sexta-feira, 25 de julho de 2014

Resenha: O Andar do Bêbado


“O Andar do Bêbado” trata dos princípios que regem o acaso, de como foram desenvolvidos e como agem em diversos campos (política, negócios, medicina, economia, esportes e lazer). Misturando teoria e exemplos do cotidiano, o autor nos mostra como tomamos decisões e quais processos nos levam a julgamentos equivocados, bem como a fazer escolhas ruins diante da aleatoriedade / incerteza.

Definitivamente, esse é um livro que foge de tudo o que eu costumo ler. Sabem como é... a pessoa é formada em Letras e se limita às operações básicas com o auxílio de calculadora. Qualquer coisa envolvendo a área de exatas é imediatamente classificada como “não faço ideia e não me diz respeito”. Por que decidi ler esse livro então? Porque achei o título muito curioso e pedi o livro em uma troca anos atrás. Apesar do assunto completamente estranho para mim, fiquei intrigada. A oportunidade perfeita para resgatar o título que juntava poeira na prateleira surgiu com o tema do mês do Desafio Literário Skoob: Ler um livro que você normalmente não leria, que esteja há anos na fila de leitura ou que seja indicado por outro participante.

Conversa vai, conversa vem, recebi duas indicações: 1) Contos Fantásticos do Século XIX escolhidos por Italo Calvino (indicado por uma participante a quem eu disse que não costumo ler histórias de fantasia); e 2) O Andar do Bêbado, que eu vi na estante do Skoob de outra participante enquanto procurava algum título para indicar a ela para o desafio – comentei que também tinha esse livro fazia um bom tempo e então ela acabou me recomendando a leitura dessa obra. Comecei a ler o do Calvino e estava adorando, mas percebi que era o tipo de leitura que eu quero fazer com calma, explorando cada conto. Deixei de lado e peguei o segundo indicado.

De modo bem didático, o autor nos apresenta a grandes nomes das ciências exatas, como Cardano, Galileu e Pascal, entre outros, e a suas teorias e aos princípios e regras desenvolvidos graças a essas grandes mentes. A parte da explicação das regras é cansativa, mas o texto ganha leveza quando situações do dia a dia são usadas para demonstrar os conceitos. Por exemplo: o que acontece quando as estatísticas são erroneamente interpretadas na medicina, o erro da inversão e a falácia da acusação nos tribunais – usando o caso de O. J. Simpson para ilustrar o ponto, a supervalorização de medidas subjetivas como a classificação de vinhos, a receita para o sucesso baseada em habilidade + preparo + esforço + fatores aleatórios (a que chamamos de ‘sorte’ às vezes).

Um dos casos de exemplificação de que mais gostei foi o do iPod shuffle. Diz o autor que, pouco depois do lançamento do primeiro modelo da Apple, um monte de usuários escreveu para a empresa reclamando que o aparelho às vezes tocava duas músicas de uma mesma banda o que, na concepção deles, contrariava totalmente a ideia de aleatoriedade. Só que o princípio da aleatoriedade inclui repetições! A solução da empresa foi, então, alterar o programa para que o aleatório usado no dispositivo eliminasse essas repetições, o que torna a reprodução aleatória do aparelho não tão aleatória assim... rs.

No geral, foi uma leitura muito interessante e, se não melhorei meus conhecimentos de matemática, pelo menos fiquei sabendo um pouco mais de como o cérebro humano funciona, da nossa necessidade de determinar padrões e manter o controle das situações, de como a aleatoriedade incomoda e influencia até as decisões mais simples que tomamos. E não poderia haver um nome melhor para descrever o movimento aleatório que rege o mundo do que "o andar do bêbado". Simplesmente perfeito.

"A mente humana foi construída para identificar uma causa definida para cada acontecimento, podendo assim ter bastante dificuldade em aceitar a influência de fatores aleatórios ou não relacionados".


Para fãs de ciências exatas (ou não). Basta ser curioso.

Este post faz parte do Desafio Literário Skoob 2014 - Mês de Julho: Um Livro que Você Não Leria / Indicado por Outro Participante. Para ver a lista de obras selecionadas e outros posts do DLSkoob2014, clique AQUI. 

2 comentários:

Marília Barros disse...

Também tenho esse livro e ele está parado na estante há muito tempo... Não costumo ler não ficção, mas gosto bastante de matemática, embora seja mais curiosidade do que conhecimento em si. Acho que vou dar uma chance ao livro em breve. (:

Bia Machado disse...

Nunca imaginaria que esse era o assunto do livro. Baixei ele aqui para ler em e-book, mas confesso que não li a sinopse, só o livro e as indicações me deixaram curiosa, rs. Bjs!