Catherine é uma mulher extrovertida e bem-sucedida,
que adora sair para beber com suas amigas e dançar. Cathy é uma mulher reservada e amedrontada, que tem TOC e síndrome
do pânico, e que luta diariamente para conseguir fazer coisas simples, como
sair para trabalhar. O que elas têm em comum? São a mesma pessoa. A
transformação de Catherine em Cathy tem um motivo: Lee.
Catherine
é uma garota do interior da Inglaterra, que sai de casa na época da faculdade, faz amigos, consegue um ótimo trabalho. Ela gosta de sair todas as noites para aproveitar tudo o que a vida
tem a oferecer. Numa dessas noitadas, conhece Lee, que trabalha como
segurança em uma boate. E ele é o cara que toda mulher sonha encontrar: lindo,
sedutor, divertido, educado, atencioso... perfeito.
Em
pouco tempo, Lee conquista não apenas Catherine, mas também todas as suas
amigas. Ela começa a se afastar da vida noturna, quer passar mais tempo em casa
com o amado. As amigas, claro, entendem, apoiam e secretamente invejam o
namoro. E é por isso que, algum tempo depois, quando elas reencontram
Catherine em uma festa, evidentemente mais magra e com alguns machucados, não
acreditam nas queixas da amiga sobre o comportamento violento de Lee. Afinal,
um cara tão maravilhoso assim não poderia ser capaz de tais atos, não é mesmo?
"O jeito dele - tão lindo, tranquilo e sereno; seu jeito ao sorrir para todos e se desculpar pelo atraso; o fato de ele ter, não sei como, arranjado tempo para comprar uma garrafa de Cristal para Sylvia e, para Maggie, um buquê de rosas brancas; e, acima de tudo, a maneira como as garotas haviam olhado para ele, abismadas, com uma espécie de veneração... E ali estava ele, sentado ao meu lado, dando atenção integral a Stevie, sua mão direita sob a mesa, na minha perna".
"O jeito dele - tão lindo, tranquilo e sereno; seu jeito ao sorrir para todos e se desculpar pelo atraso; o fato de ele ter, não sei como, arranjado tempo para comprar uma garrafa de Cristal para Sylvia e, para Maggie, um buquê de rosas brancas; e, acima de tudo, a maneira como as garotas haviam olhado para ele, abismadas, com uma espécie de veneração... E ali estava ele, sentado ao meu lado, dando atenção integral a Stevie, sua mão direita sob a mesa, na minha perna".
“No Escuro” é um livro muito
perturbador, que mostra de forma simples e envolvente a história de uma garota
que se apaixona por um homem violento, que vê seu sonho ruir, que sofre com o
descrédito das amigas, que aguenta toda forma de abuso e humilhação em
silêncio, procurando, em vão, uma forma de escapar. Quando atinge o fundo do
poço e parece que finalmente terá uma nova chance, ela tem que lidar com uma
nova realidade, tão ou mais difícil de suportar que os dias de tortura que
viveu com o agressor.
Embora
Lee esteja na cadeia e os dias de violência física tenham ficado para trás,
cada dia é um martírio para Cathy. Ao contrário dos machucados do corpo, os da
alma não se curam tão facilmente. Sofrendo de TOC e síndrome do pânico, Cathy passa
os dias fazendo e refazendo verificações, inventando caminhos para ir de casa
ao trabalho e vice-versa, está sempre com a sensação de estar sendo vigiada,
não consegue enfrentar multidões. Sua rotina é muito triste e angustiante. Só
de ler eu já ficava exausta.
"O tempo todo, noite e dia, meu cérebro gera imagens de coisas que aconteceram comigo e coisas que podem acontecer. É como assistir a um filme de terror repetidas vezes, sem nunca se tornar imune ao medo."
Elizabeth Haynes consegue, em seu
romance de estreia, criar uma história tensa e assustadoramente real, que
infelizmente se repete em várias partes do mundo todos os dias, e que na maioria
das vezes passa despercebida ou é intencionalmente ignorada por amigos,
parentes, vizinhos, médicos e pela própria polícia. A violência contra a mulher
é o tipo de crueldade que atinge todas as raças e classes sociais e que é
considerado “normal” ou “justificável” em certas ocasiões. No livro, dá para
entender um pouco mais como se dá o processo de domínio e controle da vítima
pelo agressor, embora, como a própria protagonista reconheça, seja impossível
explicar o que faz uma pessoa abusada continuar ao lado de seu algoz.
Com
uma estrutura que intercala a história de Catherine, passada em 2003, e a de
Cathy, em 2007, e que começa e termina com um julgamento, o livro prende a
atenção do início ao fim, e vai revelando aos poucos como uma história de amor
se transformou em uma trama de horror e violência. Mesmo com a fonte minúscula
utilizada, eu não conseguia parar de ler. Ultrapassava facilmente minha quota
de leitura de 50 páginas por noite.
A
única coisa que me incomodou um pouco foi o desfecho acelerado demais. Acho
que, com tanta ação ocorrendo nos últimos capítulos, a autora poderia ter se
estendido um pouco mais e detalhado melhor o julgamento final, por exemplo. A
impressão que eu tive é que o prazo para entrega do livro estava esgotando ou o
limite de páginas estava próximo de ser alcançado, então decidiram encerrar
logo a história.
Mesmo
assim, o final prematuro não é suficiente para apagar o brilho da história,
umas das intensas que li este ano. Sem sombra de dúvida, recomendo a todos que
gostam de uma trama bem elaborada e de uma boa dose de realidade de vez em
quando.
Ah...
uma curiosidade: o livro foi escrito em 2008, como parte do desafio Nanowrimo (www.nanowrimo.org), ou Mês Nacional da Escrita de Romances, em tradução livre. Para
quem quiser saber mais ou participar, o pessoal do ConversaCult tem uma tag atualizada constantemente que explica tudo direitinho AQUI.
Este
livro foi lido como parte da parceira com a Intrínseca.
13 comentários:
Muuuuito Legal, fui "apresetada" a esse livro hoje e dei aquela vontadezinha de ler... Mas você a aumetou em 100%! Parabéns!
Oi Michelle,
Realmente o livro parece ser incrível e isso é mais comum que se imagina.
Gostei, vai entrar para minha lista de desejados.
Como sempre, ótima resenha.
Parabéns,
Lua Lima
Oi Michelle!
Que livro forte, não? E sinceramente? Eu ADORO livros assim. Sempre me atraem, apesar de que depois eu fico com uma baita ressaca literária! :(
Mas mesmo assim, que incrível o enredo que a autora conseguiu construir! Estou fascinada!
E esses finais muito rápidos estão ficando cada vez mais constantes nos livros que tenho lido. To começando a ter a mesma opinião que você: prazo ou páginas acabando. Tenso.
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Dei um stop na gripe e vim ler e comentar a sua resenha.
J´tinha ouvido falar deste livro e fiquei intrigada com a história. Sou fascinada por histórias intensas e já li algumas que tratavam deste mesmo tema, e sempre que posso leio.
Gostei da idéia de intercalar os dois tempos da personagem, de modo que o leitor possa acompanhar a transformação da personagem e como ela vive depois de tudo.
Este é um dos livros que entrou na minha lista de futuras compras e leitura.
Como sempre sua resenha está um primor!
Beijos
Oi querida
So aumentou minha vontade de ler este livro!
Muito bom este post.
Tbe tenho esta sensação...livros que acabam de repente...
Beijao
Ágata,
Se tiver a chance de ler, leia mesmo!
Luana,
Que bom que gostou! Prende a atenção e te deixa tensa do início ao fim!
Luara,
A ressaca literária bateu forte. Fiquei uma semana olhando para a estante e para minhas listas de livros dos desafios e sem ânimo para encarar nada. Mas já me recuperei ;)
Eve,
Os dois tempos da vida da personagem foram uma ótima escolha. Deixou a história bem dinâmica.
Cláudia,
Ele não acabou de repente. Todas as pontas foram fechadas, mas os eventos das últimas páginas foram acelerados, como em último capítulo de novela, sabe? Mais ou menos essa sensação.
Pelo que pude perceber é um livro de tirar o fôlego, fui lendo a resenha e ficando assim...sem ar! Adoro um bom thriller psicologico, e esse com certeza está muito bem escrito, fiquei imaginando o desespero de Cathy pra fugir de Lee, muito angustiante! Parabéns pela resenha, me deixou muito ansiosa pela leitura desse livro, bjão!
esses thrillers que estão sendo lançados pela editora intrinseca parece um melhor que o outro... só que não gosto qdo o livro acaba rápido demais, isso me angustia... gosto qdo bem no finalzinho tudo se extenda pra que eu possa pegar cada detalhe, mas parece q isso nao acontece aq, mas quero ler c ctz. bjs
Adoro thrillers psicológicos.
No caso desse livro, que só li resenhas positivas, o fato da personagem sofrer com o TOC, acredito que uma sequela do seu sofrimento nessa relação doentia, só vem a enriquecer a história.
Quero muito acompanhar, porque, infelizmente, a violência doméstica é muito mais comum do que supomos.
Violência contra mulher ainda é um tabu, por mais que se discuta isso em mídias sociais e televisivas.
Eu realmente gostaria de ler ele e entender um pouco, eu nunca conheci, que eu saiba, alguém com esse problema.
triplobooks.blogspot.com.br/
Mi, fiquei bastante interessada em lê-lo, mas acho que será melhor lê-lo quando estiver numa fase mais up da vida, né?
Mega xêro, lindeza!
Paty
Gosto bastante de thrillers, adoro esse ritmo acelerado de histórias assim. E além disso discutir assuntos como violência feminina é um desafio não vejo muitos livros com essa temática , é legal serem lançados títulos assim porque muitas vezes abrem uma discussão sobre o assunto. Quero ler, anotada a dica!
bjos
Melissa Padilha
É a segunda resenha que eu leio desse livro e eu me sinto tão ansiosa pra lê-lo e ao mesmo tempo com tanto medo, afinal, esses assuntos são tão delicados... O próprio TOC e a síndrome do pânico, quanto mais a violência contra a mulher. Pretendo - e muito - lê-lo logo, mas acho que terei que suportar melhor tudo isso pra me envolver com essa história. Além do mais, não deve ser nada fácil ver que Cathy está sofrendo e as amigas não acreditam ou acham que não deve ser algo levado a sério, como se a culpa fosse dela ou algo do tipo, e esse tipo de machismo que com certeza fez com que ela ficasse ainda pior... Enfim, tô deduzindo, mas esse deve ser o tipo de história necessária e forte. E a capa é muito bonita! Ótima resenha!
Boa semana!
literallypitseleh.blogspot.com.br
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