Em
seu segundo ano de mandato, ao término do discurso de celebração do Dia da
Igualdade em Todos os Sentidos, a presidenta Viviana Sansón sofre um atentado e
acorda em um estranho galpão cheio de objetos que perdera ao longo da vida.
Enquanto ela tenta descobrir por que está ali, Eva, Martina, Rebeca, Ifigenia e
Juana de Arco, suas ministras e amigas de longa data, se desdobram para seguir
os planos de governo e lidar com a oposição na ausência da recém-eleita líder
do Partido da Esquerda Erótica.
A
história se passa no fictício e pequenino país latino-americano de Fáguas, que,
assim como seus vizinhos, sofre com a roubalheira e a impunidade por parte de
seus governantes, os quais, independente do partido, colecionam promessas não
cumpridas e descaso para com seus eleitores. Então, cansadas de serem terem
suas reivindicações ignoradas ano após ano, Viviana e suas amigas decidem se
lançar na política com propostas diferentes e inusitadas, como substituir o PIB
pelo índice de felicidade per capita e a introdução do conceito de cuidadã(o),
deixando o cuidado de crianças e a zeladoria dos bairros nas mãos de todos,
dividindo a responsabilidade de forma igualitária e educando para a liberdade.
O
plano de governo das eróticas era, de fato, inovador, mas elas contaram com uma
ajuda inesperada: a erupção do vulcão Mitre e a misteriosa queda de testosterona
dos homens de Fáguas. Assim, com o instinto combatente masculino adormecido, os
homens ficaram mais abertos a novas propostas, e o PEE foi eleito, enfatizando
em sua campanha características normalmente atribuídas a mulheres (e, portanto,
desvalorizadas) e assumindo um comportamento típico de mães para convencer seus eleitores.
“Por
isso fizemos este manifesto, para levar ao conhecimento de mulheres e homens
que já podem deixar de esperar pelo homem honrado e apostar agora em
nós, as mulheres do PEE (Partido da Esquerda Erótica). Somos de esquerda porque
acreditamos que um gancho de esquerda no queixo é o que merecem a pobreza, a
corrupção e o desastre deste país. Somos eróticas porque EROS significa vida,
que é o mais importante que temos, e porque nós, mulheres, não só estivemos
desde sempre encarregadas de gerá-la, mas também de mantê-la e protegê-la;
somos o PEE porque nada mais nos sustenta além do desejo de caminhar para
frente, de traçar um caminho ao andar e de avançar com aqueles que nos seguem.
Prometemos limpar este país, varrê-lo, esfregá-lo, sacudi-lo e lavar o lodo até
que brilhe em todo o seu esplendor. Prometemos deixá-lo reluzente e com cheiro
de roupa passada.”
Uma
das coisas que mais me agradaram no livro foi a campanha eleitoral das
eróticas, que abraçou todos os preconceitos e conceitos negativos (putas, loucas, feministas, comunistas) e
habilidades que supostamente são inatas às mulheres (limpar, cozinhar, cuidar
de crianças) e os transformou em bandeira, dando um caráter positivo a eles. A
seção de material publicitário é hilária e traz ótimas sacadas (como, por
exemplo: colocar na embalagem de aspirina os dizeres 'Acabe já com as dores de
cabeça – dê o primeiro passo e una-se ao PEE’; e dentro das fraldas o texto ‘O
país está mais cagado que seu filho - dê o primeiro passo e una-se ao PEE’) e se
aproveitar do uso de mulheres como objeto na publicidade para passar as
mensagens do partido concentradas nos peitos e bundas de modelos. A estratégia
de organizar falsas reuniões de Tupperware e falsos chás de bebês para passar
informações sobre o partido também me pareceu muito boa.
Com
muito humor, a autora consegue expor a nada engraçada realidade das mulheres
nas esferas profissional e doméstica e faz pensar não só nas desiguais
oportunidades entre os sexos, mas também em problemas recorrentes nos governos e
em soluções criativas para eles. Talvez as propostas revolucionárias do PEE só
sejam mesmo possíveis em um país de minúsculas dimensões como o fictício
Fáguas, que conta ainda com a sorte de ter um vulcão que inibe a testosterona e
com o utópico fim do celibato na Igreja Católica, mas não deixam de
proporcionar, ao menos, uma boa leitura.
Nota:
4/5
O livro será discutido no Leia Mulheres - SP no dia 22 de julho, sábado, às 16:00, no Centro Cultural São Paulo.
Um comentário:
Deve ser uma história curiosa!!
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