segunda-feira, 15 de julho de 2013

Resenha: O Oceano no Fim do Caminho


Um homem de meia-idade retorna à região onde passou a infância para um funeral. Embora a casa não seja a mesma, o local o transporta para uma época difícil, trazendo à tona memórias há muito tempo adormecidas. Ao relembrar as experiências vividas ao lado de sua amiga Lettie, o narrador tenta descobrir o que aconteceu de fato e o que era apenas imaginação.

O narrador (que não tem nome) foi uma criança solitária, que só se sentia feliz ao viver aventuras nas páginas de um livro. Além dos amigos fictícios que fazia nessas histórias, ele contava apenas com seu gatinho de estimação. Problemas financeiros da família geram mudanças na rotina da casa, incluindo a chegada de um inquilino e de uma babá. Esses dois personagens dão início a uma série de eventos dolorosos para o garotinho de 7 anos. No entanto, é nesse momento complicado de sua vida que ele conhece Lettie, uma menina "estranha" e alguns anos mais velha que ele, que lhe mostra o valor da amizade e do sacrifício.

Em “O Oceano no Fim do Caminho”, uma criança se vê diante da dura realidade da vida e, para se proteger e amenizar sua dor, se refugia em suas fantasias. Revisitar suas lembranças e os locais de sua infância é também uma forma de buscar orientação sobre qual caminho seguir agora, em sua vida adulta, quando mais uma vez se sente perdido.

É muito complicado falar da história sem fazer revelações importantes. O ideal é mergulhar na trama com a cabeça aberta, embarcando com o menino em suas viagens, vendo as coisas por sua ótica infantil e entregando-se aos sentimentos. Racionalizar sobre o que se está lendo é perder o que o livro tem de mais bacana, que é a mistura entre real e imaginário.

Longe de ser objetiva, a história dá margem a diversas inferências e interpretações. Cada leitor coloca na narrativa um pouquinho de suas experiências. Ao terminar a leitura, fiquei me sentindo tão perdida quanto o narrador, pensando no que tinha acabado de ler. Ainda tem muita coisa que não entendo e talvez nunca compreenda. Acho que é assim mesmo. O mais legal tem sido conversar com outras pessoas que leram o livro e perceber outros pontos de vista, descobrir coisas que não tinham passado pela minha cabeça. É o tipo de história que assume um caráter pessoal para cada leitor e que se mostra diferente a cada releitura.

Quanto ao design, o livro tem uma capa lindíssima, condizente com o teor da história. A foto da contracapa, do próprio Gaiman quando criança, também é incrível e guarda algumas semelhanças com a casa de infância descrita pelo narrador. Faz pensar no quanto da história "real" de sua vida o autor pode ter usado para criar a trama. A fonte usada tem bom tamanho e torna a leitura agradável. Quanto à tradução, embora eu não tenha comparado o original em inglês com o texto em português, encontrei uma pequena falha que escapou à revisão e me incomodou: na página 109, o garoto está dizendo que vestiu o camisolão que tinha uma “toca branca” e que a "toca era grande demais”. Obviamente, a palavra correta seria "touca" nesse contexto.

Uma história delicada e apaixonante que merece ser lida por gente de todas as idades.


“Existem monstros de todos os formatos e tamanhos. Alguns deles são coisas que as pessoas têm medo. Alguns são coisas que se parecem com outras das quais as pessoas costumavam ter medo muito tempo atrás. Algumas vezes os monstros são as coisas das quais as pessoas deviam ter medo, mas não têm”.


Este livro foi lido como parte da parceira com a Intrínseca.


10 comentários:

Anônimo disse...

Ah, ainda não vi a contracapa do livro, li no kindle, vou procurar. Também achei que dá pra interpretar de mil maneiras algumas coisas do livro e isso deixa o livro mais legal, né? A capa é linda mesmo. =)
Beijos!

Sarah disse...

Quero muito ler esse livro. A capa realmente é linda, fiquei encantada pelo livro só de ver a capa! Mas putz, "toca" foi de lascar hein...
E vc hein, continua alimentando minha lista de livros seus que quero ler! Já sei, vou criar uma lista paralela de desejados só com os "desejados da Mi"!
bjos

Melissa Padilha disse...

Oi Michelle ! Estou terminando de ler esse livro agora, e só uma coisa resume o que estou sentindo: é de partir o coração! É um história emocionante, onde vc se depara com a dificuldade de uma criança de sobreviver emocionante em um mundo que deveria ser seu porto seguro, mas acaba sendo seu maior pesadelo ... é linda a história, mas me sinto melancólica a cada página.
bjos
Melissa

Claudia Leonardi disse...

Tbe quero ler este livro.
Fiquei curiosa.
Ah, adorei a forma nova da nota! Tbe quero mudar a minha.
Bjks, querida!

Nice disse...

Já estava com vontade de ler...agora fiquei apavorada...preciso ler imediatamente. Valeu Michelle. (preciso achar uma promoção pra comprar esse livro rapidinho)

Maura C. disse...

Outra resenha que me deixa encantada e com ainda mais vontade de ler esse livro, estou pensando seriamente em comprar a versão 'física', vou ver como estará meu cofrinho até o final do mês e adquiro o primeiro livro do Gaiman, o primeiro de muitos [espero, rs] (:

Beigos!

Tati disse...

Michele, que maravilha sua resenha, amei :)
Eu li em alguns lugares que o Gaiman falou ser fortemente autobiográfico esse livro, inclusive nos agradecimentos acho que ele dá essa ideia. Um dos méritos do livro para mim é esse, ele conseguiu rememorar o que ele sentia quando era criança e deixar isso claro enquanto escrevia.
Beijo enorme!

Anna disse...

Comecei a ler esse livro sem muita pretensão, sem criar nenhuma expectativa, já que seria o meu primeiro romance dele, né. Mas que pancada! Adorei, mergulhei nesse oceano de perdas e luta ferrenha pela superação de uma forma tal que até agora não sei nem como começar a falar dele... rs
E a sua resenha está show! ;)

Xerinhos, frõ!
Paty

Mi Müller disse...

Oi, xará!

Também adorei esse livro, amo Gaiman, é meu escritor predileto, e ele conseguiu me surpreender, mais uma vez.
Gostei do teu texto, foge do padrão das resenhas enlatadas fruto da divulgação em massa que a editora fez para o lançamento. A bem da verdade é que sempre adoro teus textos ;)
estrelinhas coloridas...

Michelle disse...

Lua,
Eu adorei essa "abertura" do livro. E a foto da contracapa é muito legal!

Sarah,
Pode criar a lista paralela. Assim eu também não esqueço de te emprestar nenhum ;)

Melissa,
É melancólico, mas é tão bonito, né?

Clau,
Obrigada! Seu nome já está na lista de empréstimos, viu?

Nice,
É encantador. Você vai gostar.

Maura,
Vale a pena! Se bem acho que esse livro tem tudo para entrar nessas promos em pouco tempo.

Tati,
Esse ponto autobiográfico me deixou apreensiva. Tem umas coisas muito fortes na história, né?

Paty,
Começou com o pé direito, hein? Mas também penei para escrever a resenha...rs

Mi,
Obrigada, xará! Eu li pouca coisa do Gaiman, mas todas foram ótimas experiências.