“Minha
mãe e eu vivíamos em um chalé a cerca de meia hora da cidade. Não foi fácil
encontrar uma casa que satisfizesse a todas as nossas exigências: no campo, sem
vizinhos, com três quartos, jardins na frente e nos fundos. Um imóvel que fosse
antigo (precisava ter “personalidade”), mas ao mesmo tempo confortável – um
sistema de aquecimento moderno era essencial, pois detestávamos sentir frio.
Precisava ser silencioso. Precisava oferecer privacidade. Afinal, éramos ratos.
Não procurávamos um lar. Procurávamos um lugar onde pudéssemos nos esconder”.
(sinopse
da capa traseira)
A
narradora do livro é Shelley, uma
garota de 16 anos que carrega na alma e no corpo marcas da violência sofrida na
escola. Aliás, é o bullying, somado a
um divórcio problemático dos pais, que resulta na busca de um refúgio por parte de mãe
e filha. Embora ambas sejam inteligentíssimas e perfeitamente capazes de
cuidar de si mesmas, não o fazem, pois são mulheres amedrontadas, dóceis,
obedientes, ingênuas... são verdadeiros ratos.
Ainda que tenham consciência disso, não conseguem reagir e se impor, não sabem
o que fazer para controlar o medo.
A
mudança para o campo parecia, sem dúvida, a saída perfeita: um lugar calmo e
isolado, distante do caos da cidade grande, afastada das agressoras de Shelley,
longe o bastante das humilhações causadas pelo ex-marido de Elizabeth, a mãe. No pequeno
esconderijo chamado de lar, mãe e filha estabelecem uma nova rotina e tentam
reconstruir suas vidas. Tudo vai bem até que elas se vêm envolvidas em um novo
episódio de violência. E agora? Abaixar a cabeça e seguir ordens, rezando para
que tudo acabe logo ou juntar o que resta de dignidade e resistir, mesmo que
isso possa ter um desfecho trágico?
A
primeira coisa que chamou minha atenção na época do lançamento do livro foi a capa: uma entrada de toca de rato no
rodapé de uma parede manchada de sangue. A imagem por si só já é forte, e o
efeito é melhorado pela capa vazada no local da toca, o que cria realmente um
buraco. Lindíssima.
A capa
e a sinopse que eu copiei ali no parágrafo introdutório bastaram para me
convencer a ler o livro. Nem cheguei a conferir a contracapa, então não sabia
que a história tratava de bullying.
Para mim, foi uma surpresa. Apenas outras formas de violência haviam passado
pela minha cabeça. E elas realmente existem e são igualmente revoltantes, mas
não vou revelar mais que isso aqui.
A
narrativa em primeira pessoa de Shelley nos dá uma perspectiva interessante da
história, já que só sabemos o que aconteceu segundo ela e os relatos são permeados
de suas observações pessoais, críticas, medos e vontades. Mesmo assim, é praticamente impossível não se identificar
com as dores e angústias da protagonista, não torcer por ela e por sua mãe, não
desejar fazer justiça por meio delas.
O
fato é que o livro leva a reflexões importantes, como ‘o que diferencia
legítima defesa de ataque?’, ‘o que é justo e o que é justiça?’, ‘o Estado
consegue mesmo garantir a segurança dos seus cidadãos?’. O que dá para perceber
é que, quando a própria vida ou a vida de entes queridos está em jogo, até
mesmo ratos podem se transformar em ferozes leões.
Apesar
de ser um tema sério e de ter um clima tenso, o livro é fácil e rápido de ler e
prende a atenção até o fim. Eu, que geralmente não consigo ler mais que 50
páginas por vez, devorei as 238 páginas do livro em apenas 2 dias, tamanha a
curiosidade de saber como terminaria a história.
“Imaginei
se existia alguma relação misteriosa entre as mulheres e o sangue. Eu não
lidava com meu sangue desde que tinha doze anos, lavando-o de minhas mãos e de
minhas roupas? Era algo que os garotos desconheciam totalmente. Seria o sangue,
de alguma maneira, um domínio especial das mulheres? Por isso tantas mulheres
se tornavam enfermeiras? Lembrei-me das enfermeiras do hospital onde me
recuperara: mulheres que nunca desmaiavam ao ver sangue, não desviavam o olhar
nem faziam caretas, porque não lhes causava medo; o sangue era um velho
amigo".
Preciso dizer que recomendo muitíssimo?
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5 comentários:
Oi, Michelle! :)
Quando eu li o título do livro, não imaginei que se tratasse de bullying.
Pelo que deu pra perceber, é um livro forte e psicológico. Mas esse é um tema sério que, ao que parece, é discutido de maneira ampla no decorrer da trama.
A estrutura dele me fez lembrar, ligeiramente, de "Garotas de Vidro".
Bjs ;)
Oi Michelle!
Nossa há tempos que vejo esse livro vendendo e assim como você, a capa e o título sempre me chamaram muita atenção, mas ficava sempre na dúvida porque nunca tinha conhecido ninguém que tinha lido e nem tinha lido nenhuma resenha. Caramba perdi tempo a história parece muito boa !
Sua resenha me convenceu a lê-lo!
abraços
Melissa
Fiquei com muita, muita vontade de ler esse livro, Michelle.
Livros ou mesmo filmes que tratem da temática do bullying me deixam agoniada, com necessidade de entrar na história e mandar que parem com aquilo, dizer que o que aquele grupo está fazendo é errado...
Talvez eu não tenha nascido para ler romances psicológicos, mas já anotei Ratos na lista de desejos e se o ler em breve, te digo o que achei...
Beigos!
Wow... Adorei a sua resenha e já fiquei bastante curiosa acerca desse... Já vai pra lista dos que quero ler no skoob!! ;o)
Xerinhos, lindeza!
Paty
Ana,
Eu também não imaginava. Essa informação está na orelha interna, mas nem cheguei a ler essa parte antes de comprar. É tenso, viu?
E estou muito curiosa sobre "Garotas de vidro". Já li muitos elogios.
Melissa,
Eu me joguei. Acho que só tinha lido 1 resenha quando decidi comprar o livro. Não me arrependi.
Maura,
É bem angustiante. Dá raiva pela atitude dos agressores, pela apatia do agredido, pelas outras pessoas que percebem o que está acontecendo e não fazem nada... muito triste. Se tiver a chance, leia sim.
Paty,
Essa história desperta vários sentimentos. Nem todos eles bons, é verdade. Mas vale a pena.
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