Adoro
fazer posts temáticos, principalmente de filmes. Desde julho não rola um ‘E o tema é...’ por aqui, então vou aproveitar que estou com tempo e que assisti a
alguns filminhos sul-coreanos nos últimos dias e vou fazer uma postagem
especial. Quem já está familiarizado com o estilo, se joga que é diversão na
certa. Quem não conhece, vale a pena dar uma conferida.
Medo
(Janghwa, Hongryeon; A tale of two sisters – 2003, Kim Jee Woon)
O
filme começa com duas irmãs voltando para casa depois de passarem um tempo
afastadas (não fica claro no início onde elas estavam). Quem as recebe é a
madrasta, daquelas típicas de contos de fadas: na frente do pai das garotas,
ela é um amor e se mostra atenciosa com as garotas; quando ele não está por
perto, ela é grossa e às vezes violenta com as meninas. Logo ficamos sabendo
que o afastamento das garotas da casa teve a ver com a morte da mãe delas, e
que esse trauma ainda está longe de ser curado. O que eu posso dizer sobre esse
filme é: preste atenção nos detalhes, em tudo, até naqueles que parecem
insignificantes, e desde a primeira cena. Embora com poucos minutos já dê para
notar que há algo de estranho naquela família, o mistério só é revelado bem no
finzinho do filme. A montagem toda irregular com inúmeras idas e voltas no
tempo fez meu cérebro travar às vezes, mas, relembrando as cenas depois que os
créditos subiram, deu para encaixar cada peça em seu devido lugar. E é aí que
está a genialidade do filme. Há uma refilmagem americana da história (que não
vi), certamente mais explicadinha e menos impactante. Tem outro filme do diretor ali nos
posts relacionados (‘Eu vi o diabo’).
Nota:
4/5
Invasão
zumbi (Busanhaeng; Train to Busan – 2016, Yeun Sang-Ho)
Este
é mais recente e tem sido um sucesso de crítica e público. É a história de um grande
executivo que é um pai relapso e que acha que tudo se resolve com dinheiro e
influência. No dia do aniversário da filha, ele precisa levá-la até Busan,
cidade onde mora a mãe da menina. Muito a contragosto, ele vai. Só que quando
eles já estão dentro do trem, ficam sabendo que está havendo uma epidemia de
zumbis e, o pior, alguns passageiros já estão infectados! Então pai e filha
precisam lutar para sobreviver em um ambiente fechado cheio de criaturas
sanguinárias e pessoas sadias que são mais odiosas que os pobres comedores de
cérebros. Achei muito bom e tão tenso que acabei de ver o filme com dor no
pescoço... hahaha. Vale muito a pena!
Nota:
4/5
The
Villainess (Aknyeo; The Villainess – 2017, Byeong-gil Jeong)
Este
é novíssimo e estreou no Festival de Cannes em maio deste ano. Mais um ótimo
exemplar de um subgênero que o pessoal da Coreia do Sul domina como ninguém:
histórias de vingança (hehe). Aqui temos uma moça que foi treinada para matar
desde criança (e que não brinca em serviço). Ela é capturada e forçada a
trabalhar para uma agência de inteligência sul-coreana por 10 anos. Depois de
cumprir as primeiras missões, ela é liberada para morar em um apartamento fora
das instalações de treinamento, e assim vai levando a vida: como uma mãe
solteira comum que tem um trabalho corriqueiro na maioria dos dias (mas que vez
ou outra é chamada para matar umas pessoas por aí). Só que numa dessas missões
ela reencontra um cara que já havia complicado seu passado, e então ela se dá
conta de que está realmente sozinha e que precisa acertar as contas com ele e
com a organização para quem trabalha. O grande diferencial do filme são as
cores fortes, os ângulos inusitados e a câmera que passeia com a protagonista,
dando ao espectador a visão que ela tem – a sequência inicial é arrasadora:
quase cinco minutos de matança num corredor com a câmera em primeira pessoa, seguidos por mais uns três minutos de pancadaria em outra sala. Me deu um certo
enjoo (porque sou dessas que enjoa com qualquer coisa), mas é uma abertura
realmente maravilhosa. Ah... mais um filminho que exige atenção para acompanhar
as idas e vindas no tempo.
Nota:
4/5
A
criada (Ah-ga-ssi; The handmaiden – 2016, Park Chan-wook)
Uma
moça pobre que decide participar de um golpe para melhorar de vida e vai trabalhar
como criada na casa de uma rica herdeira. As coisas, é claro, não saem bem como
planejado. Eu já tinha assistido (e falado aqui)
de ‘Falsas Aparências’ (Fingersmith), a versão da BBC para
o livro da escritora galesa Sarah Waters, mas decidi ver esse filme porque Park
Chan-wook é um dos meus diretores favoritos. Não me decepcionei. A transposição
da trama da Era Vitoriana para a década de 30 na Coreia do Sul inseriu novos
conflitos, e o teor erótico adicionado é bem encaixado. Sem dúvida, o diretor conseguiu
tornar a história mais sombria e, visualmente, mais bela. Mas não foi só isso
que mudou: as motivações das personagens e a forma como a relação entre elas é
mostrada dizem muito sobre o que importa para aquele que está atrás da câmera –
um exercício interessante observar a trama pela ótica de uma diretora e de um
diretor. De todo modo, um ótimo filme. Já postei aqui sobre alguns trabalhos
dele (embora não tenha escrito sobre sua famosa trilogia: 'Old Boy', 'Lady Vingança' e 'Mr. Vingança'), mas tem outros links ali embaixo.
Nota: 4/5
Mother - A busca pela verdade (Madeo; Mother –
2009, Bong Joon-ho)
Uma senhora cuida sozinha de seu filho que, embora já
tenha quase 30 anos, tem certa deficiência cognitiva, o que a deixa
constantemente em alerta.
Um dia, ele é preso, acusado de ter assassinado uma
adolescente. Desesperada, a mãe tenta provar a inocência do filho. Só que,
durante sua busca pela verdade, a mãe faz algumas descobertas perturbadoras e a
forma como ela lida com isso é que diferencia este filme de inúmeros outros que
têm como base a luta materna pare defender a cria. Esse filme estava no meu HD
fazia anos e adorei tê-lo encontrado agora. Até a metade da história, eu estava
achando tudo bem mediano e previsível, mas a segunda hora de projeção fez tudo
mudar de figura – e finalmente entendi por que o filme recebeu tantos elogios.
Drama dos bons.
Nota: 4/5
Bônus:
Okja (Okja – 2017, Bong Joon-ho)
O filme que causou polêmica por ter sido uma produção
da Netflix a concorrer à Palma de Ouro e/ou por incomodar pessoas ‘extremamente
ingênuas’ (para não usar um adjetivo ofensivo – aquelas que devem pensar que
hambúrgueres nascem em bandejas de isopor) ao mostrar, ainda que com ares de
aventura juvenil, a vergonhosa realidade da indústria da carne. Acho que a
película não é digna de todo esse alvoroço (por nenhum dos dois motivos), mas é
bacaninha, a porca digital é muito bem-feita e, se a história fizer alguém finalmente
começar a pensar no que come e como essa comida é produzida, então já merece
ser visto. [Nota: 3/5]. Só botei aqui porque é mais um trabalho do
diretor Bong Joon-ho, que tem outra coprodução internacional no
currículo (que também fala sobre a destruição do planeta causada pela
humanidade): ‘O expresso do amanhã’ [para esse dei nota 3,5/5]
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4 comentários:
Sangue para todo lado neste post, hein?? rsrs
Julia,
Opa! Espirrou aí? Rs...
'A criada' não tem tanto sangue. E tem o 'Okja' também (espera... tem sangue sim...hahaha).
Bjo
Gosto bastante do pouco que vi do cinema coreano. Dos filmes que você comentou, só vi "Mother" e gostei muito. Quero muito ver "Invasão Zumbi" e "A criada". Nunca tinha ouvido falar em "Medo" e fiquei curiosa, gosto de histórias sobre famílias misteriosas.
Lígia,
Medo é muito bom. Dá um nó no cérebro, mas é bem interessante, viu?
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