quarta-feira, 12 de março de 2014

Série: Contos do Edgar


A série de 5 episódios exibida pela Fox em 2013 é baseada em contos do escritor norte-americano Edgar Allan Poe, considerado um o inventor do gênero ‘ficção policial’. Na versão brasileira das histórias, o cenário é a cidade de São Paulo, que mostra seu lado mais sujo e assustador para combinar perfeitamente com o clima de suspense e mistério necessário. Venham comigo até a dedetizadora ‘Nunca Mais’ para conhecer o Edgar e suas narrativas de morte!

O começo da série é meio estranho e não revela muito sobre o tal do Edgar, que só aparece como protagonista no último episódio. Só o que sabemos é que ele trabalha na empresa de dedetização com o amigo Fortunato. A cada episódio, Edgar conta uma história macabra em que há mortes no final. Ah... sim, a morte sempre tem a ver com a personagem feminina que dá nome ao episódio (não, isso não é um spoiler, viu?).


Infelizmente, não consegui encontrar o terceiro episódio em lugar nenhum. Os outros quatro, assisti na ordem e depois fui ler os contos que serviram de inspiração. Foi muito bom ter optado por ver a série antes de ler os contos, já que não criei expectativas. Vou falar aqui separadamente de cada um, comparando conto e série.

1. Berê (inspirado em Berenice)
Berenice sonha em ser cantora, mas seus dentes feios impedem sua carreira de decolar. Seu primo, Cícero, que é apaixonado por ela, decide então pagar pelo tão sonhado e caro tratamento odontológico. Mesmo sem grana, ele não mede esforços para dar um novo sorriso à amada. Só que, em determinado momento, sua fixação pela prima (e por seus dentes novos) fazem com que ele cometa uma loucura.


[O conto]
No conto, Egeu é um rapaz doente e melancólico que se apaixona pela ágil e graciosa Berenice. Oriundo de uma rica família de visionários, ele era dotado de uma imensa capacidade contemplativa. Conseguia passar horas observando um mesmo objeto. Aos poucos, ele vai perdendo a noção do que é real e do que é imaginação e tudo se agrava quando, um dia, ele fica obcecado pelos dentes de Berenice.

> A inspiração: a obsessão, os dentes, o mal que acomete Berenice
Pontos positivos: gostei da ambientação em um boteco decadente, da ideia de Berenice ser cantora e precisar cuidar dos dentes para deslanchar na carreira
Pontos negativos: algumas cenas entre Berenice e Cícero foram longas demais

2. Priscila (inspirado em Metzengerstein)
Após a morte do pai, Fred Bernardes volta para casa a fim de assumir a oficina mecânica da família. Durante a arrumação do local, redescobre o antigo mural com a imagem de um motociclista na parede do fundo da loja. Reencontra Priscila, a filha de Guilherme Mendonça, dono da oficina mecânica em frente e que havia se tornado inimigo de seu pai por causa de uma moto roubada. Pouco tempo depois de Fred assumir os negócios, a oficina do rival pega fogo e a moto roubada reaparece misteriosamente. Priscila, então, deduz que Fred era responsável pelo incêndio e pela consequente morte de seu pai e jura vingança.


[O conto]
É a história de uma profecia húngara envolvendo os Berlifitzing e os Metzengerstein. Com a morte do Ministro G., quem assume os negócios dos Metzengerstein é o Barão Frederico, seu filho de 18 anos, que esbanja o dinheiro da família em festas e orgias e se mostra inescrupuloso e mesquinho. Um dia, o conde Guilherme, da família vizinha e rival, morre em um incêndio e, de sua estrebaria, sai um cavalo selvagem, que Frederico imediatamente toma para si. O animal roubado é a derrota do jovem barão.

> A inspiração: famílias rivais, maldição de um objeto roubado, incêndio
Pontos positivos: gostei de terem introduzido a religião de Guilherme como mais um ponto de conflito entre Fred e Priscila; adoro a parte do conto em que Frederico fica hipnotizado pela tapeçaria que mostra um cavalo que parece observar seus passos
Pontos negativos: é o episódio mais fraco, não gostei da atuação dos atores e achei o texto cheio de palavrões desnecessários (Vejam bem, não sou contra usar esse tipo de linguagem, mas ela tem que fazer sentido no contexto. Ali, pareciam palavras jogadas só para ‘causar impacto’)

4. Cecília (inspirado em A Máscara da Morte Rubra)
Dona de loja de antiguidades que enfrenta dificuldades financeiras aceita a sugestão da amiga de fazer uma festa de carnaval no estabelecimento para promover o negócio e aumentar as vendas. Uma noite, é atacada por um homem que usava uma misteriosa máscara rubra que estava em sua vitrine. Muito abalada, Cecília começa a ter pesadelos com o criminoso e com máscaras e desanima de fazer o baile de carnaval. No entanto, o saldo negativo de sua conta bancária a faz reconsiderar a opção. Durante a festa, sua alucinação leva a uma tragédia.


[O conto]
Em uma época em que todo o reino estava sendo devastado pela "morte rubra", uma doença epidêmica que matava o enfermo em meia hora, o Príncipe Próspero decide se proteger convidando 1000 pessoas entre amigos, nobres de suas terras e de reinos vizinhos que estivessem sadios para se trancar com ele em uma abadia. Para matar o tempo, Próspero decide fazer um baile de máscaras. No meio dos participantes mascarados, ele vê a 'morte rubra’ e o caos se instala.

> A inspiração: máscara assustadora, presença do malfeitor mascarado na festa, manchas na pele
Pontos positivos: é meu episódio preferido. O clima sombrio já toma conta desde o início e os pesadelos de Cecília são realmente angustiantes
Pontos negativos: nada que tenha me incomodado muito

5. Lenora (inspirado em O Barril de Amontillado / O Gato Preto)
Edgar sempre desconfiou que o amigo Fortunato tivesse ligação com o desaparecimento de sua esposa, Lenora. No carnaval, ele arma um plano para se vingar do falso amigo que gostava de se gabar de seu conhecimento de aguardente e o leva até seu bar lacrado pela vigilância sanitária, com a desculpa de buscar a última garrafa de Amontillada. Quando chegam lá, Edgar embebeda o amigo e dá início a um jogo de tortura, enquanto faz revelações assombrosas sobre sua relação com a esposa e com Plutão, o odiado gato preto de estimação.


[Os contos]
Em ‘O Barril de Amontillado’, Montresor narra sua vingança contra Fortunato, um amigo esnobe que adorava exibir seu vasto conhecimento de vinhos. Então, ele decide dar um fim àquele exibicionismo todo e atrai o outro até o porão com a desculpa de buscar o último barril de Amontillado.
Em 'O Gato Preto’ temos a história de um homem que sempre adorou os animais, mas que se afunda na bebedeira e se transforma e começa a detestá-los e a maltratá-los, chegando ao cúmulo de arrancar o olho do gato e enforcá-lo na árvore. No entanto, quando ele acha que havia se livrado do bichano, o gado reaparece, com seu olhar caolho e acusador.

> A inspiração: o amigo convencido e apreciador de bebida, a artimanha para se vingar do sabichão / o gato preto que não morre nunca
Pontos positivos: a parte do conto do Amontillado é bem fiel ao texto e achei sensacional terem misturado essa história com a do gato preto e ainda terem inventado um passado obscuro para o Edgar. Foi um ótimo final de série.
Pontos negativos: nada significativo

No geral, foi um programa mediano. A opção por revelar mais sobre Edgar só no último episódio gerou um ótimo desfecho, mas muita gente pode ter desistido de acompanhar a série. Gostei de ver o crescimento e a melhora das tramas e dos personagens. E não posso deixar de elogiar a grande sacada que foi trocar o corvo do Poe por um tradicional pombo cinzento, tão comum em nossas ruas. Para fãs do escritor, também é divertido pescar as referências e encontrar imagens do autor escondidas nos episódios (não consegui achar em todos, mas reparei em um cartaz do Poe grudado no poste no finzinho do episódio 2 e também observei um bibelô do bigodudo logo no início da história de Cecília).


Válido por tentar trazer a literatura clássica para as telas em uma minissérie nacional de suspense.


*Para quem se interessar, dá para assistir aos episódios pelo Youtube.
(E se alguém encontrar o terceiro, me avise, tá?)

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Outras séries nacionais de suspense: Mandrake (baseada nos livros de Rubem Fonseca e exibida na HBO), 9mm: São Paulo (policial exibida pela Fox), A Lei e o Crime (policial produzida pela Record) e a antiguinha As Noivas de Copacabana (suspense de serial killer produzida pela Globo nos anos 90 e reapresentada recentemente no Canal Viva).

Já viu alguma dessas ou tem alguma outra para sugerir? Fique à vontade para comentar!
Beijo e até+!

4 comentários:

Marijleite disse...

Ainda não vi e não conhecia essa série mas achei interessante. Todos tem algum ponto que me despertam a vontade de assisti-los.

petalasdeliberdade.blogspot.com

Anônimo disse...

Ui, acho que fiquei com medo...rsrs... Não sei se terei coragem de assistir, em especial aquele do baile de máscaras.

Michelle disse...

Marj,
Achei a ideia sensacional. A execução pecou em alguns aspectos, mas vale a pena dar uma chance.

Julia,
O das máscaras é muito aflitivo! :)

Ninhalu disse...

O terceiro é Íris...disponível agora na Netflix!