segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Desafio Literário 2012: Navegações e Regressos (Pablo Neruda)


Em “Navegações e Regressos”, Neruda explora o mundo, escrevendo sobre suas viagens (Brasil, Venezuela, China e, claro, seu retorno ao Chile), sentimentos, impressões e também sobre os animais (elefante, gato, andorinha) e até mesmo sobre objetos, sejam eles grandes (o piano, a mesa) ou pequenos (o prato, a pinça). Para Neruda, nada é insignificante a ponto de não merecer ser exaltado em uma ode.

Depois de encarar García Lorca, decidi que era o momento de conhecer Neruda. Este livro, em especial, só foi publicado em português recentemente, por meio da Coleção Folha Ibero-Americana. E, para minha surpresa, gostei muito mais desta experiência do que da anterior. O fato de o autor cantar as singularidades de animais e objetos me fez gostar muito mais destes poemas do que daqueles que tratam de temas mais clássicos e românticos.

Além disso, dá para perceber o tom de indignação de Neruda e todo o seu protesto em alguns dos poemas, como, por exemplo, em “O Barco”, do qual reproduzo um trecho a seguir:

“Mas se já pagamos nossas passagens neste mundo
por que, por que não nos deixam sentar e comer?
Queremos olhar as nuvens,
queremos tomar o sol e cheirar o sal,
francamente não se trata de incomodar ninguém,
é tão simples: somos passageiros”

E como não gostar de alguém que consegue transformar em poesia uma coisa tão pouco idílica quanto a batata frita?

Ode às Batatas Fritas

Crepita
no azeite
fervendo
a alegria
do mundo:
as batatas
fritas
entram
na frigideira
como nevadas
plumas
de cisne matutino
e saem
semidouradas pelo crepitante
âmbar das olivas.
O alho
lhes acrescenta
sua tenra fragrância,
a pimenta,
pólen que atravessou os recifes,
e
revestidas
de novo
com traje de marfim, enchem o prato
com sua repetição de sua abundância
e sua saborosa simplicidade da terra.

O que me fez pensar... Será que o Neruda escreveu essa ode com fome, sentado em um boteco daqueles bem sujinhos, com mesas de plástico e cheiro de gordura impregnando o local? Não sei, mas é exatamente isso que me veio à mente enquanto lia o poema. Pelo menos, desta vez, consegui me conectar totalmente com o poeta... rs

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Este post faz parte do Desafio Literário 2012 - Tema de Dezembro: PoesiaPara ver minha lista de livros selecionados e outras resenhas já postadas, CLIQUE AQUI.  

3 comentários:

Anônimo disse...

Michelle, poesia é maravilhoso, mas como você mesma descobriu, a gente tem que achar os poetas que tenham a ver com a gente, às vezes até com o momento da nossa vida isso muda totalmente, rs. Beijinho!

Jeferson Cardoso disse...

Bem, concordo. É forte o indício de que ele estivesse num botequim no ato da composição. Porém creio que, além da fome, o poeta tinha em si muitos aperitivos já sorvidos na espera das fritas. Só pode. Imagine você esperando uma porção de batatinha e vendo tudo o que o poeta viu! “º~º” [sorrio] E achei a ode um encanto por demais [e isso foi sério]. Michelle, a propósito, aceite meu convite e venha ver o texto de número 292 de minha literatura amadora. >>> HEMATÓFAGO no http://jefhcardoso.blogspot.com lhe espera. Abraço!

Michelle disse...

Lua,
Verdade. Não dá para colocar todos os poetas "no mesmo saco". Essa minha segunda leitura foi muito mais prazerosa. O negócio é seguir buscando, né?

Jeferson,
Hahaha... gostei dos "aperitivos".
Vou passar lá no seu blog e conhecer sua escrita. Tks pelo convite!