensar o tempo perdido, oferecer o melhor (ou o que acham
que seja o melhor).
Para
a mãe biológica, também é frustrante encontrar o filho perdido depois de tanto
tempo, tê-lo ali ao alcance da mão e vê-lo se distanciar, tanto em busca da
antiga mãe quanto de sua própria independência; para o pai, é decepcionante
finalmente ter seu primogênito diante de si, e ele não gostar de esportes,
querer seguir uma carreira diferente, ter um comportamento que ele não
compreende; para o filho mais novo, é duro perder a posição de filho único, ver
o recém-chegado ganhar tanta atenção e ainda fazer os pais infelizes.
Enfim,
acompanhar as consequências do roubo de uma criança na vida dos envolvidos é
uma jornada que exige fôlego, um drama que mistura alegria e tristeza, sonhos
destruídos e esperanças renovadas. Foi intenso, mas adorei a experiência.
Recomendo muito!
Nota:
4/5
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Sobre
a diretora:
Anna Muylaert é uma roteirista e
diretora natural de São Paulo, Brasil.
Formada pela Escola de Comunicação e Artes da USP, participou da equipe de
criação de programas de TV como “Mundo
da Lua”, “Castelo Rá-tim-bum” e “Um
menino muito maluquinho”. Também participou da elaboração dos roteiros da
série “Filhos do Carnaval” (HBO) e
do filme “O ano em que meus pais saíram
de férias”. Seu filme mais recente (embora lançado antes de “Mãe só há
uma”) é o multipremiado “Que horas ela
volta?”, que lhe rendeu um convite para integrar a Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
2 comentários:
Eu vi muita divulgação desse filme no Facebook mas não tinha ideia do que se tratava.
Um filme forte, pelo que vc disse. Agora eu quero ver.
bjs
Jeniffer,
Sim, é forte. Faz pensar em muitas coisas.
Bjo
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